Valquir Aureliano
Famoso por ser ranzinza e de poucos sorrisos, Moacir Medeiros é um contador de ?causos? excepcional.

Depois de 36 anos fazendo massagem, auxiliando os médicos, criando confusão em campo e até comprando árbitros, o massoterapeuta Moacir Medeiros vai sair de cena. Supervitorioso no campeonato estadual, o profissional que passou por Colorado, Atlético, Paraná e atualmente está no Coritiba se aposentou no mês passado, mas segue até dezembro normalmente no CT da Graciosa. Carrancudo, ele não distribui sorrisos facilmente, apesar da boa educação, mas basta dar corda para ele contar seus ?causos? sobre o futebol e as gargalhadas aparecerem naturalmente. Moacir, um contador de histórias nato.

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E o que contar é o que não falta para este paulista de Ribeirão Preto, que chegou a iniciar as faculdades de Farmácia e Enfermagem, mas preferiu seguir a carreira de massagista no Comercial. Revelou algumas grandes histórias dos bastidores do mundo da bola. No ano que vem, deixa de ser massoterapeuta para se dedicar somente à sua empresa de digitalização de documentos e troca o futebol pela informática. Mas se a saudade bater ele pode até voltar.

Começo

?Eu não tinha tempo de estudar e trabalhar e um padrinho médico arrumou um emprego para mim no Comercial, onde eu podia trabalhar duas horas por dia como massagista. Como gostei, larguei a faculdade e estou esse tempo todo nisso.?

Mandinga

?No Comercial-SP, tinha um treinador chamado Alfredo Sampaio Filho, o Tio, e era o ?rei do descenso?. O time estava ruim, para cair, chamava ele e tirava o time. Ele era espírita e freqüentava um centro de umbanda. Uma vez, a gente iria jogar contra o América-SP, a gente estava na última colocação, ele marcou uma reunião, trouxe uma mãe-de-santo que jogou quatro moedinhas. Na véspera de jogo, ele só deixou os jogadores fazerem o dois-toques e quem achasse a moedinha ia fazer o gol. Só que quem achou foi nosso goleiro, e tomou dois.?

Gaveta

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?Esse treinador era fantástico. Naquela época se comprava árbitro em São Paulo. Cansei de pagar árbitro na igreja, mas só não vou citar o nome dos envolvidos. Ele (Sampaio) estava no Noroeste, comprou o árbitro e o time ganhou de 4 a 0 de um outro time lá. A equipe saiu do buraco e ele saiu do Noroeste e foi para o Comercial e o jogo seguinte do Comercial era contra o Saad, em São Caetano do Sul. E quem vai apitar? O árbitro que ele comprou e não pagou. O árbitro chegou no banco, eu lembro até hoje, e falou: ?O Tio, lembra aquele negócio de Bauru? Até hoje estou esperando e você vai ver o que é bom para tosse?. Ele deu três pênaltis contra o Comercial. Todo mundo conhece essa história em São Paulo. Naquela época era triste e você tinha que saber quem se vendia. Às vezes, mesmo você não querendo comprar, eles se ofereciam dizendo ?eu vou apitar, sai alguma coisinha aí??.?

O repórter

?Jogava Colorado e Londrina, na Vila Capanema, e o Alessandro levou um pescoção do Derval no hióide e quase matou. Ele caiu e, sem poder respirar, entramos eu e o doutor e fizemos o sinal para trocar. Veio um repórter e perguntou o que aconteceu. O doutor, para não ter que explicar tecnicamente, disse que o Alessandro tomou uma pancada no pomo-de-adão, mas está tudo bem. Aí o repórter chamou o locutor e disse que o jogador estava saindo porque tomou uma pancada no ?pomar? de adão. O repórter ainda está vivo, e na ativa.?

Manha

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?O Paraná precisava empatar com o Atlético na Baixada, um time poderoso, e nós armamos um esquema para parar o jogo quando a gente quisesse. Hoje, não se pode fazer mais isso porque as câmeras de tevê flagram tudo. O que eu fiz. Combinamos eu e o treinador, enchi o bolso de pilha, e peguei de várias marcas. Quando o jogo estava pegando fogo perguntava ao professor: ?Vamos parar o jogo?? Esparramei as pilhas em frente ao banco e chamei o árbitro, invadimos o campo e dissemos que estavam tacando pilhas na gente. Paramos o jogo por um tempão, esfriou o time e conseguimos o empate. O Munir Caluf era supervisor do Atlético e quase bateu em mim porque sabia que era eu.?