Os números deixados pelo treinador Miguel Ángel Portugal no Atlético não são um primor. Na Libertadores o time foi eliminado e no Brasileirão foram apenas quatro jogos. Mas é na herança da metodologia de futebol aplicada no Rubro-Negro é que se apega o técnico espanhol ao falar sobre sua passagem de quatro meses no CT do Caju. Na véspera de seu retorno para a Europa, ele recebeu a reportagem do Paraná Online para uma entrevista exclusiva.
Entre os vários temas, o ex-treinador atleticano falou sobre os motivos que o levaram a pedir demissão (a saudade da família foi determinante. Miguel tem quatro filhos, entre eles Daniela, de apenas 12 anos, que sempre pedia pelo pai), sua filosofia de trabalho, a implicância com o peso dos jogadores (diz, com orgulho, que conseguiu eliminar 50kg do atual elenco principal), a falta de qualidade no grupo de jogadores do Atlético, relacionamento com o presidente Petraglia (é o melhor presidente que o clube poderia ter) e com a imprensa. Pediu desculpas ao torcedor por não ter podido se dirigir diretamente a ele pelo rígido esquema de comunicação do clube e lamentou: “Infelizmente o torcedor não me conheceu”.
Em linhas gerais, como você classifica sua passagem pelo Atlético?
Miguel Ángel Portugal: Foi uma linda experiência. Eu não conhecia o futebol brasileiro e sempre tive vontade de trabalhar aqui. No começo tivemos alguns problemas para implantar nossa filosofia de trabalho. Tínhamos um time muito jovem, mas por serem jovens tinham a capacidade de assimilar melhor os conceitos. Sinto orgulho do trabalho que eles fizeram.
Porque você saiu do Atlético então?
Eu estava feliz e contente de treinar esses jovens, contente no clube. Mas meu estado de ânimo não era bom por problemas particulares. Essa decisão foi minha e só minha.
Se o trabalho era bom, porque os resultados vieram só agora? Como é essa metodologia?
Nós fizemos uma metodologia baseada em três conceitos. Treinar bem para jogar bem e treinar como se joga. Após o treino, descansar, para depois treinar bem e jogar bem. Além disso comer bem, para treinar bem e jogar bem. O clube continua fazendo isso, pois o Leandro Ávila trabalhou com a gente todo esse tempo. Com bom descanso, nutrição e treinamento, podemos ter ritmo e intensidade nas partidas.
Não faltou para o teu time um pouco mais de criatividade? O Marcos Guilherme não ficava sobrecarregado?
Não, porque quando você monta o time tem que fazer a análise da equipe que tem. Nosso time era veloz. Não era um time para ter a posse de bola. Era um time para não ter posse de bola e aproveitar os espaços. E não pode ter a posse, porque não tem qualidade. A nossa qualidade era a velocidade, intensidade e ritmo.
A campanha na Libertadores foi decepcionante?
Possivelmente sim. Mas acabamos com nove pontos e seis times avançaram de fase com oito ou nove. Não posso ficar satisfeito, mas tampouco grandiosamente frustrado.
Vários jogadores saíram após a Libertadores? De quem foi a decisão?
O clube tem uma comissão técnica formada por cinco pessoas. Foi feita uma reunião para pensar no futuro e todos deram suas opiniões. Eu concordei com uns, não com outros. Mas a decisão foi da comissão.
Em algum momento essa comissão técnica interferiu na escalação?
Tínhamos uma reunião toda terça e falávamos de tudo. Sou uma pessoa que sabe escutar. Mas a decisão de campo sempre foi minha. Eu decidia.
Como foi trabalhar com o Adriano?
A torcida também pegou muito no meu pé por isso (risos). O mais importante era a recuperação dele para voltar a jogar futebol um dia. Recuperar o futebol que ele tinha quando jovem era impossível.
E por que não deu certo?
Para jogar futebol o jogador precisa ter vontade de jogar futebol. E ele tinha muitas outras coisas na cabeça. Fo,i o problema dele.
Pelo que você gostaria de ser lembrado no Atlético?
Fizemos um trabalho de peso, com uma metodologia nova. Essa metodologia vai ficar no Atlético.