Um ponta-direita de habilidade, driblador. Assim era Julinho Botelho, o grande craque na Copa do Mundo de 1954 e um dos maiores atletas da história do país.
O atacante começou a carreira relativamente tarde, aos 21 anos, no Juventus. No ano seguinte, se transferiu para a Portuguesa, onde conquistou dois títulos do Torneio Rio-São Paulo. A estréia de Julinho na seleção aconteceu em 1952 e logo o jogador sagrou-se campeão Pan-Americano, no Chile.
Depois do Mundial da Suíça, Julinho recebeu um convite para jogar na Fiorentina. O jogador foi para a Itália e ajudou o time a ganhar o seu primeiro “scudetto”, na temporada 56-57. Antes da Copa de 58, o técnico Vicente Feola pensou em chamá-lo para a disputa do Mundial. Julinho não aceitou o convite, dizendo que a vaga na seleção deveria ficar com alguém que jogasse no Brasil. Em seu lugar, Feola resolveu chamar um outro ponta-direita habilidoso e driblador, que jogava no Botafogo e se chamava… Garrincha.
Julinho voltou ao Brasil após a Copa da Suécia para defender o Palmeiras. Em 1959, num amistoso contra a Inglaterra, no Rio, o atacante foi vaiado por todo o estádio porque ocupava o lugar de Garrincha. Julinho marcou um gol logo aos 2min, deu o passe para o outro gol e acabou com o jogo. No final, a torcida reconheceu o talento de Julinho e aplaudiu o jogador. De pé.
O atacante encerrou a carreira em 1966, no Palmeiras. Na seleção, fez 27 partidas e marcou 13 gols (o mesmo número marcado por Garrincha). É considerado o segundo melhor ponta da história, atrás, apenas, de Mané Garrincha.
Talvez por isso, nem a forte chuva que caiu na manhã deste domingo, na capital paulista, impediu que centenas de pessoas fossem dar o último adeus a Julinho Botelho. Ele morreu no último sábado, aos 72 anos, vítima de uma parada cardíaca. Torcedores de Palmeiras, Portuguesa, Rio Branco (time da várzea da Penha) e muitos admiradores estiveram no velório, e acompanharam o enterro, que aconteceu no cemitério da Penha.
Um dos mais emocionados ontem era o narrador Fiori Gigliotti. Amigo pessoal de Julinho Botelho, ele não conseguia esconder o abatimento.
– Conversávamos sempre por telefone. Sabia que ele estava muito doente, mas sempre havia a esperança de que a situação pudesse mudar – lamentou Fiori, que garante ter sido o responsável pela volta de Botelho ao futebol brasileiro, em 1959.
Naquela época, Julinho Botelho era ídolo na Fiorentina, que vinha da conquista de dois scudettos.
– Levei uma proposta do presidente Mário Benne para que ele voltasse ao Palmeiras. Fui achá-lo em um castelo que morava perto de Firenze. Como ele sentia muitas saudades do Brasil, não foi difícil convencê-lo – lembrou.
Para o ex-goleiro Oberdan Cattani, Julinho Botelho entrou como jogador para uma seleta lista de pontas que desequilibravam dentro de campo.
– Ao contrário do Garrincha, que tinha habilidade, o Julinho levava vantagem porque era muito veloz. Ele sabia o que fazer com a bola. Além deles, me lembro do Teixeirinha e do Cláudio Cristóvão – disse.
Oberdan lembrou que há dois anos, tentou organizar uma visita dos ex-jogadores que atuaram com Julinho.
– Mas os filhos acharam que não seria bom. Ele já tinha problemas de coração e achavam que seria muita emoção para ele. Fico triste, mas tenho certeza de que ele vai descansar em paz – ressaltou Cattani.
Por volta das 14 horas, um carro do Corpo de Bombeiros saiu pelas ruas da Penha. No caminho, muita aplausos. Alguns não conseguiam esconder as lágrimas.
– Ele era uma celebridade aqui. Muita gente não sabe que ele morreu, senão a rua estaria toda interditada – disse Paulo, um dos cinco filhos do ex-jogador.
No caixão que levou o corpo de Julinho Botelho, as lembranças dos times que defendeu durante a carreira.
– Jogadores como ele hoje não existem – disse Oberdan Cattani.