Moura se afasta da presidência da FPF

Até agosto, Onaireves Moura está fora da  Federação Paranaense de Futebol. No mesmo dia em que foi alvo de graves denúncias por parte do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o presidente da FPF pediu afastamento do cargo por 90 dias.

Com o licenciamento, o cartola antecipa-se a uma provável – e longa – suspensão. Na próxima quarta-feira, a 3.ª Comissão Disciplinar do STJD julga Moura, quatro subordinados (Laércio Polanski, Cirus Itiberê da Cunha, Marco Aurélio Rodrigues e Carlos Roberto de Oliveira) e a própria da FPF pela infração a quatro artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Entre as denúncias, protocoladas ontem pelo procurador-geral do tribunal, Paulo Schmitt, estão os equivalentes desportivos aos crimes de concussão (corrupção praticada por funcionário ou dirigente de órgão administrativo), falsificação de documento e prevaricação. Se condenado, Moura pode pegar até 10 anos de suspensão.

O inquérito promovido pelo STJD identificou um ?esquema?, como define Schmitt, envolvendo a empresa Comfiar, ligada a Moura. Por lei, a FPF deve receber 5% da renda de todas as partidas realizadas no Estado, mas segundo o STJD apenas metade deste valor chegava aos cofres da entidade. Os outros 2,5% eram desviados para a Comfiar e tinham fim desconhecido. ?Os borderôs da FPF eram adulterados, numa tentativa de encobrir a fraude?, afirma Schmitt, acrescentando que os documentos que caracterizam as infrações foram anexados ao processo. O total desviado seria de cerca de R$ 1,5 milhão. O inquérito foi baseado em representação apresentada pelo Atlético.

Outra irregularidade apontada pelo STJD é a sonegação da taxa destinada à Federação das Associações de Atletas Profissionais (Faap).

O artigo 58 do Regulamento Geral das Competições da CBF determina o recolhimento de 1% da renda bruta dos jogos de competições nacionais em benefício da Faap. ?O valor era deduzido das rendas, mas jamais foi repassado pela FPF. O desvio lesou os clubes e ultrapassou R$ 1 milhão?, falou Schmitt.

Num terceiro processo, Moura e o diretor de registros da FPF, Rui Ribeiro, são enquadrados por manifestação desrespeitosa, por causa de charge publicada no site da FPF em que o STJD dá uma ?tapetada? no leão simbolizando o Rio Brando de Paranaguá, e por atribuição de fato inverídico, quando a Federação disse ter enviado um contrato (do jogador Paulo Massaro, do Rio Branco) que jamais chegou à CBF. Somadas, as infrações podem acarretar em suspensão de mais três anos aos denunciados.

Defesa com ataque ao procurador

Onaireve Moura retruca a ação do STJD acusando Paulo Schmitt de ter sido afastado da Paraná Esportes, autarquia do governo do Estado, por denúncias de corrupção envolvendo a empresa dele,

a Praxis. E disse que o procurador-geral do STJD ?tem muito a explicar? sobre os casos da classificação do Engenheiro Beltrão para a Divisão de Acesso paranaense e a eliminação do Rio Branco da Copa do Brasil – os detalhes, segundo Moura, serão apresentados no tribunal.

Sobre as denúncias envolvendo a Comfiar, garantiu que a contabilidade da empresa é fiscalizada pelos clubes filiados à FPF. ?Vou mostrar onde foram aplicados os valores da Comfiar?, disse Moura.

Enquanto o cartola estiver afastado, a FPF será comandada pelo vice Jorge Dib Sobrinho. Mesmo assim, Moura promete apresentar na próxima terça-feira o projeto definitivo no novo Pinheirão, candidato à Copa de 2014. ?Sofri muitas humilhações na minha vida. Depois destes 90 dias, vou voltar, ainda mais forte?, disse, entre lágrimas.

Estopim da guerra é a subsede pra Copa

O pano de fundo das denúncias envolvendo STJD, FPF e Atlético é a guerra pela definição da subsede paranaense na Copa do Mundo de 2014. O lobby pesado envolvendo o estádio a ser indicado pelo governo do Estado a concorrer ao Mundial – e todo o investimento financeiro atrelado à escolha – chegou ontem aos ataques pessoais.

Ne mesma entrevista coletiva em que anunciou o afastamento por 90 dias da FPF, Onaireves Moura detonou um arsenal de acusações contra seu maior desafeto no futebol e adversário do Pinheirão na briga pela Copa 2014: Mário Celso Petraglia. Em tom raivoso, Moura apresentou uma espécie de dossiê, segundo ele protocolado na Promotoria de Defesa do Consumidor do Paraná e encaminhado à Secretaria Estadual de Segurança Pública, em que detona várias denúncias contra o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético.

A principal acusação é o superfaturamento na compra de 21 mil cadeiras para a Kyocera Arena. O dossiê, assinado por Moura e por Silvestre Irineu Ferreira na qualidade de ?torcedores? atleticanos, diz que o clube pagou R$ 4 milhões pelas cadeiras à empresa Kango Brasil Equipamentos Esportivos Ltda, que teria o mesmo endereço do escritório pessoal de Petraglia e da empresa All Solution Gestão Empresarial Ltda, cujos sócios seriam o dirigente atleticano e a esposa Eliane. Como comparação, o documento cita que na mesma época o Coritiba instalou 15 mil cadeiras a um preço de R$ 180 mil e a FPF colocou outras 17 mil cadeiras no Pinheirão por R$ 228 mil.

Moura diz ainda que, entre 2003 e 2007, o Atlético adulterou em seus borderôs o valor dos ingressos vendidos aos sócios, reduzindo-os de R$ 20 para R$ 5. ?Por borderô, cerca de R$ 45 mil sofrem destinação desconhecida, acarretando prejuízo ao Fisco (INSS), à FPF (…) e indiretamente fraude contra credores?, diz trecho do documento.

Outra denúncia envolve a empresa Kopa, montada para tratar de assuntos relativos à Copa do Mundo de 2014, que segundo Moura seria gerenciada pelo genro de Petraglia, Luiz Carlos Volpato.

Moura ainda questiona a regularidade fiscal de Petraglia e suas empresas, a falta de investimento do clube em relação aos ganhos publicados no balanço financeiro e acusa Petraglia de ser empresário de jogadores, sem repassar o ganhos ao clube.

Segundo o advogado que assessora Moura na petição, Eliezer Queiroz, as denúncias foram baseadas em consultas a sites dos envolvidos, matérias publicadas pela imprensa e dados da própria FPF. ?Nosso objetivo é levar esses fatos ao conhecimento da torcida e esperar que as autoridades tomem as devidas providências?, disse o advogado. ?Falta de arrecadação não existe, o que ocorre são desmandos do senhor Petraglia, que de forma arbitrária conduz os negócios do clube?, diz trecho da petição.

Enquanto apresentava as denúncias, Moura destilava seu veneno contra o inimigo. ?Não uso mulher e filho para fazer negócio. A Copa do Mundo na Arena será benéfica somente à família Petraglia?, detonou o presidente licenciado da FPF.

Não convidem esses dois senhores pra mesma mesa

Através do diretor de comunicação Mauro Holzmann, o Atlético informou apenas ?que não teve oficialmente conhecimento do teor das acusações, e quando o tiver apresentará seu posicionamento no momento oportuno?.

Até o fechamento desta edição o endereço eletrônico do clube também não tratava do assunto. Hoje na Baixada, o movimento pela ?Arena Kyocera 2014? deverá engrossar o repúdio às manifestações do dirigente da FPF.

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