‘Medalhista’ diz que não disputou evento do Bolsa Atleta

A Confederação Brasileira de MMA (CBMMA) mente na documentação que apresenta para comprovar a realização do Campeonato Sul-Americano de MMA, em outubro do ano passado, em Gramado (RS). Quem afirma isso, com todas as letras, é o lutador cearense Wallyson Carvalho, que aparece na súmula do evento como terceiro colocado da categoria peso pesado (mais de 93kg). Por isso, ele teria direito ao Bolsa Atleta, do governo federal, que pela primeira vez contempla lutadores de MMA. O lutador afirmou à Agência Estado que não lutou.

“Se falaram que eu fui nesse evento, estão mentindo. Lutei em setembro a Copa Brasil de Kick-Boxing, em Maringá (PR), e em novembro o Paulista de Boxe. Em outubro eu nem lutei”, garantiu o atleta. De acordo com ele, naquele mês, entre os dias 4 e 20, estava no Ceará. Depois, durante a época de realização do evento, Wallyson não saiu de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo. “Na época, trabalhava de segurança também. Possivelmente, eu deveria estar de plantão à noite”.

A reportagem também teve acesso a um documento emitido pela CBMMA (com papel timbrado), disparado pelo e-mail de João Roberto Trindade, diretor executivo da entidade, em que aparece o nome de Wallyson como medalhista de bronze entre os peso pesados.

O ministério do Esporte não respondeu às denúncias que a Agência Estado fez na terça-feira e não confirmou se o documento obtido pela reportagem é o mesmo apresentado pela CBMMA para justificar o pedido de Bolsa Atleta. Os dados, porém, batem com os fornecidos pelo ministério na segunda-feira, quando a pasta informou nomes e países de atletas estrangeiros de seis das 10 categorias disputadas.

Fontes ouvidas pela reportagem apontam que a documentação fornecida pelo ministério aponta muito mais atletas estrangeiros do que os realmente estavam presentes no Dragon Fight, como o evento foi chamado. Mais do que isso: a reportagem falou com cinco pessoas presentes ao ginásio de Gramado e nenhuma se lembra da participação de lutadores estrangeiros.

De acordo com a documentação oficial da CBMMA disparada por Trindade, o evento teve 43 competidores de outros países da América do Sul. Há cerca de três meses, Ronnie Lincoln, o presidente da Confederação Gaúcha e organizador do Dragon Fight, disse à reportagem que haviam sido uns “oito ou nove” gringos. “Eu convido. Se eles não vêm, não posso fazer nada”, afirmou na ocasião. Ele nega que a documentação enviada ao ministério do Esporte contenha inverdades.

Como supostamente o Dragon Fight teve de quatro a oito estrangeiros por categoria, ele foi creditado como evento “sul-americano” pelo ministério do Esporte – o mínimo aceito é quatro estrangeiros por chave. Por isso, o governo aceitou nove pedidos de Bolsa Atleta na categoria Internacional, cujo valor é R$ 1.850 mensal, em lista publicada na última sexta-feira no Diário Oficial. Entre os contemplados está Jefferson Macambira, filho do presidente da CBMAA, Elísio Macambira.

A documentação, porém, é no mínimo curiosa. Na categoria até 57kg, por exemplo, aparece o nome de Gutierres Carranzo, um uruguaio, como terceiro colocado. Uma busca pelo site Google não mostra qualquer resposta a este nome. Não é o único caso. “Thiago Arthur Huff”, “Giuliano Primas” e “Ivandro Vanderley Burscheidt” são outros nomes que o principal buscador da internet não reconhece. Também não há referência sobre eles em páginas de entidades de MMA dos respectivos países. Todos ganharam medalha no Sul-Americano, segundo a documentação da CBMMA obtida pela Agência Estado.

Outro que nega que tenha participado do Sul-Americano é Pietro Carlucci de Campos, que aparece nas súmulas da competição como sendo argentino. Pietro, que não tem nome usual, é gaúcho de Caxias do Sul, como o organizador do Dragon Fight, mas não pratica nenhum tipo de luta e não estava no evento. Ronnie não se lembra dele.

Já Cristiano Beredetto, técnico da equipe Inter Estilos, de Bom Princípio (RS), que teve pelo menos quatro atletas contemplados com o Bolsa Atleta, garante que seus lutadores fizeram tudo dentro da legalidade e disse não entender por que, ele próprio, aparece como contemplado na categoria de idade “intermediária”, relativa a juvenil ou júnior, quando tem 32 anos. Cristiano, que também receberá R$ 1.850 mensais, diz que se inscreveu na categoria adulta e lutou contra atletas adultos.

A CBMMA, Elísio Macambira e Roberto Trindade disseram na segunda-feira que não responderiam mais a perguntas da reportagem. A própria assessoria de imprensa da entidade cobrou publicamente, no Facebook, uma resposta dos dirigentes.

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