Em 1978, a torcida do Santos estava órfão após a saída de Pelé quatro anos antes, e carente de títulos. Coube a um time de garotos, apelidado de “Meninos da Vila”, menção ao estádio da Vila Belmiro, quebrar este período de escassez de conquistas.
“Nós demos sorte, pois todo mundo que entrava no time dava certo e se encaixava com os mais velhos”, disse Pita, camisa 10 daquela equipe, que formava dupla irresistível com o veloz centroavante Juary. Ambos foram formados na base do clube.
O teste de fogo para o jovem time santista foi logo na primeira rodada do Paulista. O rival era o Corinthians, que tinha a estreia de Sócrates em um Morumbi com quase 120 mil torcedores. Os garotos se superaram. Pita abriu a placar. O Corinthians só foi empatar a dez minutos do fim, com Rui Rei.
Os jovens pontas Nilton Batata e João Paulo não cresceram na Vila, mas acabaram adotados pela torcida. O Santos de 1978 ainda contava com a experiência de Clodoaldo, campeão com a seleção na Copa de 1970, e com a categoria de Ailton Lira, dono de canhotinha habilidosa, capaz de bater faltas de qualquer distância do gol e fazer lançamentos espetaculares. A defesa era o ponto seguro do time. Victor era o goleiro. Os laterais Nelsinho Baptista e Gilberto Sorriso, ambos ex-São Paulo, enquanto a zaga era dividida por Joãozinho e Neto. “Era um time equilibrado. Jovem, veloz, experiente e com ótimo toque de bola”, disse Pita ao Estado.
Um dos momentos que caracterizaram aquele Santos foi gol feito aos sete segundos de jogo contra o Palmeiras. Na saída de bola, Ailton Lira lançou Nilton Batata, que foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para Juary marcar. Nenhum palmeirense tocou na bola antes do gol. Em 1987, Juary, atuando pelo Porto, fez o gol do título da Liga dos Campeões na vitória por 2 a 1 sobre o Bayern de Munique.
No Paulistão de 1978, de três turnos e quase um ano de duração, o Santos disputou 56 jogos, com 26 vitórias, 16 empates e 14 derrotas. Foram 77 gols marcados, 29 de Juary, e 47 sofridos.
Antes desta geração, o Santos teve em 1954 um ataque de garotos com Tite, Álvaro, Vasconcelos, Del Vecchio e Pepe. Depois, mais duas versões dos “Meninos da Vila”: em 2002, com Robinho e Diego (campeão brasileiro), e em 2010, com Neymar e Ganso (campeão da Copa do Brasil em 2010 e da Libertadores em 2011).