Miranda se apresentou nesta segunda-feira à seleção brasileira da maneira que melhor o define. Discreto. Desceu do ônibus no bolo de jogadores, cumprimentou funcionários da CBF com apertos de mão e sorriso contido e rapidamente acessou o interior do hotel. O zagueiro de 27 anos sempre foi assim. Dentro e fora de campo não é dado a atos e gestos espalhafatosos. É tranquilo, mas firme, determinado e tem liderança. Tais características, aliadas a grande dose de confiança no atleta, levaram Dunga a optar por Miranda como novo capitão da equipe.
O treinador tem evitado dizer claramente. Mas, apesar de ter afirmado recentemente que Daniel Alves e Filipe Luis são boas alternativas, sua disposição é fixar definitivamente Miranda no posto que inicialmente ele deu ao craque do time. Neymar perdeu espaço, por não conseguir lidar bem com a condição de capitão.
O jogador da Inter de Milão já está familiarizado com a tarja e as demandas que ela exige. Tem sido o capitão do time na ausência de Neymar – como o ocorreu na Copa América do Chile, depois da suspensão do ex-santista pela confusão em que se meteu no jogo com a Colômbia e também no último jogo da seleção pelas Eliminatórias, em março contra o Paraguai, quando o camisa 10 estava suspenso – e a tendência é que seja agora na Copa América.
A diferença é que assumirá o posto definitivamente, a não ser que ocorra uma reviravolta que não parece possível no momento. Ou seja, será o capitão da seleção principal e também da olímpica (se puder disputar os Jogos do Rio) mesmo com a presença de Neymar.
Dunga define Miranda como “um cara tranquilo, que se comporta de uma maneira que todos os outros jogadores gostam e que está sempre disposto a ajudar um companheiro”. Esse espírito de grupo tem grande peso para o treinador.
DECEPÇÃO – Ao reassumir o cargo em 2014, após o fracasso da seleção na Copa do Mundo, Dunga alçou Neymar à condição de capitão por acreditar que o jogador do Barcelona poderia aliar sua “liderança técnica” à experiência adquirida apesar da curta carreira e encarar de maneira positiva o desafio.
Dunga achou que Neymar cresceria com a promoção. Não foi o que se viu. O craque tornou-se um jogador ainda mais irritadiço, passou a questionar as arbitragens mais por motivos próprios (faltas e jogadas violentas de que entendia ser vítima) do que pela seleção e trouxe mais tensão para o grupo.
O destempero no jogo com a Colômbia, pela Copa América, que custou sua expulsão após o término da partida – apesar de ter sido bastante provocado – e o fato de ter ido a uma festa após ser suspenso do jogo de março com o Paraguai e ter se desligado antecipadamente da delegação – irritaram Dunga e integrantes da comissão técnica.
Publicamente, o treinador defende as atitudes de Neymar. Mas reservadamente, ele ficou bastante decepcionado com o craque. Por isso, a disposição de tirá-lo do posto de capitão, embora não admita claramente. “Tem algumas coisas em relação ao Neymar que precisamos rever”, comentou.
Além de Neymar e Miranda, dois outros jogadores foram capitão com Dunga. David Luiz, num amistoso com o México antes da Copa América do Chile, e Thiago Silva. Mas o último só vestiu a faixa porque Neymar a passou para ele ao ser substituído em um amistoso. Dunga não teve participação.