A estabilidade do setor defensivo da seleção brasileira depende, e muito, de Luiz Gustavo. Não será diferente diante da Croácia, nesta quinta-feira, no Itaquerão. Quem garante é o técnico Luiz Felipe Scolari, que deu ao jogador atribuições de um zelador dos laterais Daniel Alves e Marcelo e dos zagueiros Thiago Silva e David Luiz. Sobrecarregado, o volante tem de se virar para proteger a defesa e ajudar os meias na saída de bola.
Não seria uma missão árdua para Luiz Gustavo, não fosse por um problema: os pontos vulneráveis da seleção são visíveis quando os laterais descem ao ataque. Nem Daniel Alves e muito menos Marcelo são fortes marcadores. Gostam de atacar o tempo todo e, não raro, deixam em risco o sistema defensivo. Quem tem de preencher essa lacuna é Luiz Gustavo.
Discreto com um auxiliar de escritório, o volante se desdobra como um leão em busca da presa na tentativa de socorrer os laterais e afastar o perigo da região habitada pelos zagueiros e o goleiro Julio Cesar. Na maioria das vezes ele executa com êxito. Daí os elogios do chefe. “O Luiz Gustavo não é de falar muito, mas seu trabalho é fundamental para o time. É um dos jogadores que mais confio. É inteligente e cumpre seu papel dentro de campo com precisão. Passo as instruções a ele e fico tranquilo porque eu sei que vai fazer tudo o que pedimos”, disse Felipão.
A tarefa do volante é um verdadeiro abacaxi. Tem de ficar atento ao movimento de Daniel Alves e Marcelo, sempre espevitados no apoio ao ataque, e às andanças de Thiago Silva e David Luiz, zagueiros que arriscam muito na hora de dar o bote nos atacantes.
Outro “drama” de Luiz Gustavo é não ter um parceiro ali na zona de marcação com a mesma pegada. Paulinho, o segundo da hierarquia a proteger a zaga, também vai bastante ao ataque e, muitas vezes, deixa o campo aberto para o adversário ocupar. Quando Paulinho sai da defesa e avança, quem chega é Luiz Gustavo.
Chega sem alarde, sem algazarra. Aliás, quase não se ouve a voz do volante nos jogos, treinos e contatos com a imprensa. Guga, como era chamado quando se aventurava como atacante, não é mesmo de chamar atenção com gritos comuns aos jogadores de sua posição.
Luiz Gustavo, assim como a maioria dos 23 eleitos por Felipão para disputar a Copa, teve um início difícil no futebol. Nascido em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, em São Paulo, ele, aos 16 anos, perdeu a mãe que não resistiu a um enfarte. No momento de muita tristeza, prometeu que ia vencer no futebol e cuidar de toda a família. “Disse que ela (a mãe) não tinha deixado um menino mais, tinha deixado um homem”, conta.
A carreira começou a tomar um rumo ao passar em um teste no CRB, de Alagoas. Em pouco menos de seis meses, Luiz Gustavo assinava seu primeiro contrato profissional. Perambulou por seis clubes alagoanos até conseguir uma transferência para o Hoffenheim, da Alemanha.
Dali deu um salto expressivo na carreira ao assinar com Bayern de Munique e a frequentar listas de convocações da seleção brasileira. Em pouco tempo no poderoso clube alemão, colecionou títulos relevantes como o Campeonato Alemão, a Copa da Alemanha e a Liga dos Campeões da Europa.
Campeão de tudo no Bayern, Luiz Gustavo ficou em segundo plano com a chegada do técnico Pep Guardiola. Após a conquista da Copa das Confederações, atendendo a um conselho de Felipão, trocou o clube de Munique pelo Wolfsburg para poder jogar com frequência.
Felipão avisou que jogador de seleção tem de jogar, seja qual for o clube. No Bayern, o volante seria reserva, por isso mudou de casa. A troca deu certo. Luiz Gustavo é titular do Wolfsburg e já acumula 23 convocações, 17 jogos e um gol pela seleção brasileira.
Com Felipão no comando, ele terá vida longa. Na Copa vai jogar como Edmílson fez no Mundial de 2002 exercendo a função de terceiro zagueiro e volante ao mesmo tempo. Sempre atento aos pedidos do chefe e de olhos abertos como um cão de guarda a vigiar a casa do patrão.