Jerusalém será palco de uma grande festa nesta madrugada de quinta para sexta-feira (no horário de Brasília), quando receberá turistas de todo o mundo para a sétima edição da Maratona de Jerusalém. Pelo menos por um dia, a expectativa é de clima de harmonia entre os mais diferentes povos, inclusive israelenses e palestinos, que há muitos anos mancham a história da capital israelense através de seu interminável conflito.
É nisso que acredita Israel Haas, fundador da Runners Without Borders (Corredores Sem Fronteiras). Após uma nova troca de ataques de bombas entre Palestina e Israel em 2014, que deixou centenas de mortos de ambos os lados, ele decidiu criar esta equipe de maratonas, que incentiva árabes e judeus a participarem juntos das provas.
“São garotos e garotas, com idades de 16 a 19 anos, que participam”, explica. “Estamos em busca de aumentar o desejo deles pela corrida, de diminuir o ódio entre os lados de Jerusalém. Mesmo que a princípio a motivação seja apenas participar do grupo e correr, eles acabam se tornando grandes amigos.”
A equipe já conta com 60 pessoas, sendo que, destas, aproximadamente 35 correrão pelas ruas de Jerusalém nesta sexta. Para mantê-la, Haas promove sessões de crowdfunding e faz questão de não se manifestar politicamente a favor de nenhum dos lados. “Por isso não temos represália. No início do projeto, tentaram nos trazer para um ou outro lado, mas fizemos questão de nos mantermos neutros. A mensagem política que mandamos é sobre unificação.”
Projetos como os de Haas tentam impedir a dor de famílias como a de Hadas Mizrchi. Israelense de 39 anos, ela perdeu justamente em 2014 seu marido, então chefe de um departamento da polícia de Israel, em um atentado. O ataque também quase tirou a vida dos cinco filhos do casal e da própria Hadas, que ficou internada por um longo período em estado grave. “Estávamos jantando na casa da minha mãe, quando terroristas atiraram em nós. Meu marido foi morto e meus cinco filhos ficaram feridos”, lembra.
Para superar a perda do marido, com quem estava há 20 anos, Hadas se apoiou em outro grupo: o One Family (Uma Família). Criada em 2001, a organização tem como finalidade auxiliar sobreviventes e familiares de vítimas deste conflito. “Oferecemos todo tipo de assistência: médica, psicológica e até financeira. A ideia é que outras famílias possam ajudar aqueles que estão sofrendo. Já levantamos US$ 45,5 milhões para cerca de 11 mil pessoas”, contra Ross Barkley, um dos líderes do grupo.
A One Family também estará representada pelas ruas de Jerusalém na maratona desta sexta, inclusive por Hadas e seus filhos. Será a primeira maratona dela desde o ataque. A prova servirá como uma forma de deixar de vez para trás a dor dos últimos anos e também homenagear o marido.
“Meu marido correu maratonas por anos e, agora, eu decidi homenageá-lo correndo com meus filhos. Será muito difícil para mim, porque ainda tenho lesões sérias nas costas, no nariz e nos olhos. Mas me dará felicidade e força. Meus filhos viram o terror, viram o pai ser morto. Mas precisamos nos reerguer, e essa é uma chance”, conta Hadas.
A largada da prova principal da Maratona de Jerusalém está marcada para as 2h (de Brasília) de sexta (7h, no horário de Jerusalém). Além da distância oficial de 42,195km, haverá também as disputas em 21,1km, 10km e 5km.