Morte súbita vira tema olímpico

Brasília – As Olimpíadas de Atenas, na Grécia, que serão realizadas em agosto, vão ter um novo enfoque além dos resultados, recordes e medalhas. Será com a saúde e a vida. A preocupação com o tema vem aumentando por causa da síndrome da morte súbita. No Brasil são 280 mil mortes súbitas por ano e, nos EUA, 300 mil.

As últimas mortes de jogadores de futebol, por problemas cardíacos, está causando grande apreensão em todo o mundo e provocando uma revolução junto às autoridades da medicina e desporto. Por isso, o foco da Olimpíada da Grécia será a saúde, a vida e a formação física infantil. O ortopedista brasiliense Francisco Sérgio dos Santos, especializado em medicina esportiva e integrante do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), participou, na última semana, de um congresso em Atenas, onde o assunto foi amplamente discutido.

De acordo com Francisco a atenção dos especialistas foi despertada com a morte do húngaro Miklos Feher em janeiro. Jogador do Benfica, Feher, com apenas 24 anos, caiu no campo onde seu time enfrentava o Vitória de Guimarães. Eram 45 minutos do segundo tempo e a queda foi fatal. Embora a divulgação oficial da morte do atleta tenha sido feita somente por volta de 21h, ele já saiu morto do Estádio Municipal de Guimarães.

Dois dias depois, na Suécia, Kaevling Gif, um jogador amador de 30 anos de anos de idade, morreu durante o aquecimento. Menos de uma semana mais tarde, na Espanha, o zagueiro argentino Maurício Pellegrino perdeu os sentidos aos 40 minutos da partida entre Valência e Málaga. Os médicos do Valência, atestaram que ele sofreu uma síncope leve.

Isso sem contar o caso do camaronês Marc-Vivien Foe que chocou o mundo, e foi vista pela televisão em todo o planeta durante a última Copa das Confederações, durante a semifinal da competição, entre sua seleção e a Colômbia. Ele estava completando 10 anos na equipe do seu país.

O médico do COB lembra que essas tragédias apenas chamaram a atenção da imprensa, mas o problema é grave no mundo todo. Ele lembra que as 280 mil mortes súbitas do Brasil são um número geral, “pois de atletas ainda não temos uma estatística”.

Preocupado, Santos tem feito levantamentos sobre as condições clínicas das pessoas antes de liberá-las para atividades esportivas. No ano passado, juntamente com um cardiologista, Francisco Sérgio fez um levantamento e a conclusão foi de que 70% dos freqüentadores de academias de ginástica e das tradicionais peladas de fins de semana apresentavam problemas cardíacos. “Nossa preocupação, e dos comitês olímpicos Brasileiro e Internacional, não é mais com os atletas de alto nível, mas com a formação das crianças. Elas, num futuro próximo, estão sujeitas a acidentes fatais, por falta de um cuidado anterior”, afirma.

Um dos maiores problemas atualmente, como destaca Francisco Sérgio, é que clubes e academias contratam fisioterapeutas, “que são uma mão-de-obra mais barata, e não médicos especialistas em esporte. Nesta área, não basta o médico ser ortopedista, é preciso ter um conhecimento geral da medicina. Na Europa, isto está sendo repensado em profundidade, pois as mortes dos jogadores causaram pânico. Pode acontecer com qualquer pessoa”.

Além disso, ele destaca a falta de equipamentos médicos nos estádios e academias. “Todos os cassinos de Dallas (EUA) têm equipamentos sofisticados de primeiros socorros, como de ressucitar quem sofreu um ataque do coração, por exemplo. Caso isso fosse comum nos estádios, as mortes destes jogadores poderiam ter sido evitadas”.

O médico também destaca que o Estatuto do Torcedor, no Brasil, faz esta exigência. Porém, nas vistorias em que participou no ano passado, ele ficou impressionado com o descaso sobre o assunto. “Apenas no Olímpico, do Grêmio (RS), e no Morumbi, do São Paulo, vimos esta regra cumprida. Nos demais estádios, as ambulâncias ficam atrás do gol apenas como propaganda, para serem mostradas na televisão”, lamenta.

Nas Olimpíadas de Atenas, segundo Francisco Sérgio, a preocupação será de despertar a consciência de pais, professores e dirigentes de clubes para uma orientação saudável com relação à atividade física. “O esporte tem grandes vantagens, mas pode ser péssimo, fatal quando mal praticado”.

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