Ministério do Esporte convoca organizadas para debater violência

O Ministério do Esporte resolveu aproveitar os recentes casos de violência no futebol para abrir diálogo com as torcidas organizadas. Nesta quinta-feira, o ministro George Hilton vai se reunir em Brasília com representantes da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg) para estreitar relações com a entidade e, assim, buscar alternativas no combate às brigas dentro e fora dos estádios.

Esta semana, após atos violentos antes e durante o clássico entre Palmeiras e Corinthians, pelo Campeonato Paulista, Hilton pediu para Marco Aurelio Klein, atual presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que atualize um estudo feito por ele em 2006 sobre a violência de torcidas de futebol. A ideia do ministro é organizar vários encontros para criar nos próximos meses um plano de ação nacional para tentar pelo menos reduzir o número de casos de brigas.

Na gestão de Aldo Rabelo, o Ministério do Esporte chegou a lançar em 2013 uma lista de propostas que prometiam conter a violência, mas pouca coisa saiu do papel até agora, como o Cadastro Nacional de Torcedores, a instalação de sistemas de segurança nos estádios com padrão semelhante ao das arenas da Copa do Mundo, além do aumento da responsabilidade dos clubes cujos torcedores se envolvessem em brigas.

Nesta quinta-feira, a Anatorg pretende levar a Hilton propostas para melhorar o convívio entre organizadas, o chamado torcedor comum e o poder público. “A violência é um problema crônico, que vai muito além das torcidas organizadas. Não é se afastando do problema que você vai resolvê-lo. É preciso se aproximar e dialogar com as organizadas”, disse André Azevedo, presidente da Anatorg, que também comanda a Dragões da Real, torcida do São Paulo.

A entidade foi fundada no ano passado e reúne 120 organizadas, que somam cerca de 1,5 milhão de torcedores. No encontro desta quinta-feira com o ministro, também serão discutidos exemplos do exterior que podem ser adotados no Brasil. “Aqui, fala-se muito que a polícia não deve fazer a segurança das torcidas. Na nossa visão, isso é um erro. No ano passado, fui para a Alemanha assistir a um jogo do Borussia Dortmund e a torcida do Schalke 04 foi escoltada desde Gelsenkirchen. Mais de 4 mil policiais trabalharam naquele jogo”, disse Azevedo.

ESTUDO – Em 2004, foi criada a Comissão Nacional de Prevenção da Violência para a Segurança dos Espetáculos Esportivos. O grupo era formado por integrantes dos ministérios do Esporte e da Justiça e, após dois anos de trabalho, apresentou um relatório com problemas e soluções para o combate à violência no futebol. Agora, depois de nove anos, o texto volta à pauta do Ministério do Esporte.

De acordo com Klein, hoje as ações para controlar as torcidas não podem mais ficar concentradas apenas dentro dos estádios. “A resolução do problema nas arenas precisa ser estendida para fora delas”, disse.

O modelo a ser adotado, no entanto, continua o mesmo: o Relatório Taylor, que acabou com o hooliganismo na Inglaterra. Na década de 80, os problemas de violência no país eram bastante semelhantes aos enfrentados pelo futebol brasileiro atualmente, por isso Klein resolveu usar o modelo inglês como referência.

“O problema foi superado com um trabalho técnico que envolveu a participação do governo, dos clubes, de entidades esportivas e da mídia. Foi um compromisso geral e, acima de tudo, quando começou a dar resultado, de inteligência. Sempre acreditei que é possível fazer isso no Brasil também”, disse Klein.

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