Ele chegou com pompa, fama e discurso pouco modesto. Mas Navarro Montoya, 40 anos, terá que se render à grande fase de um jovem com idade para ser seu filho. Prestes a ser liberado para jogar pela CBF, o colombiano naturalizado argentino vai figurar como mera opção para a reserva de Cléber, mantido como titular da meta atleticana.
A polêmica reinou no CT do Caju em junho, quando o Atlético anunciou a contratação do argentino. Cléber, que havia se firmado como titular sob o comando de Givanildo de Oliveira, reagiu com indignação e classificava de ?sacanagem? a hipótese de perder a posição para o veterano. O próprio Givanildo ameaçou pedir o boné caso fosse obrigado a escalar o gringo.
A concorrência, porém, parece ter impulsionado o goleiro nascido em Palmital, centro-oeste do Paraná. Cléber tem sido o maior destaque do time na fase pós-Copa do Mundo. E parece ter transferido ao novo comandante a confiança que dispunha de Givanildo. ?O Montoya é gente boa e veio para jogar, mas não posso perder o momento do menino. O Cléber está pegando tudo?, disse ontem o técnico Vadão, confirmando que mantém o camisa 1 para o jogo contra o Corinthians e que não pretende fazer rodízio na posição – no máximo, o revezamento pode ser usado no banco de reservas. ?A situação pode mudar para o Vadão.
Meu trabalho segue da mesma forma?, disse Cléber, sobre a inscrição oficial do argentino.
Montoya terá condição legal de jogo a partir de amanhã, quando a CBF libera a inscrição de jogadores oriundos do exterior (mesmo caso do zagueiro César e do lateral Michel). E garante que vai brigar para entrar no time. ?Vadão ainda não falou comigo. Vim para colaborar com o Atlético e, como todos os jogadores, espero ser titular?, disse o argentino, ao ser informado sobre a escalação antecipada de Cléber.
Montoya
O principal argumento de Montoya, conhecido na Argentina como ?El Mono? (?Macaco?), é a trajetória pontuada de superlativos.
Ele soma quase 800 jogos disputados em 22 anos de carreira, sempre em clubes da 1.ª Divisão (na Argentina e na Espanha). Quando estreou pelo Vélez Sarsfield, em abril de 1984, Cléber era um bebê de um ano e oito meses.
?É normal, já estou acostumado. Joguei com vários atletas que nem haviam nascido quando comecei minha carreira profissional?, lembra.
Montoya gosta de alardear uma enquete feita pela imprensa de seu país que o considerou um dos quatro maiores goleiros argentinos de todos os tempos. Em sua apresentação no Atlético, disse que se sentia em condições de defender a seleção argentina na Copa de 2006 – sempre lamentando ter atuado pela seleção da Colômbia em três partidas das eliminatórias da Copa de 1986, que lhe tiraram a chance de defender o país onde construiu a carreira.
E desdenha de quem cita sua idade como empecilho ou pergunta sobre a aposentadoria. ?Ainda tenho muitos anos para mostrar meu trabalho. Fui titular em todos os clubes em que passei e espero repetir isso no Atlético?, dispara, prometendo uma briga boa e, possivelmente, muita polêmica.
Vadão não quer mexer muito
Vadão não antecipou a escalação, mas adiantou que o time do Atlético que enfrenta o Corinthians terá poucas alterações em relação à vitória sobre o Flamengo. O treinador acha que é hora de manter a base em busca de uma arrancada no Brasileirão.
?O time ganhou e foi bem. Se começarmos a mudar demais, cria-se uma instabilidade desnecessária?, justificou o técnico, que cita a possibilidade de fazer ?uma ou duas? alterações.
A primeira mudança é a provável volta de Alex à zaga. Para Vadão, o jogador, ausente da partida contra o Flamengo por suspensão, é o mais indicado para ?caçar? o argentino Tevez. ?Precisamos de um zagueiro rápido para marcar o Tevez, senão ele deita e rola. O Alex parece ter essa característica, mas ainda vou observar melhor durante os treinos?, antecipou.
Entre jogadores oriundos do exterior, já liberados para atuar, César é o único com chances de estrear. O zagueiro que veio do Tenerife, da Espanha, poderá ser escalado como beque de sobra do sistema 3-5-2. Neste caso, João Leonardo perderia o lugar no time. Já o lateral-esquerdo Michel pode ficar no banco. (CS)
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