Na Jamaica, René Simões não esquece da passagem vitoriosa pelo Coritiba

Desde a conquista do título da Segundona no ano passado, o técnico René Simões não responde mais pelo Coritiba, mas não deixa de pensar no clube do Alto da Glória. Mesmo na Jamaica. Atualmente preparando uma pré-temporada com os Reggae Boys no Brasil, que prevê sete jogos pelo País e até dois deles em Curitiba, mostra que a campanha do ano passado com o Alviverde foi mesmo marcante. A ponto de usar uma das tantas camisetas de incentivo criadas no ano passado, enquanto escreve um livro sobre a volta do Coxa para a 1.ª divisão. A cena apareceu numa reportagem da Rede Globo e orgulhou os torcedores, que gostaram do carinho como o treinador trata sua ex-equipe. Mas nem tudo foram flores e René conta à Tribuna que ainda espera pela premiação prometida pela diretoria passada.

Tribuna – Como foi a sua volta à Jamaica? A recepção parece ter sido a melhor possível.

René – A volta foi excelente, mais do que eu esperava. Depois de oito anos sem conseguir nada, eles me vêem como um Messias. Não gosto disso e tenho trabalhado a cabeça deles. Acredito que, melhor que um início triunfal, é uma chegada vencedora.

Tribuna – A estréia foi com empate em casa. Isso quer dizer que você vai ter muito trabalho dessa vez com a seleção jamaicana?

René – O jogo foi todo nosso, e demonstrou como vão ser difíceis as eliminatórias. A Costa Rica foi lá e se posicionou esperando o nosso erro. Acabou acontecendo e fizeram 1 a 0. Mas, nosso time ainda não tem a alma guerreira e a torcida que nunca abandona, mas vai chegar lá. Mesmo assim marcamos aos 47 do 2.º tempo.

Tribuna – O futebol jamaicano mudou alguma coisa desde a sua saída em 2000?

René – O futebol está mais organizado nos clubes. Pena que destruíram tudo o que construímos na federação. Agora é trabalho de rescaldo e começar tudo de novo.

Tribuna – Ao mesmo tempo em que você trabalha aí na seleção, escreve um livro sobre a conquista do Coritiba. Como está esse trabalho?

René – Meio prejudicado, pois só pego o livro quando chego em casa. Como diretor-técnico da federação, não tenho só a seleção principal, tenho todos os times e todo o futebol. Além disso, escrevo artigos sobre futebol para os jornais, sites e tenho que fazer reuniões constantes sobre tudo o que é pertinente ao futebol do país. Mas tenho curtido reviver a gloriosa caminhada ao título.

A idéia é que seja um livro-documento para que os coxas tenham algo para mostrar aos seus filhos. Principalmente falando do orgulho pela atuação brilhante e decisiva da torcida. A idéia é que seja acoplado um DVD com as imagens do jogo da ?Guerra do Arruda? e a chegada triunfal em Curitiba. Aliás, acho que deveria ser feito um documentário.

Tribuna – Quando será lançado o livro?

René – A idéia é lançá-lo antes do início do Campeonato Brasileiro, em Curitiba. Espero que dê tempo de terminá-lo. Estou escrevendo a parte da minha vida e do Coritiba em 2005 e 2006. Depois, falo da minha escolha pelo Coritiba e da minha decisão em aceitar. Aí vem o jogo a jogo, narrando o que aconteceu nos bastidores e treinamentos.

Tribuna – Você ainda acompanha o noticiário sobre o Coxa? Sabe o que está acontecendo aqui nesse início de temporada?

René – Acompanho tudo sobre o Coritiba, diariamente, aliás é a única coisa que faço, depois da Jamaica. Não fico preso ao Brasil, preciso viver a Jamaica e saber o que se passa no país, na política, na parte social, etc.

Tribuna – O início ruim do time na temporada fez muitos torcedores pedirem a sua volta, em mensagens na internet. Como você recebe esse tipo de pedido?

René – Se pudesse dar um conselho aos dirigentes, diria que deveriam mudar a data das eleições. Não é possível assumir um clube em janeiro e começar a planejar ou executar um plano nove dias antes do início de um campeonato. Eleições deveriam acontecer no final de outubro e posse no início de dezembro. Os dirigentes teriam um mês para contratações e acertos.

Tribuna – Na Jamaica a pressão em cima do treinador também é grande como é no Brasil?

René – Futebol é construído em cima de vitórias. Ninguém se associa a perdedores. Claro que existe cobrança lá. Mas, no meu caso, elas são mais moderadas, até pelo meu passado de feitos inéditos. Classificamos todas as seleções para as referidas Copas do Mundo. Só faltou a olímpica por causa de um gol de saldo para a Costa Rica.

Tribuna – Existe a possibilidade de uma volta? Quando poderia ser?

René – A Jamaica queria fazer um contrato ate 2014, não aceitei, fizemos até 2010. Não sei o que vai acontecer depois. Hoje, digo que minha idéia é sair da função de treinador, não quero ficar velho naquela cadeira. Mas, não largo o futebol. Devo fazer algo dentro dele, mas tenho bastante experiência acumulada pelos anos de Jamaica, Trinidad e Tobago e Irã na função de diretor-técnico, que não existe no Brasil. O diretor-técnico traça a filosofia de trabalho, planeja, manda executar, fiscaliza a execução, contrata treinadores, normatiza condutas, sugere ações à federação, instrui treinadores e outros profissionais (cursos) e é o elo entre os diversos órgãos de administração do futebol mundial.

Tribuna – Alguns jogadores dispensados, e até do atual elenco (veladamente), reclamaram que não receberam a premiação pelo título. O Coritiba ainda tem alguma pendência com você?

René – Essa questão do prêmio foi muito triste para mim. Passei um Natal sofrido ao pensar nos jogadores do Coritiba. Nos foi prometido, palavras foram empenhadas de que não sairíamos sem receber todos os salários e prêmios. Todos nós estávamos muito empenhados em retribuir o carinho da torcida, mas pensávamos muito nas nossas famílias. Foi duro saber que os jogadores não receberam e imaginar o que estariam pensando de mim, um mentiroso, aproveitador e contador de histórias para motivar o grupo através de falsas promessas. Aproveito para dizer e garantir aos atletas que, em momento algum, usei isso como motivação.

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