No dia em que o Rio atraiu a atenção mundial com o sorteio das eliminatórias da Copa de 2014, centenas de manifestantes pediram a saída de Ricardo Teixeira da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O protesto, convocado pela Frente Nacional dos Torcedores e pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, ganhou a adesão hoje de partidos políticos de esquerda e de movimentos sociais.
A manifestação, denominada “Marcha por uma Copa do Povo: Fora Ricardo Teixeira”, denunciava a falta de transparência sobre os gastos públicos nas obras para o mundial e a má alocação de um volume de recursos considerado excessivo nos projetos da Copa em detrimento de outras prioridades do País.
Segundo estimativas da Polícia Militar, cerca de 1.500 manifestantes seguiram pelas ruas da Zona Sul do Rio até o acesso à Marina da Glória, local do sorteio, no Aterro do Flamengo. A intenção era entregar uma bola gigante cheia de documentos com denúncias e reivindicações para os presidentes da República, Dilma Rousseff, e da Fifa, Joseph Blatter. Mas integrantes do protesto foram impedidos de avançar por homens do batalhão de choque da Polícia Militar, munidos de gás, balas de borracha, cachorros e cavalos.
O presidente da Frente Nacional dos Torcedores, João Marques, disse que há outras duas manifestações programadas, embora ainda sem data definida, em São Paulo e Brasília. Segundo Marques, o site do movimento já tem mais de dez mil pessoas cadastradas. “A Copa do Povo é uma Copa em que o povo tem acesso aos estádios, em que há transparência dos gastos públicos, uma Copa em que o governo não gaste R$ 30 milhões em uma festa apenas para o sorteio de eliminatórias. Nós queremos que o futebol não seja elitizado”, disse Marques.
Ricardo Teixeira, citado entre as denúncias recentes de corrupção que colocara a Fifa em suspeição, é um dos principais alvos do movimento. O torcedor Gabriel Toledo, estudante de psicologia, viajou de Belo Horizonte ao Rio para dar seu apoio à campanha contra o dirigente da CBF. “O povo brasileiro no geral é omisso. Está tudo errado. O Teixeira está vendendo um bem público, que é o futebol”, afirmou.
Professores da rede estadual em greve há quase três meses engrossaram o protesto, aproveitando o espaço para chamar atenção para as reivindicações da categoria, entre elas o reajuste salarial. Vera Nepomuceno, uma das coordenadoras do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), declarou que a adesão se justifica, porque a Marcha pela Copa denuncia que há outras prioridades no País que poderiam ser atendidas pela verba que será destinada à preparação dos jogos, como uma educação de qualidade. “A verba pública tem que estar a serviço da educação.”
Também participaram estudantes e famílias que serão removidas de suas casas para obras de infraestrutura para a Copa, como a Transcarioca, um corredor de ônibus planejado pela prefeitura para melhorar o deficiente sistema de mobilidade urbana da capital fluminense até o mundial.
Apesar de alguns manifestantes exaltados, não houve confronto durante a marcha. Alguns integrantes sentaram no chão e interromperam o tráfego no aterro. Para organizadores da manifestação, a polícia não respondeu com força porque poderia prejudicar a imagem da cidade no exterior, já que a imprensa internacional estava presente em massa no evento. “Havia um receio de confronto e a polícia hoje foi extremamente amável porque está toda a imprensa estrangeira em cima. Em qualquer outra situação, já tinham jogado gás de pimenta na gente”, disse Gustavo Mehl, representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas.