Na semana passada completou um ano da eleição de Marcos Malucelli como presidente do Conselho Administrativo do Atlético. Neste período, o clube teve como principal conquista o Paranaense 2009, mas em compensação voltou a flertar com o rebaixamento no Brasileirão.
Malucelli recebeu o Paraná Online em seu escritório e, dentre os assuntos, destaque para o primeiro ano à frente do Rubro-Negro, montagem do elenco para 2010, situação financeira do clube, a polêmica envolvendo torcidas organizadas, patrocínio e Copa do Mundo. Nesta edição serão abordados os dois primeiros tópicos.
Paraná Online – Qual análise o senhor faz desse 1.º ano como presidente?
Malucelli – Claro que não dá para passar um ano sem cometer erros. A intenção era ter só acertos, mas isso é impossível, principalmente no futebol. Aconteceram erros, por exemplo, na montagem do plantel. Se não tivessem acontecido não teríamos chegado até a penúltima rodada do Brasileiro para nos livrarmos do rebaixamento. Não se pode dizer que não acontecerão novos erros, mas não queremos que aconteça na magnitude de 2009.
Paraná Online – Durante e após a campanha eleitoral foi enfatizado que o clube brigaria pelas primeiras colocações nos campeonatos que disputasse. Conseguiu o título estadual, mas foi razoável na Copa do Brasil, desclassificado na 1.ª fase da Sul-Americana e brigou novamente para não cair no Brasileirão…
Malucelli – O objetivo continua estar entre os primeiros nas competições que disputarmos. Mas não podemos ficar restritos apenas ao estadual e aos torneios nacionais. Disputamos a Copa São Paulo de juniores e conquistamos um honroso vice-campeonato. Na Copa Metropolitana sub-15, fomos campeões. Estamos disputando o Brasileiro de juniores e indo bem. Chegamos à fase final do paranaense juvenil e de juniores, mas não conseguimos vencê-los. Então isso também são conquistas. Nas categorias de base vale a formação e não tanto o título. No final, eu quero saber dos técnicos quantos jogadores nós formamos para o profissional. Lá sim temos que ter anseio pelas conquistas.
Paraná Online – Esse êxito nas categorias de base se enquadra na promessa de investir mais em chuteiras?
Malucelli – Sem dúvida. Investir em chuteiras não é apenas trazer jogadores consagrados como Paulo Baier, Claiton e Alex Mineiro. Investimento em chuteira é também manter os jogadores vice-campeões na Copa São Paulo, firmando contratos de cinco anos e que vão garantir retorno financeiro ao clube nesse período. Pior seria lançá-los no profissional, eles despontassem e fossem embora por contratos curtos, como acontece em outros clubes. Sobre investir mais em chuteira e menos em tijolo, nós praticamente não investimos em tijolo. Apenas concluímos o 1.º anel da Brasílio Itiberê, que foi uma obra iniciada na gestão anterior. Se não investimos mais em chuteira é porque não temos muito mais para investir. Quando entrei, o Atlético era deficitário e continua, mas não no mesmo montante.
Paraná Online – Então ter herdado essa dívida (aproximadamente R$ 25 milhões) pode ser apontado como o fator que dificultou o seu 1.º ano de gestão?
Malucelli – Não tenha dúvida. Poderíamos ter feito mais, investido em outros jogadores. Mas não fizemos isso porque não tínhamos recurso para esse investimento. Não podemos endividar o clube e eu nunca farei isso. Eu quero diminuir os encargos do clube e não aumentá-los.
Paraná Online – Em 2009 não foram feitas muitas contratações, porém o índice de erros pode ser ,considerado grande…
Malucelli – Não sei exatamente quantos jogadores trouxemos, mas posso assegurar que nunca trouxemos tão poucos como em 2009. Para o Paranaense foram quatro; Marcinho e Wesley aprovaram. Depois para o Brasileiro trouxemos outros cinco, se tanto.
Paraná Online – Mas esse número reduzido é reflexo do quê?
Malucelli – É reflexo de uma maior atenção na contratação. Se levarmos em conta à quantidade de jogadores que nos oferecem, traríamos a média dos anos anteriores, de 20 a 30 atletas. Procuramos fazer uma seleção e, ainda assim, erramos. Erramos com o Lima, mas no momento foi uma aposta que todos aprovaram. O Preá foi outro erro, mas não nos custou nada. Depois tivemos empréstimos mal-sucedidos e os jogadores já foram comunicados que não vão continuar no clube. Erramos com o Eduardo, com o Zulu e procuramos corrigir com as dispensas. Erramos, mas não persistimos nos erros.
Paraná Online – Diante desse contexto, é muito difícil contratar no futebol brasileiro?
Malucelli – A qualidade técnica é pouca. Você tem que considerar que os de melhor nível técnico estão na Europa, os de segundo nível também estão na Europa como suplentes. Os de terceira estão no leste Europeu e os demais na Ásia. Então poucos ficaram no Brasil. A qualidade técnica aqui caiu e não estou dizendo nenhuma novidade.
Paraná Online – A situação financeira dos clubes brasileiros possibilita fazer grandes contratações?
Malucelli – A situação financeira não contribuiu e os salários dos jogadores estão inflacionados. Estamos tentando trazer jogadores e eles estão pedindo valores exorbitantes, que o torcedor não imagina. São jogadores que não são titulares sequer em suas equipes no Brasil e querem altos valores.
Paraná Online – Se o Atlético não tem condições financeiras de pagar altos salários e competir com outros grandes clubes, como trazer jogadores de nível para atuar aqui?
Malucelli – Não trouxemos o Paulo Baier que é de nível e provavelmente um dos melhores jogadores do Brasileiro? Então. Ele é um jogador diferenciado. Não levou em consideração apenas a questão salarial, senão estaria no eixo Rio-São Paulo, em Porto Alegre ou Belo Horizonte. Ele viu outras condições. Um jogador como Baier leva em consideração a estrutura do clube, as condições de trabalho que o clube oferece, a pontualidade nos pagamentos. Se o jogador tem essa visão, ele pode optar por um salário inferior ao daquelas praças.
Paraná Online – Então essa é a atual batalha do Atlético. Convencer os jogadores sobre essas vantagens?
Malucelli – É isso. Temos que mostrar aos jogadores as condições que ele terá ao seu dispor. A infra-estrutura da Arena, do CT, do departamento médico e fisiologia, restaurante, hospedagem. Alguns jogadores consideram isso, aqueles que já estiveram em outros clubes e sabem das dificuldades. Caso do Claiton, Alex Mineiro. Os mais novos ainda não conseguem ter essa visão.
