Goleada em campo e vitória nos bastidores. A diretoria do Paraná Clube aplicou marcação cerrada e acertou ainda na noite de domingo a volta do atacante Maurílio para a seqüência do Brasileirão. Enquanto os jogadores comemoraram a vitória expressiva (6×2 sobre o Flamengo) na estréia no técnico Adílson Batista, dirigentes entraram em cena. O jogador chegou por volta das 22 horas a Curitiba e foi de imediato para uma reunião, que teve aproximadamente três horas de duração. Ao sair do jantar, Maurílio já era – num acerto verbal – jogador do Tricolor, pela quarta vez em sua carreira.
“Cheguei a argumentar que iria trocar algumas idéias com minha esposa, mas eles não me deixaram sair sem uma definição”, comentou Maurílio. O “coração” pesou e o atacante trocou propostas mais vantajosas para retornar ao clube que o projetou para o futebol. “Tinha pelo menos três outras propostas. Do Juventude, do Goiás e de um outro clube aqui da capital, que vocês sabem quem é” (referindo-se ao Atlético), disse Maurílio. O Rubro-Negro fez uma nova tentativa no início da tarde de ontem. Maurílio manteve a palavra dada no domingo e às 17 horas assinou contrato com o Paraná até dezembro de 2005.
Além da afinidade com a torcida e com as cores do Paraná, pesou também a oferta de um acerto por dois anos e meio. “Mostra a confiança que eles têm no meu futebol. Sempre deixei claro que pretendia ficar em Curitiba, ainda mais neste momento que antecede o nascimento do meu filho”, comentou Maurílio. O vice de futebol José Domingos Borges Teixeira confirmou que as ofertas dos outros clubes, sob o aspecto financeiro, eram melhores que a do Paraná Clube. “Só que o lado emocional e também a duração do contrato pesaram em sua decisão final”, disse. José Domingos disse ainda que neste relacionamento de amizade, ficou estabelecido que em caso de uma proposta vantajosa de transferência para o exterior, Maurílio será liberado.
No ano passado, Maurílio foi o grande responsável pela permanência do Tricolor na primeira divisão. Com 14 gols, é o maior artilheiro do clube em um campeonato brasileiro. Após cinco meses no Al-Ittihad (Arábia Saudita), onde conquistou o campeonato local e marcou 11 gols, ele retorna ao Brasil com grandes aspirações. “O Paraná está muito bem. Já tenho dois títulos nacionais. Por que não buscar mais um?” Aos 33 anos, Cléverson Maurílio Silva garante que este não é o último contrato que assinou em sua carreira como jogador. “Já haviam falado isso da outra vez que vim para o Paraná e provei o contrário. Nem penso em parar”, assegurou.
Maurílio começa a treinar hoje pela manhã, na Vila Capanema – ontem à tarde, vários torcedores foram ao Durival Britto para recepcionar o ídolo – e agora a diretoria corre contra o tempo para registrá-lo até a próxima quinta-feira. Se não houver imprevistos, o atacante estará à disposição do técnico Adílson Batista para o jogo do próximo dia 15, frente ao Juventude, no Pinheirão. Com a chegada de Maurílio, o Paraná resolve momentaneamente a carência de opções para o ataque. Outras contratações não estão descartadas, mas vai depender muito da questão financeira, pois hoje a receita do clube já está comprometida. “Temos tido pouco retorno nas bilheterias. Estamos atentos, mas sabedores das dificuldades”, afirmou o vice de futebol.
Torcida pesou na hora de decidir
Há cinco meses Maurílio partiu para uma nova etapa em sua carreira. A proposta de um contrato extremamente lucrativo fez o atacante trocar o Paraná Clube pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Maurílio tinha como desafio vencer no exterior e superar as diferenças culturais. Voltou com o título e novas experiências de vida. “Há algumas barreiras quase intransponíveis, mas tudo é válido como aprendizado”, disse.
Maurílio conta que sua “vida social” na Arábia Saudita se resumia a raros jantares e restaurantes e passeios aos shoppings. “E isso enquanto minha esposa (Elaine) estava por lá. Quando ela retornou, pois está em fase final de gestação, era só do treino para casa”, disse. Com uma justificativa. “Há certos locais onde apenas podem entrar famílias, devido à religião. O tratamento com estrangeiros é complicado e isso vale também para o futebol”, disse.
O atacante conta que com apenas um jogo por semana, muitos jogadores sequer apareciam no clube em determinados treinamentos. “Mas, os jogos são de muita pegada, até violentos”, analisou. “Só que os árbitros têm pesos diferenciados para os jogadores árabes. Eles fazem faltas duríssimas e não são sequer advertidos. Já uma jogada mais dura de estrangeiros era vermelho direto”, contou. Maurílio ressaltou a organização do campeonato, que tinha bons públicos na maioria dos jogos. “Muito desse comportamento dos torcedores se deve às punições, que lá são muito severas”, reconhece.
Mesmo distante, Maurílio nunca perdeu o contato com os amigos do Paraná Clube. “Logo após o jogo frente ao Atlético, o Émerson me ligou contando como foi a partida e fiquei muito feliz por eles. Principalmente pelo sufoco que tínhamos passado no ano anterior”, afirmou. As outras notícias ele acompanhava pela internet e pelo seu site pessoal (www.mauriliosilva.com.br). “Isso também contribuiu na minha volta, pois vi o carinho que o torcedor tem por mim”. Em pesquisa no site, que perguntava qual clube Maurílio deveria defender no Brasileirão-2003, foi uma goleada paranista (Paraná, 75,99%; Atlético-PR, 14,97%; Coritiba, 6,21%; outros, 2,54%).