O caso Serginho ganhou novo e importante capítulo ontem, dia em que Edimar Bocchi, cardiologista do Incor, responsável pelos exames realizados no jogador durante o primeiro semestre, saiu em defesa do São Caetano, após a conclusão do laudo da necropsia.

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De acordo com Bocchi, o laudo atesta que a morte de Serginho ocorreu por causa de uma miocardiopatia hipertrófica, "doença que não tinha relação com os problemas verificados nas avaliações do início do ano". "O acontecido foi uma fatalidade", declarou o médico do Incor.

Esse será o argumento utilizado pelos advogados do São Caetano para inocentar o médico, Paulo Forte, e o presidente, Nairo Ferreira de Souza. Ambos foram indiciados por homicídio doloso pelo delegado Guaracy Moreira Filho, que finalizou o inquérito antes mesmo de ter recebido o laudo do SVO.

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Entretanto, ontem à noite, em entrevista à Rádio Globo, o presidente do STJD, Luiz Zveiter, leu cinco laudos do Incor sobre o caso Serginho. Apenas o primeiro era assinado pelo fisiologista Guilherme Veiga, os demais todos assinados por médicos do Incor, entre eles Edimar Bocchi. Em todos, está expressa a recomendação de o jogador ser afastado imediatamente da prática esportiva. Também, indicam a necessidade da realização de novos exames, que poderiam esclarecer os motivos da arritmia detectada nos exames iniciais.

Zveiter também divulgou o conteúdo de duas cartas enviadas pelo São Caetano ao Incor. Elas diziam que o jogador ainda não havia comparecido para avaliação mais completa, em virtude da agenda de jogos do clube. No último comunicado ao Azulão, o Incor enfatiza todas as recomendações anteriores e termina alertando: "Que o atleta tenha sorte, pois as chances de óbito existem". Bocchi é um dos médicos que subscrevem este comunicado.

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Em nota divulgada ontem, Bocchi tenta se esquivar. "Se havia risco de o Serginho jogar ou não, é outra coisa, mas ele não morreu por causa de problemas que tinha apresentado anteriormente", prosseguiu. "Qualquer coisa que ocorreu antes perde o valor."

O Incor avisou que as declarações e a distribuição do documento são de responsabilidade pessoal de Bocchi e não da instituição.

São Caetano pode perder 24 pontos

Rio – Uma interpretação do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) feita pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, eliminou ontem a possibilidade de o São Caetano ser rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. O magistrado acatou apenas em parte a denúncia do procurador Murilo Kieling e o time paulista pode perder, no máximo, 24 pontos na competição, se for condenado em julgamento marcado para segunda-feira, pela 1.ª Comissão Disciplinar do órgão.

"As pessoas às vezes confundem direito penal com esportivo. E, o dr. Murilo, exímio juiz criminal, se confundiu" afirmou Luiz Zveiter. A confusão alegada pelo magistrado foi na interpretação do artigo n.º 165 do CBJD. Sua redação estabelece que "prescreve a ação em 60 (sessenta) dias, contados da data do fato ou, nos casos de falsidade ideológica ou material e nas infrações permanentes ou continuadas, contados do conhecimento da falsidade ou da cessação da permanência ou continuidade".

Zveiter explicou que, de acordo com sua interpretação, além de não haver uma infração continuada (a prática de crime, neste caso, a cada partida jogada pelo zagueiro Serginho), o tempo deve ser estipulado retroativamente em 60 dias para beneficiar o réu.

"Usa-se o termo infração continuada e, não conta-se o tempo, para beneficiar o réu nos julgamentos na Justiça comum", afirmou Zveiter.

"Se não fôssemos contar o tempo de 60 dias para tirar os pontos do São Caetano, estaríamos prejudicando o réu."

O presidente do STJD frisou que essa sua decisão não pode ser revogada. Desta maneira, o São Caetano estará ameaçado de perder o dobro de pontos previsto para uma vitória no Brasileiro, como prevê o artigo n.º 214 do CBJD, nos confrontos realizados contra Botafogo, Paysandu, Fluminense e São Paulo.

Apesar de ter favorecido o São Caetano ao rejeitar parte da denúncia feita pelo procurador do STJD, Zveiter manteve as outras acusações contra o presidente do clube do ABC, Nairo Ferreira de Souza, e o médico Paulo Forte. O dirigente poderá ser suspenso por até dois anos e o profissional por até quatro.

Para reforçar a tese de que Serginho atuou irregularmente no Brasileiro e, por isso, os denunciados têm culpa, Zveiter leu trechos de laudos enviados pelo Instituto do Coração (Incor) sobre a situação do atleta, que morreu durante partida de seu time com o São Paulo, em 27 de outubro.

O presidente do STJD ainda mandou um recado para os advogados do São Caetano. Indagado sobre uma possível ameaça feito pelos defensores do clube de irem à Justiça Comum, o magistrado foi incisivo: "Não quero prejulgar, mas acho que eles não soltariam um desses balões de ensaio vazio. Quero que eles sejam felizes em suas sustentações, aqui, segunda-feira".

E com o julgamento marcado para a 1.ª Comissão Disciplinar, a decisão final, que contemplará a todos os recursos, só sairá, no mínimo, dia 16, data da reunião do pleno do STJD.