“Todo dia eu dou um beijo na medalha”. A confissão da atacante Paula Pequeno reflete o atual estágio do vôlei feminino no Brasil. Potencializado pela conquista do ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, há um mês e meio, o esporte vive seu momento mais fulgurante, com forte injeção de capital, cobertura da mídia e interesse do público. Acompanhar parte da rotina das atuais campeãs olímpicas é ver o quanto mudou a vida destas garotas.
“Tudo ficou diferente”, resume a meio-de-rede Fabiana, um dos destaques da seleção em Pequim. “A gente começou a ser mais vista, mais notada”, complementa a jogadora do Rexona/Ades, um dos times que participa da Copa Brasil de vôlei feminino, que acontece em Curitiba (ler abaixo).
Morando em Belo Horizonte e treinando no Rio de Janeiro, ela tem a noção exata do reconhecimento nacional da “geração de ouro”. “Eu sou meio tímida, e às vezes me surpreendo com o assédio”, relata a jogadora -tímida do alto de 1,95m.
“As pessoas me param nas ruas, nos shoppings, nos restaurantes”, confirma Sheilla, que voltou ao Brasil para jogar no São Caetano/Blausiegel. “O que me emociona é que todos vêm para agradecer a alegria que nós demos”, completa a atacante, titular absoluta da seleção de José Roberto Guimarães.
A sensação do que elas falam fica evidente em cada local de treino, no hotel em que estão hospedadas, nos jogos realizados no Palácio de Cristal, o ginásio do Círculo Militar do Paraná. Na apresentação da Copa Brasil, na quinta-feira, estavam oito medalhistas de ouro juntas, o que causou alvoroço em um dos hotéis mais chiques de Curitiba.
Funcionários, jornalistas, hóspedes e até mesmo quem estava em eventos comerciais nas salas de reunião – todos largaram tudo para tirar uma foto com as heroínas olímpicas.
Heroínas que agora são também exemplo para uma geração de jovens que adota o vôlei como esporte. “Nós fomos premiadas porque houve uma geração que plantou a semente do esporte. Essa medalha não é só das meninas, é também de todo mundo, jogadoras como a Ana Moser e a Márcia Fu, que estouraram o joelho jogando em quadra dura”, relata Elisângela, medalha de bronze em Sydney-2000 e hoje no Brasil Telecom.
Ana e Márcia foram inspirações para as “meninas de ouro”, que agora vêem a explosão do vôlei. “No meu site, recebi mensagens de professores dizendo que o número de alunos subiu de 80 para 300 nas escolinhas”, diz Paula. “Este é o grande prêmio que podemos receber”, completa.
“Eu fico muito orgulhosa por isso. Há tantos programas para levar o vôlei para a garotada pelo Brasil, e quem sabe a nossa conquista vai incentivar os jovens a praticar esportes. É mais uma novidade para a gente”, concorda Fabiana.
“É difícil, a gente ainda não conseguiu assimilar tudo. A ficha ainda não caiu”, confessa Paula Pequeno, principal jogadora do Finasa/Osasco. Ela concorda que a relação delas com o público mudou radicalmente. “Para quem está fora, parece que nós estamos ainda com a medalha pendurada no peito. Mas nós temos que seguir a nossa vida. Estamos aqui jogando a Copa Brasil, depois tem a Superliga. É o nosso trabalho. Mas é compreensível que todos estejam assim. Eu mesma beijo a medalha todo dia. Antes de sair, dou um beijo na medalha, no meu marido e na minha filha. Não necessariamente nesta ordem”, finaliza Paula, às gargalhadas.