Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, foi intimado a depor como testemunha em um processo por ter conduzido a negociação entre a entidade e agentes estrangeiros por um contrato para administrar os amistosos da seleção brasileira. O caso na Justiça é uma disputa trabalhista entre executivos de empresas ligadas ao futebol, entre eles o Grupo Figer. Mas Del Nero foi convocado para o dia 8 de setembro como testemunha, por sua participação na negociação. O cartola insiste que, como vice-presidente da CBF, não participava das decisões tomadas por Marin.

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O caso está sendo tratado pela 24.ª Vara da Justiça do Trabalho de São Paulo e é uma disputa entre executivos e o Grupo Figer. Mas uma das partes colocou Del Nero como testemunha, diante de sua presença nas negociações comerciais da CBF no Brasil, Londres, Budapeste e Alemanha. Até o final da noite desta terça-feira, a CBF não respondeu se Del Nero compareceria ou comentaria a convocação.

A reportagem revelou que um dos maiores agentes no mercado internacional de jogadores de futebol propôs um acordo com a CBF para também se envolver nos amistosos da seleção brasileira. Assim que José Maria Marin assumiu a CBF em 2012, o Grupo Figer entrou em contato com o então vice-presidente Marco Polo Del Nero para tentar intermediar um acordo com a empresa Kentaro.

Pelo contrato, o contrato ainda seria feito por meio de uma empresa no exterior, a Plausus, sediada em Londres. Os agentes ficariam com US$ 132 milhões por permitir mais de 100 jogos da seleção entre 2012 e 2022. O contrato apenas não prosperou diante de uma negativa de Ricardo Teixeira, que à distância ainda influenciava nas decisões da CBF.

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De acordo com contratos e e-mails obtidos pela reportagem, o primeiro contato nesta negociação foi feito por Marcel Figer com Del Nero em 2012. Depois de uma série de discussões, a Kentaro, o Grupo Figer, Marin e Del Nero fixaram um encontro em Londres, no dia 25 de abril de 2012, no hotel Claridge. No início de maio, Del Nero e Marcel voltariam a se reunir em encontro na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF).

O mesmo Marcel, no dia seguinte, visitaria José Maria Marin em seu apartamento na rua Padre João Manuel, em São Paulo. No dia 21 de maio, o advogado do Grupo Figer, Alexandre Verri, elaborou a minuta do contrato entre Figer e Kentaro, prevendo as condições para a intermediação na renovação do contrato com a CBF. Para figurar como agente no contrato, o Grupo Figer optou por indicar a Plausus UK LTD, com sede em Londres.

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HOMEM FORTE – E-mails entre empresas e agentes obtidos com exclusividade pela reportagem revelam que o atual chefe da CBF era a pessoa incontornável em todas as negociações na entidade desde que Ricardo Teixeira deixou a CBF em março de 2012. Mesmo despachando da Federação Paulista de Futebol, ele recebeu empresários em São Paulo para tratar de contratos da CBF.

O esforço dos últimos meses de Del Nero em se afastar da gestão Marin se contradiz com o que atores do mercado, a Fifa e empresas ligadas ao futebol o tratavam.

No dia 21 de março de 2012, dias depois da renúncia de Teixeira e da posse de Marin, um dos altos funcionários do Grupo Figer enviaria um e-mail a Philipp Grothe, chefe da Kentaro, empresa que tinha dos direitos dos amistosos do Brasil. Na mensagem, ele descrevia a mudança de governo na CBF. “Tenho um encontro com Marco Polo Del Nero. VP (vice-presidente) da CBF, o homem forte agora”, escreveu o representante.

Quando o acordo com a Kentaro não funcionou, Grothe escreveu aos Figers para protestar diante da decisão da CBF de assinar com outra empresa, a Pitch. Uma vez mais, fica claro que Del Nero fazia parte de todas as conversas. “24 horas antes, Marin e Del Nero nem tinham ouvido falar da Pitch”, se queixou. Ao escrever de volta, os representantes da Figer indicavam que precisavam encontrar uma forma de “forçar Marin e Del Nero a cancelar o acordo”.

Mesmo perdendo o contrato, a Kentaro reforçaria em mais um email de setembro de 2012 a intenção de se aproximar da CBF. Uma vez mais, era o nome de Del Nero o usado como referência. Falando sobre um novo contrato, a empresa via a negociação “como uma boa oportunidade de fortalecer as relações com Marco Polo e Marin”. A mensagem era de 17 de setembro, para André e Marcel Figer.