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Mesmo sem apoio dos grandes clubes, jogadores veteranos ainda brilham no futebol

Giovanni e Serginho Chulapa tabelando no ataque do Santos. Neto e Zenon tocando no meio de campo do Corinthians. Müller recebendo passe de Ademir da Guia. Montar equipes hipotéticas, com os melhores e mais marcantes jogadores de seus times em momentos distintos da história, é uma brincadeira comum em roda de discussão de torcedores. Mesmo sem o apoio das equipes, veteranos das principais equipes do Estado de São Paulo se mobilizam para montar estes “esquadrões dos sonhos”.

No Brasil, depois que deixam os gramados, os ídolos costumam cair em esquecimento, muito por conta da falta de apoio dos clubes. Não existem equipes formadas para a disputa de jogos regulares ou torneios e a iniciativa de se reunirem normalmente parte dos próprios atletas.

O jornal O Estado de S.Paulo foi acompanhar de perto uma destas partidas. O Corinthians Master foi uma das principais atrações da comemoração dos 197 anos da cidade de Monte Santo de Minas, em Minas Gerais, que conta com pouco mais de 20 mil pessoas de acordo com o último censo do IBGE.

Seja das arquibancadas do estádio Adalberto Tortorelli, com capacidade para mil torcedores, ou dos muros e barrancos das cercanias do principal campo da cidade, a população parou para ver antigos jogadores da equipe paulista contra os veteranos do América Esporte Clube, também conhecido como América de Monte Santo, cuja maior conquista é o título da terceira divisão mineira em 1990.

Apesar do clima de festa, o público não escondeu a tristeza pela falta de jogadores famosos como o tricampeão brasileiro Dinei. Para um torcedor, a ausência do irreverente Ataliba, atacante corintiano dos anos 80, foi a mais sentida.

Depois de quase 30 anos sem ir ao estádio da cidade, Ataliba Pereira Lima, de 97 anos, queria ter visto seu homônimo jogar. Já com muita dificuldade para ouvir e com poucas palavras, o “Ataliba mineiro” revelou que também defendeu as cores do América, mas desistiu de seguir carreira no futebol porque “não gostava de treinar”.

Apesar da derrota por 4 a 2 para o Corinthians, o administrador de fazenda Antônio Vargas Júnior estava preparado para as zoações dos conhecidos que fizeram parte do time mineiro. Cada lance seria motivo para uma história diferente.

SEM APOIO – Um dos maiores nomes da história do Palmeiras, Ademir da Guia acredita que falta apoio para os ex-atletas. “Muitos clubes deixam os ídolos de lado. Falta valorização. O Zico consegue dar um destaque legal com seu jogo tradicional que acontece no fim do ano”, disse.

As partidas normalmente são organizadas pelos próprios ex-atletas. Sem equipes fixas, cabe a eles a missão de reunir os elencos e confraternizar. “Às vezes acontece de receber algum dinheiro, quando os organizadores conseguem atrair um bom público, contar com patrocinadores, mas essa não é a questão principal. Normalmente aceitamos jogar para poder ver os velhos conhecidos”, contou.

Já no Corinthians, um dos poucos times com um projeto oficial de masters, Zenon se mostra grato pelo tratamento recebido. Por lá, ele e diversos outros ex-jogadores recebem cachês e carteirinhas para frequentarem o estádio Itaquerão, em São Paulo, em dias de partidas. “Temos o apoio da diretoria e nesse ponto é bom. O que falta é ter competições, um Campeonato Brasileiro, por exemplo, seria muito legal”.

Além do time alvinegro, o ex-meia realiza partidas pelos masters da seleção brasileira. Em um dos confrontos, contra a Argentina, o membro da Democracia Corintiana e bicampeão paulista em 1982 e 1983 se mostrou admirado com o apoio dado pelos torcedores rivais. “Lá fora eles reverenciam bem mais que no futebol brasileiro. Por aqui não dá para reclamar muito porque todo lugar que vou sou reverenciado, só que isso acontece pelos torcedores e não por parte das federações”, comparou Zenon.

LÁ FORA – No dia 3 de fevereiro de 2017, o Barcelona anunciou a contração de Ronaldinho Gaúcho. Com a camisa 10 que o consagrou nos cinco anos que esteve no clube catalão, entre 2003 e 2008, o melhor do mundo por duas vezes foi apresentado como se fosse atuar ao lado do badalado trio formado por Messi, Neymar e Suárez. Mas o evento se tratava da promoção da equipe de Legends (Lendas) do clube catalão.

Dois meses depois, o astro brasileiro fez a sua estreia na equipe master catalã contra as lendas do Real Madrid, em Beirute, no Líbano, e decidiu com três assistências na vitória por 3 a 2.

Ao contrário do que acontece no Brasil, os clubes europeus não reúnem os seus jogadores apenas em datas comemorativas. A ideia é usar o prestígio e o carinho do público em um “plano de expansão da marca do clube”, como diz Juliano Belletti.

Autor do gol que garantiu o título da Liga dos Campeões da Europa de 2005/2006, o ex-lateral-direito, que também faz parte das “Lendas do Barcelona”, destaca a infraestrutura. “O departamento chamado Agrupacion Barça Jugadors coordena e administra o escritório de ex-jogadores do Barcelona. Existe todo um plano de eventos, jogos, confraternizações, cursos e viagens para aqueles que construíram a história do clube, e para ativar, expandir e fortalecer a marca FC Barcelona, alguns amistosos são realizados ao redor do mundo. A ideia é aproximar o clube do torcedor”, explicou.

Depois de atuar como comentarista ao final da carreira, Belletti assumiu o posto de diretor executivo internacional do Coritiba. “Pouco se valoriza o ex-jogador do clube. Não está incluído no plano de expansão da marca do clube essa aproximação com os torcedores através dos veteranos”, explicou.

Além de Real Madrid e Barcelona, Liverpool, Arsenal, Manchester United e Milan são outras equipes que também possuem times de masters.

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