São Paulo – Márcio Bittencourt, o auxiliar que comanda o Corinthians, pelo menos até domingo, foi um volante raçudo. Um cabeça-de-área à moda antiga, desses que saem de campo com as pernas raladas de tanto distribuir carrinhos atrás dos atacantes rivais. Ironicamente, foi sob o comando dele que o Corinthians conseguiu sua maior goleada nos últimos anos: 6 a 1 sobre o União São João, dia 5 de março, pelo campeonato paulista. Foi a transição da ‘era Tite’ para a ‘era Passarella’.
"Aquele jogo foi uma primeira experiência maravilhosa", resume Márcio. Agora, novamente, ele assume a equipe. No jogo contra o Atlético, domingo, em Curitiba, vai tentar escalar uma formação mais ofensiva: sai o 3-5-2, entra o 4-4-2.
"Naquele jogo contra o União, eu já tinha feito isso", lembra Márcio, que explica: "Escalei jogadores que, conforme a necessidade, podiam até mudar o esquema rapidamente para o 3-5-2 novamente. A idéia é essa".
Como auxiliar-técnico, Márcio está há dois anos no clube que já havia defendido como jogador entre o fim dos anos 80s e o começo dos 90s.
Sonhando ser treinador (pendurou as chuteiras em 96, no Internacional de Porto Alegre), ele apareceu no Parque São Jorge em 2003, para fazer um estágio com Geninho, técnico do time na época. Geninho caiu. Júnior, Juninho, Oswaldo de Oliveira, Tite e, mais recentemente, Passarella também não duraram muito no cargo. Mas Márcio foi ficando, ficando, ficando…
"Claro que eu sonho ser o técnico do Corinthians. Quando vim aqui para aprender, sonhava com isso. Mas não adianta falar de futuro agora. Quero falar de presente, e o presente é o Atlético Paranaense", avisou.
Aos 40 anos, Márcio se diz preparado para a função de treinador. No trato com os boleiros, ele já mostrou que é bom: todos os jogadores do grupo o adoram. Com a torcida, acredita que não terá problemas, já que é um ex-jogador do próprio clube. E com a imprensa, aos poucos, ele vai aprendendo a lidar. "Antes, ninguém me ligava, só minha mulher. Agora, já tenho 18 chamadas não atendidas no meu celular", brincou.
Márcio não acha que esteja entrando numa fogueira ao assumir, mesmo que interinamente, um time em crise. "Para mim, é fácil assumir a equipe. Conheço todos os jogadores, converso com todos, mesmo com os que chegaram há pouco tempo. Sei que o resultado de domingo passado foi uma coisa atípica e que esta equipe tem qualidade", afirmou.
Apesar do pouco tempo de convivência – foram apenas dois meses -, Márcio disse que ficou abalado com a demissão de Daniel Passarella. "Se eu falar que não senti a saída do Passarella e do Alejandro (Sabella, o auxiliar argentino), estarei mentindo. Por mais que a gente saiba como são as coisas no futebol, a gente também é ser humano e sente a saída de dois companheiros. Convivi mais com eles do que com a minha família nos últimos meses", revelou.
Márcio contou que tinha uma ótima relação com Passarella assim como com todos os seus antecessores. "A gente tinha aquela imagem do Passarella que era técnico da Argentina, um homem muito rigoroso. Mas aqui ele demonstrou ser o contrário, um homem muito simpático."