Mesmo sem ouro, Vanderlei e Daiane são eleitos os melhores do ano

O maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima e a ginasta Daiane dos Santos e foram eleitos os melhores atletas de 2004, na categoria feminina e masculina, durante a 6ª edição do Prêmio Brasil Olímpico, realizado nesta terça-feira à noite, no Teatro Municipal do Rio. Apesar da escolha dos melhores do ano, o momento mais aguardado da cerimônia foi o encontro entre Vanderlei e o grego Polyvios Kossivas, que o ajudou a se livrar do ataque do ex-padre irlandês Cornelius Horan, durante a maratona na Olimpíada de Atenas.

"As coisas não acontecem por acaso e Deus o colocou naquele lugar. Sou grato a ele e o considero muito mais do que um irmão. Ele é meu anjo", disse Vanderlei a Polyvios Kossivas. O reencontro foi emocionante e ambos não esconderam o choro. Ao final da cerimônia, o ‘anjo’ ainda presenteou o maratonista com uma caixa contendo pequenas medalhas representativas dos Jogos de Atenas, além de uma camisa com a data da corrida, 29 de agosto e os dizeres escrito em grego: "Lute, mas lute de maneira correta e seja justo". "Ele também tem parte na medalha de bronze que conquistei."

A persistência e a lição de amor ao esporte dada por Vanderlei em Atenas foram fundamentais para sua vitória, com um total de 3.744 votos, principalmente, porque também concorriam os campeões olímpicos da vela: Robert Scheidt, eleito este ano o melhor velejador do mundo, pela Federação Internacional de Vela (Isaf), 2.762 votos, além de Torben Grael, o maior medalhista olímpico do País, com 616 votos.

Em Atenas, Vanderlei liderava a prova faltando cerca de cinco quilômetros para seu término, quando Horan o agarrou e o atirou no chão. Neste momento, o até então espectador Kossivas pulou a corda de proteção para ajudá-lo e passou a ser conhecido como o ‘anjo’ do atleta.

"O elemento que me une ao Vanderlei é a fé em Deus", afirmou Polyvios Kossivas, que ainda foi homenageado com um troféu. Depois, bem humorado, terminou seu discurso na Língua Portuguesa. "Obrigado Brasil.

Vanderlei Cordeiro de Lima é o herói do Brasil." Grande vencedor da noite, Vanderlei ainda recebeu mais duas premiações. Foi eleito o atleta ‘personalidade olímpica’, por seu exemplo de determinação e fair-play nos Jogos de Atenas, e condecorado com a medalha Pierre Courbertin, que havia lhe sido ofererecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) ao final dos Jogos, pela sua bravura no episódio do ataque do ex-padre irlandês. "Essa medalha representa o espírito de todos os brasileiros", festejou.

Entre as mulheres, a votação popular consagrou Daiane, que conquistou o bicampeonato do Prêmio Brasil Olímpico e se igualou a também ginasta Daniele Hypolito, vencedora em 2001 e 2002. Ambas, acompanhadas por Shelda, do vôlei de praia, voltaram a rivalizar, mas a atleta que encantou a todos com a coreografia embalada pela música Brasileirinho, de Valdir Azevedo, venceu com 3,026 votos, contra 2.239 de Daniele e 1.837 de Shelda.

Em 2004, Daiane conquistou definitivamente o carinho do público e se tornou uma estrela do esporte. A totalização de quatro medalhas consecutivas de ouro, nos exercícios de solo, obtidas em etapas da Copa do Mundo de Ginástica a tornaram favorita ao primeiro lugar do pódio na Grécia. Mas, uma cirurgia no joelho atrapalhou seus treinamentos e, na competição grega, alguns erros na execução dos movimentos fez com que ela terminasse em uma honrosa quinta posição.

As três finalistas não estiveram presentes no Teatro Municipal. Mas, Daiane e Daniele, que estão em Birmingham, Inglaterra, onde disputam a grande final da Copa do Mundo no sábado e domingo, participaram da cerimônia por uma teleconferência. "Agradeço este prêmio as meninas da seleção, a minha família, meus patrocinadores, e a vocês, que acreditaram em nosso trabalho. Podem ter a certeza de que vamos nos unir para trazermos o melhor resultado para o Brasil nesta final de Copa do Mundo", frisou Daiane.

Além de Daiane e Vanderlei, o nadador Clodoaldo Silva e a velocista Ádria Santos foram eleitos os melhores atletas paraolímpicos de 2004.

Já a nadadora Maria Lenk, a primeira mulher da América do Sul a participar de uma edição dos jogos olímpicos, em Los Angeles, em 1932, foi agraciada com o troféu Adhemar Ferreira da Silva.

Outro premiado da noite foi o técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, Bernardo Rezende, o Bernardinho. O treinador somente deixou de vencer nesta categoria, no ano de sua criação, em 2001, quando prêmio ficou para o técnico do tenista Gustavo Kuerten, o Guga, Lari Passos. Os eleitos por cada modalidade olímpica também participaram da festa e receberam seus troféus. Dentre eles, Thiago Pereira (natação), o judoca Flávio Canto, além da saltadora Juliano Veloso.

"Esse é um prêmio coletivo e queria muito ganhá-lo para coroar o trabalho de toda a minha comissão técnica", frisou Bernardinho. "Dedico a meus pais, meus cinco irmãos, aprendi desde cedo a trabalhar em equipe. E não posso esquecer da minha atual equipe, a Fernanda (Venturini, mulher e levantadora de vôlei) minha técnica, além do Bruno e Júlia (filhos)."

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