"Neste momento, saio do cenário do futebol paranaense". A frase de Onaireves Moura na entrevista coletiva concedida ontem (e que teve um tom de desabafo) é forte, mas não é conclusiva – o contrário do que parece.
O presidente da Federação Paranaense de Futebol afirmou que vai ficar afastado da função até que sua inocência seja comprovada. E chegou a usar uma famosa personagem das novelas para tentar se fazer entender.
"Eu sou a Bia Falcão. Ela teve um acidente de carro, desapareceu da novela e agora vai voltar. Eu também. Não sei se ela vai voltar como bandida ou mocinha. Mas eu vou voltar como mocinho. Não vou voltar como bandido", disse Moura, aproveitando a personagem de Fernanda Montenegro na novela Belíssima, da TV Globo. Esta ?metáfora? foi usada inicialmente em uma reunião fechada com os funcionários, mas acabou se tornando o mote de seu desabafo ontem.
Onaireves Moura pediu nova licença da entidade. "Eu preciso me recuperar, preciso tratar da minha saúde. E também tenho que provar que não tenho nada a ver com os bingos de Ponta Grossa", comentou o dirigente, que entregou aos jornalistas 46 folhas com documentos que comprovariam sua inocência no caso. O presidente da FPF confirmou que era o procurador de seus filhos na primeira sociedade do Bingo Campos Gerais, mas que todos os impostos foram pagos. "Depois, meus filhos saíram da sociedade. Até sugeri que eles ficassem, mas eles não quiseram. E nesta segunda fase também não houve atraso no pagamento dos impostos", garantiu o dirigente. Ele não quis fazer críticas à seqüência do processo ("Não estou em condições psicológicas para falar disso").
O presidente da Federação disse que a licença que ele irá tirar deve ser renovada enquanto não há uma definição sobre o caso. "Vou retornar quando ficar patente que aconteceu um engano", disse Moura, que deixou em aberto o tempo que poderá ficar afastado da FPF. No entanto, ele afirmou que não aguardará o julgamento do processo. "Podem estar armando uma tramóia. E há formas de se comprovar a situação. O Conselho de Contribuintes está apreciando o caso, o promotor também, a juíza também".
Moura estava visivelmente abatido ("Eu perdi 32 quilos na prisão"), emocionado e irritado. Chegou a reclamar com veemência de jornalistas e impediu fotógrafos de registrarem a reunião da diretoria da FPF. Na coletiva, chorou quando falou que está "valorizando as pequenas coisas". "Eu vivo há vinte e dois anos no futebol, não ganhei nada sendo presidente da federação", disse o presidente, que citou familiares por diversas vezes.
Se não fala em quando vai voltar (ou se vai voltar), Onaireves Moura afirmou que não pensa em renunciar – e que tem o apoio dos clubes e da CBF. "Recebi a visita do vice-presidente da CBF Emídio Perondi, que me passou uma mensagem do Ricardo Teixeira. O presidente afirmou que está comigo em qualquer situação", disse o dirigente, que pretende ser o protagonista do seu "último capítulo".
Pinheirão pode ser vendido
Além de apresentar sua defesa e anunciar nova licença, Onaireves Moura usou a ?entrevista-desabafo? de ontem para dizer que podem ser mudados os planos da Federação Paranaense de Futebol sobre o Pinheirão. O presidente da entidade não descartou a possibilidade de vender parte do terreno do estádio, ou mesmo devolver todo o espaço para a Prefeitura de Curitiba – que doou o terreno há mais de trinta anos.
Moura reclamou do ?abandono? do estádio pelos clubes da capital. ?Quando decidimos construir o estádio, era para dar uma opção para Atlético, Coritiba e Paraná. Agora o Coritiba não quer saber do estádio, o Atlético
não quer saber do estádio e o Paraná também não quer saber do estádio. Então, temos que pensar o que vamos fazer com o Pinheirão?, disse o presidente licenciado da FPF.
Ele disse que vai conversar com o prefeito Beto Richa sobre uma possível devolução do terreno. ?A Prefeitura pode usar o terreno e o estádio para práticas esportivas. No Pinheirão está a única pista de atletismo oficial do Paraná?, comentou o dirigente.
Caso isto não aconteça, Moura afirmou que vai propor a venda de parte do terreno. ?São 550 metros de frente
para a Avenida Victor Ferreira do Amaral, quase cinqüenta mil metros quadrados de área. O espaço pode se transformar em um supermercado ou um shopping. Mas não posso fazer isso sozinho, vou propor a realização de uma Assembléia Geral Extraordinária para discutir o assunto?, disse. ?Se vendermos o terreno, vamos ter dinheiro para pagar o INSS, o IPTU e ainda vai sobrar muito dinheiro?, resumiu Moura.
Paranaense
O presidente licenciado da FPF informou ontem que o Campeonato Paranaense de 2007 vai começar em outubro, com uma eliminatória. ?Vamos incluir os times que não estarão em ação nos campeonatos nacionais?, disse Onaireves Moura, que também anunciou a inclusão de mais duas equipes vindas da Divisão de Acesso – além do campeão e do vice da competição, ?subirão? os dois times com as melhores arrecadações.
O critério, em tese, infringe o Estatuto do Torcedor.