Opinião

Luiz Felipe Scolari é o grande favorito a virar o “Barbosa” da vez

Hora da virada

O esporte nacional preferido após uma derrota (no futebol, de seleção ou de clube, de qualquer esporte, na política, até nos planos econômicos do passado) é encontrar um responsável. Nesse momento, Luiz Felipe Scolari é o grande favorito a virar o “Barbosa” da vez. Se os derrotados de 1950 foram recuperados indiretamente com o vexame na semifinal da terça-feira – como pedia o jornalista Geneton Moraes Neto aqui na Tribuna antes da Copa -, não será escolhendo um ou mais (Fred, Marcelo, Dante, Bernard?) vilões pela humilhação imposta pela Alemanha que vamos avançar. O fiasco mundial é uma oportunidade de ouro para uma virada na gestão do futebol brasileiro.

Analistas apontaram, com muita razão, que falta atenção à base. Não formamos mais jogadores com estilo brasileiro, esquecemos claramente da formação dos atletas, queremos que garotos de dez ou onze anos lutem por títulos e já saibam compreender orientações táticas complexas – que geralmente nem os treinadores sabem explicar. Da mesma forma, as seleções de base não formam ninguém, apenas tentam ser campeões a qualquer custo (inclusive a custo de vergonhas como as campanhas recentes nos mundiais e sul-americanos).

Analistas também apontaram que a Alemanha, derrotada na Euro-2000 e na Copa 2002, planejou-se para criar uma geração vencedora, organizando os campeonatos de todas as divisões, exigindo o tal fair-play financeiro (nada mais do que acabar com a gastança desvairada dos clubes), dando condições para a formação de atletas e seguindo um rumo que não foi interrompido nem com a traumática eliminação da Copa de 2006, que foi lá mesmo.

As duas vertentes de análise estão cobertas de razão, e se encontram no que é realmente o grande problema do futebol brasileiro – quem comanda o futebol brasileiro. A estrutura arcaica e viciada da CBF e das federações gera uma série quase infindável de desmandos, alguns deles investigados e comprovados, outros empurrados para baixo do tapete por conta da ligação entre cartolas, políticos e “autoridades”.

Temos hoje na presidência da CBF um José Maria Marin que foi apoiador do regime militar, vice-governador de Paulo Maluf e vice-presidente de Ricardo Teixeira. E ainda elegeu, com o apoio das federações e dos clubes, Marco Polo del Nero, que cresceu nas barras de Eduardo Farah e, pasmem, agora tem até assento no Comitê Executivo da Fifa. Usou a federação paulista até para colocar a então esposa na televisão.

O fracasso da Copa precisa servir para implodir esse cenário. Democratizar o futebol, acabar com o superpoder dos cartolas, atualizar os treinadores, parar de passar a mão na cabeça de dirigentes que criam dívidas impagáveis, exigir transparência, reduzir a influência dos empresários, repensar os critérios de pagamento de direitos de transmissão, criar um calendário racional, dar condições para termos competições atrativas em todo o País.

Pode parecer sonho, mas a hora é agora. Encerrar essa era de descalabro e “incompetência premiada” no futebol brasileiro. Tirar do esporte os cartolas de CBF, federações e clubes que se acham mais importantes que quem realmente faz o esporte – jogadores em campo e torcedores que pagam ingresso. Taí o legado ideal dessa Copa do Mundo.

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