Marcelo Oliveira chegou ao Paraná Clube no início do ano. Discretamente, como um bom mineiro, foi mostrando seu trabalho e ganhando a confiança de jogadores, diretoria e torcida. Aos 55 anos, está “vivendo intensamente” – nas suas próprias palavras – essa primeira real experiência fora de Minas Gerais. Driblando problemas já crônicos, conseguiu formar uma base e agora tenta um objetivo maior: conduzir o Tricolor de volta à primeira divisão nacional. Para quem convive com o treinador, principalmente aqueles mais próximos, ele seria um misto de Otacílio Gonçalves e Levir Culpi. Em tempos de maior dificuldade, luta para escrever seu nome na história do azul, vermelho e branco.
Paraná-Online: Você conquistou respeito e confiança após esses quatro meses à frente do clube. Como se sente com tudo isso?
Marcelo Oliveira: É muito bom ver o reconhecimento do trabalho e que foi pautado sempre por muita dificuldade. Estou feliz no clube e na cidade. Mas são apenas quatro meses. Pretendo ficar pelo menos o ano todo, desenvolver o trabalho e ajustar algumas situações para que tudo se desenvolva de forma mais tranquila. É normal a manifestação do torcedor quando um time não vai bem, mas é gratificante quando há o reconhecimento de que você está fazendo o melhor que pode. Nós tivemos um time que defensivamente foi muito bem, pela competência dos zagueiros e de um goleiro experiente. Também criamos muitas chances nos jogos e talvez aí, com um pouco mais de tranquilidade, a gente poderia ter tido maior sorte no campeonato e até disputado o título.
Paraná-Online: Qual foi o grande mérito seu e da sua comissão técnica?
Marcelo: Nós tivemos a dificuldade de montar um grupo, diante da disponibilidade do clube. Precisávamos de jogadores de forma emergencial e houve dificuldade nesse sentido. Mas acabamos formando um grupo altamente profissional, digno, que trabalha muito e honrou a camisa do Paraná. Pode ser que não tenha sido brilhante tecnicamente, que não deu espetáculo, que falhou em alguns momentos. Mas, foi um time que brigou o tempo todo, mesmo nas situações adversas. Mostrou que é um grupo guerreiro. E não tem mérito nenhum só meu. É mérito de todo mundo, uma comissão técnica muito interessada, envolvida no trabalho e procurando sempre soluções para o time. É isso que nos fortalece e dá estímulo para o Brasileiro.
Paraná-Online: Qual o momento mais difícil?
Marcelo: Eu acho que chegar num clube que está se reestruturando nunca é fácil. O início do ano foi difícil, pois o torcedor vem a campo e, com toda a razão, não quer saber dos problemas. Quer um time que possa jogar bem e representando bem a sua camisa. Quer o resultado. Tivemos alguns empates, jogando em casa, que foram amargos. Por culpa nossa mesmo, por falha, desatenção ou de estar num processo de ajustamento do time. Mas, sempre mantive a cabeça erguida, consciente do trabalho que estávamos fazendo. Já no final do campeonato, a gente tinha um padrão, uma maneira de jogar, mais consistente. Em qualquer lugar do mundo, não se consegue montar uma equipe do dia pra noite. É através de boa qualidade dos atletas, de uma estrutura e cercando todos os problemas para que o time possa jogar de forma tranquila, focada e concentrada apenas no jogo.
Paraná-Online: O Paraná está trazendo pelo menos dez jogadores. O ajuste será, agora, mais rápido?
Marcelo: Eu acredito que sim. Aposto muito nisso. Já temos uma base e uma forma de jogar. Precisamos encaixar essas peças que estão chegando. Vejo alguns jogadores de muita qualidade. Alguns vão se adaptar rapidamente, mas é natural que outros tenham dificuldades no começo, pois vão trabalhar num clube de maior expressão, num campeonato de maior visibilidade e com torcida mais exigente. Mas a esperan&c,cedil;a é muito grande. Com a base que tínhamos e esses que estão vindo, podemos formar um grupo capaz de buscar a ascensão para a Série A.
Paraná-Online: Quais são os grandes adversários?
Marcelo: Não vejo um grande adversário, mas vários concorrentes. Seja pela tradição, como Sport, Náutico, Portuguesa, ou seja pela organização e pela base que já têm, como Santo André, Figueirense, Coritiba. São pelo menos dez times em condições de brigar para subir e o Paraná tem que estar entre elas sempre. O Paraná tem que vislumbrar grandes objetivos para que a gente possa trabalhar por grandes coisas. Esta é a orientação do dia a dia para os jogadores: estar fazendo a cada treinamento, a cada jogo, o seu melhor. Buscando o objetivo maior, que é subir e fazer a sua história do Paraná Clube.
Paraná-Online: Em anos passados, o Paraná vendeu a imagem que iria subir e não passou do 10º lugar. Hoje, sem a mesma visibilidade o caminho pode ser diferente?
Marcelo: Tenho que pensar sempre nesse sentido. Sou otimista por natureza e trabalho muito, junto com a comissão técnica. Você pode buscar o retrospecto dos últimos anos para mostrar para os jogadores que podemos fazer diferente. E estar lutando sempre por algo melhor, na estrutura, no campo de treinamento… Esse é o único caminho. Se você ficar olhando pro passado e imaginar que pode acontecer novamente, você não chega a lugar nenhum. Confio nos atletas que estão vindo. Se não é o ideal, são jogadores que querem crescer. Esses atletas que estavam no interior do Paraná e de Minas vieram para buscar uma evolução em suas carreiras. Vão lutar muito por isso e podemos montar um time forte, capaz de vislumbrar algo melhor do que nos anos anteriores.