?Sonho meu, sonho meu / vai buscar quem mora longe / sonho meu…?. O Coritiba tem uma expectativa viva, a de permanecer na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. E a hora da definição está chegando – o jogo com o Internacional é amanhã, às 16h. O Couto Pereira deve estar lotado e a torcida segue acreditando no sonho de escapar do rebaixamento. E o técnico Márcio Araújo foi buscar, em uma das sambistas mais importantes da história, o exemplo para os jogadores do Coritiba.
A música acima, Sonho Meu, foi sucesso de Maria Bethânia e Gal Costa no final dos anos 70. A autora é Dona Ivone Lara, 84 anos, ?bamba? da ala dos compositores da Império Serrano, uma das escolas de samba do Rio de Janeiro que têm o verde e o branco como suas cores. E Márcio Araújo teve um encontro com Ivone Lara no hotel onde o treinador do Coritiba está morando.
Márcio fala com alegria da conversa. ?Dona Ivone está com 84 anos e mais alegre do que nunca. Ela faz shows, dorme às três da madrugada e às cinco horas está acordada, feliz e pensando no futuro. Acho isto fantástico, porque prova que a pessoa precisa fazer o que gosta para se sentir bem. E nossos jogadores gostam de jogar futebol, de alegrar a torcida. E é isto que eu quero que eles façam contra o Internacional?, filosofa.
Com tanta alegria, ele garante que o grupo alviverde não está sentindo a pressão do relógio e da contagem regressiva para a partida de amanhã. ?Eles estão conscientes de que o jogo está chegando, o que é ótimo. Temos que usar o tempo a nosso favor. O relógio corre de acordo com a sua motivação?, garante o técnico, que está satisfeito com o rendimento do time nos treinamentos. ?Foi ótimo, a gente está vivendo um momento maravilhoso. Duvido que mesmo os times que estão lutando pelo título tenham um grupo tão unido e concentrado?, afirma.
Os jogadores concordam com o treinador. ?Nós estamos confiando nas nossas virtudes e isto nos deixa prontos para o jogo. Ninguém está nervoso ou ansioso?, diz o atacante Alcimar. ?Claro que a gente fica esperando, mas é melhor que o tempo passe logo.
A gente quer que a partida aconteça o mais rápido possível, para poder tirar o Coritiba desta situação. Só depende da gente?, concorda o meia Caio.
E, se dizem estar tranqüilos, imaginam como está batendo o coração do torcedor. ?Quando eu estou fora dos jogos, eu não consigo assistir as nossas partidas. Eu passo mal, fico preocupado. Entendo como o nosso torcedor deve estar neste momento?, diz o zagueiro Anderson, que também assegura que ele e seus companheiros estão prontos. ?A gente não sente tanto. Sentimos sim a vontade de entrar em campo, vencer o Internacional e terminar o Brasileiro na primeira divisão?, finaliza. Até porque, como diz Dona Ivone Lara, ?a madrugada fria só traz melancolia?.
Anderson vira dúvida
Bem que Márcio Araújo pretendia definir ontem o Coritiba para o jogo decisivo de amanhã, às 16h, contra o Internacional, no Couto Pereira. Só que, no momento em que confirmava a escalação de Rodrigo Batata na lateral-direita (e uma formação mais agressiva), o treinador teve o susto. O zagueiro Anderson sentiu a coxa esquerda e deixou o treino antes do final. Com isso, ele tornou-se a única dúvida alviverde para o jogo que pode tirar a equipe do rebaixamento.
Foi em um lance banal. ?Ele foi subir para cabecear e acabou sentindo a coxa?, conta o médico Walmir Sampaio, que retirou-o do coletivo e imediatamente começou o tratamento intensivo. ?Foi só uma contratura, está tudo bem?, garante Anderson, que tem um posicionamento bem mais otimista que o médico. ?Ele está com uma dor forte no músculo adutor da coxa esquerda. E a gente vai deixá-lo fora dos treinos. A definição só acontece domingo?, afirma.
Márcio Araújo, apesar de preocupado, mantém a tranqüilidade. ?Acho que isso acontece pelo excesso de jogos, pelo cansaço. Mas não vai ter problemas, o Anderson deve jogar. E, se acontecer alguma coisa, o Vágner está pronto?, afirma o treinador alviverde. ?Se for preciso, estou pronto para jogar e ajudar o Coritiba?, garante o zagueiro.
A lesão de Anderson é a única pedra no sapato de Márcio Araújo, que confirmou o restante da equipe. Ele já gostou do rendimento de Rodrigo Batata nos treinos de quarta e quinta, e ontem usou o armador todo o tempo na lateral-direita. ?Nesta hora, cada jogador tem que entrar com sua cota de sacrifício. E eu vou fazer o máximo para fazer o Coritiba vencer?, diz o jogador.
O técnico explica que o sistema de jogo a ser usado – a princípio, o 4-4-2 – pode ser modificado a qualquer momento. ?Foi bom ver que o time trabalhou bastante e entendeu o nosso pensamento. E vamos ter dez jogadores na linha que podem fazer três ou quatro sistemas diferentes, mudando ao sabor da partida?, explica Márcio Araújo, que acredita em um duelo tático com o Colorado. ?Neste jogo, por mais que haja motivação, você precisa de estratégia. Só a conversa não adianta, temos que jogar bom futebol?, resume.
Técnico aposta a ?cabeleira?
Uma promessa inacreditável. O técnico Márcio Araújo avisou ontem os jornalistas que vai pagar em campo o juramento que fez no CT da Graciosa – caso o Coritiba permaneça na primeira divisão, ele vai raspar os cabelos. Isto mesmo: Márcio disse que vai cortar a cabeleira cultivada há anos, e tratada com gel, produto que ele mesmo ironiza em suas entrevistas.
O treinador já insinuou, na quinta, que poderia cometer tal ato. ?Vou fazer uma coisa incrível se a gente ficar na Série A?, afirmou. Ontem, Márcio Araújo confirmou. ?A gente brinca, mas acaba se tornando algo também para motivar os jogadores?, comenta. Ele não está muito interessado em ficar careca, mas no Coritiba a expectativa já é grande.
O meia Rodrigo Batatinha foi cauteloso ao falar sobre o assunto. ?Bem, a gente sabe que ele gosta do cabelo. E, se for melhor para a gente, que no final da partida ele fique meio careca?, afirma. Em contrapartida, o atacante Alcimar já faz planos. ?Eu quero estar no meio?, diz o jogador, que lembra de cenas da concentração. ?Na hora das conversas com a comissão técnica, a gente percebe que ele é o último a chegar, depois de todo mundo. Fica bem claro que ele cuida muito do cabelo?, afirma.
Márcio, que usa o estilo de penteado com gel desde que começou a carreira de treinador, faz a promessa para mostrar ao elenco que é a hora de se sacrificar pela salvação do Coxa. ?Nestes momentos, é necessário que cada um se doe mais, que abra mão de algumas coisas pelo clube. E não pode se pensar em coisas materiais?, diz ele, que já anda preocupado. ?Espero que o cabelo não demore para crescer?, brinca.
