Mudança de atitude da galera é motivo de preocupação no Atlético

A atitude da torcida dentro da Arena da Baixada tem sido um dos assuntos mais comentados nesta semana, principalmente após a derrota vexatória do Atlético para o Goiás.

Nesse jogo, em especial, o público revelou uma face pouco conhecida e vista no estádio atleticano: a massa, em vez de incentivar durante todo o jogo para depois criticar, perdeu a paciência muito rápido e vaiou os jogadores.

Contra o Goiás, ocorreu uma inversão de valores, pois a equipe esmeraldina foi quem saiu aplaudida da Arena enquanto os atletas do Rubro-Negro foram xingados e tiveram que ouvir gritos de ?olé? no decorrer do jogo. A exceção ficou por conta da torcida organizada Os Fanáticos, que não parou de berrar pelo time sequer um minuto. Amanhã acontecerá um novo reencontro entre time e arquibancada e o próximo capítulo dessa controversa relação ainda será escrito. A novidade fica por conta de um novo protagonista no elenco atleticano: o delegado Antônio Lopes.

O preparador físico Walter Grassmann comentou, na última terça-feira, que o fato de a torcida enaltecer o adversário o chateou muito, porque a Arena da Baixada é a casa dos atleticanos e local onde a equipe tem que mostrar força. ?Fiquei chateado. No final da partida nossa própria torcida gritando contra a equipe. Ninguém quis perder de 3 a 0. Tá certo que não jogamos nada e reconhecemos. Mas foi um golpe muito duro, você

sentir que (torcedores) comemoraram o gol do Goiás. Erros aconteceram e serão corrigidos. Mas um pouco mais de consciência (por parte do público) é necessário para que juntos voltemos ao topo da tabela?, criticou Grassmann.

Promoção

Diante dos últimos tropeços no Caldeirão, a mídia esportiva também colocou em xeque a força da Arena, onde somente neste ano o Rubro-Negro perdeu 5 jogos (quatro deles nos últimos 50 dias – ver quadro acima) e pior, foi desclassificado do Estadual, pelo rival Paraná (que nunca havia vencido na Baixada) e da Copa do Brasil, pelo Fluminense, clube que sagrou-se campeão daquela competição.

No meio desse turbilhão, a diretoria tentou estreitar relação com a torcida, criando promoções para atrair novos e fiéis seguidores. Lançou o pacote ?Sócio Furacão?, mas a idéia não caiu no gosto do torcedor. Até o momento foram adquiridos pouco mais de 3.500 pacotes, um número ridículo diante do tamanho da torcida rubro-negra. Nem mesmo a permanência do ídolo Alex Mineiro foi suficiente para fomentar a compra de títulos. Os maiores públicos foram durante a Copa do Brasil, com a promoção que baixou o preço do ingresso.

O torcedor que tem comparecido aos jogos, em sua maioria, não adquiriu o pacote ?Sócio Furacão? e prefere pagar a entrada na bilheteria – R$ 30 nos setores atrás dos gols e R$ 40 na reta da Avenida Getúlio Vargas.

O jejum de títulos, um elenco mediano e a fraca campanha do time nesse início de Brasileiro ajudam a compor o quadro que revela a pouca procura pelo pacote ?Sócio Furacão? e também a baixa média de público na Arena.

Reatar

O jogo de estréia de Antônio Lopes no comando do Atlético pode ser o marco para uma nova fase na desgastada relação time e arquibancada. O Delegado sempre demonstrou grande carinho pela torcida e afirmou que em muitos casos ela foi responsável pelas vitórias atleticanas, mesmo o time rubro-negro apresentando qualidade técnica inferior ao adversário.

O Furacão necessita, no momento, do espírito de união. Mas cabe ao torcedor acreditar na nova aposta do clube e pagar para ver.

Jornalistas e torcedores tentam explicar o que acontece na Arena

Fábio Alexandre
O bancário Jean Carlos acredita que o aumento no preço dos ingressos foi decisivo na mudança de atitude da torcida.

O que mudou entre os freqüentadores da Arena para deixá-la mais ?fria? em relação ao time, se é que isso aconteceu? Por que o torcedor se tornou mais crítico do que incentivador? Com o novo estádio atleticano também emergiu o novo torcedor rubro-negro? As respostas são dadas por quem está diariamente ligado ao clube e trabalha em diversos meios de comunicação e pelo próprio torcedor.

A torcida do Atlético está ficando bastante exigente porque o time vem conseguindo obter resultados nos últimos anos (título e vice Brasileiro e vice Libertadores). A estrutura montada pelo clube não interfere no comportamento da torcida. Acho que tem mais a ver com as conquistas dentro de campo. Quanto mais títulos o clube ganhar e campeonatos disputar, o torcedor vai ficar mais exigente. Daí não admite ver jogadores que não mostrem em campo o futebol que ele quer ver. A torcida do Atlético gosta de ver jogador pegador, estilo Marcão, por exemplo, que tem raça.

(Osmar Antônio, Rádio Banda B)

Quem freqüenta a Baixada há muitos anos percebeu uma mudança radical no comportamento de parte da torcida. Aqueles fanáticos vibrantes, que apoiam o time do início ao fim, já foram a maioria no estádio, mas hoje são uma minoria. Com o aumento radical do preço dos ingressos, o povão tem cada vez mais dificuldades para ir à Arena. Hoje, o local é dominado por um público de maior poder aquisitivo. Claro que nem todos os ?riquinhos? são chatos e arrogantes, porém a Baixada se tornou ?point? de ?playboys?, ?fernandinhos? e ?burguesinhos?. E eles vaiam o time do início ao fim. Só vibram depois do gol. Os gritos entusiasmados de apoio ao Atlético – que a diretoria usa e abusa nos seus comerciais – estão se tornando peça de museu.

(Silvio Rauth Filho, jornalista, Jornal do Estado)

Acredito que mudou o perfil da torcida atleticana sim.

A torcida tornou-se menos paciente e isso ficou claro no jogo contra o Goiás, quando o gol adversário foi comemorado. Anos atrás uma atitude dessas seria impensável para o torcedor atleticano. Mas o que motivou isso é difícil analisar. A resposta mais fácil seria atribuir ao aumento do preço do ingresso, porém não tenho convicção para defender apenas esse motivo.

(Marçal Justen – advogado e colunista do site Furacao.com)

O torcedor não é mais o mesmo. Antes era um torcedor mais apaixonado. Hoje eles está mais seletista e exigente.

O preço dos ingresso afastou camada pouco privilegiada e isso afetou a torcida. A união e a representatividade de torcedores mais pobres ou mais ricos davam mais força à torcida. Hoje há uma setorização e os mais privilegiados vaiam bastante. A torcida ficou um pouco mais fria. O ingresso alto também impossibilitou a presença de famílias no estádio, pois o pai não pode levar a mulher e filhos, fica muito caro. Quem perde com isso é o Atlético.

(Juliano Rodrigues – vice-presidente da torcida Os Fanáticos)

Torcida tá mais exigente. Com o aumento do preço do ingresso ficou mais elitizado. Aquele negócio de caldeirão acabou, a torcida é mais quieta e cobra mais. Tá mais frio. Ficou uma torcida normal.

(Jean Carlos – bancário)

Acredito que com os preços que são cobrados, elitizou a Arena. Poderia ser um preço mais popular, principalmente porque é uma torcida que sempre está presente no estádio. O grande problema da torcida em relação ao time, se está fria ou não, é por causa do rendimento dos atletas dentro de campo. A torcida do Atlético sempre apoia o clube e é, na verdade, quem paga os jogadores. Tem toda a razão de cobrar.

(Cícero Martins – comerciante)

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