Uma tensa entrevista coletiva dada nesta quarta-feira pelo capitão Lugano deixou claro que a delegação do Uruguai – com o apoio incondicional, quase inflamado, da imprensa do país – decidiu usar a grande repercussão que o caso da mordida de Suárez em Chiellini teve para deflagrar guerra contra o “resto do mundo”. O zagueiro mostrou-se muito irritado com as perguntas sobre o assunto (todas partindo de brasileiros ou de um inglês porque os uruguaios preferiam questões a respeito “do orgulho da nação” e da “força do grupo”), e não hesitou em partir para o ataque.
A segunda pergunta da coletiva, feita por um repórter da BBC, deu início ao bombardeio. “Que incidente? Não vi nada”, disse Lugano. Mas não demorou para a ironia virar agressividade. “Não entendo o que você está fazendo aqui, já que ontem (terça) o Uruguai jogou com a Itália e agora vai jogar com a Colômbia. O que vejo na sua cara é que a nossa vitória não o deixou feliz. A imprensa britânica persegue o Suárez não é de hoje, esse é o motivo de você estar aqui”.
O que veio depois, quando os brasileiros entraram no assunto, foi ainda pior. Em todas as suas respostas Lugano lembrava da cotovelada de Neymar em Modric na partida de abertura (embora sem citar o nome do craque) como argumento para sua tese de que a imprensa brasileira liderava uma campanha pela exclusão de Suárez da Copa por medo do que ele poderia fazer se jogasse contra a equipe de Felipão.
“Vi muitos lances violentos neste Mundial e não se falou de nenhum deles como se fala do de Suárez. Houve uma cotovelada no primeiro jogo, vocês sabem do que estou falando. Isso é grave, pode machucar. Estou muito puto porque tivemos uma vitória histórica contra uma potência como a Itália e a imprensa mundial, a começar pela brasileira, deixa isso em segundo plano. Parece que vocês querem fazer justiça por conta própria ou conseguir alguma vantagem esportiva”, afirmou Lugano.
Por “vantagem esportiva”, entendia-se a ausência do goleador uruguaio em um eventual jogo contra o Brasil pelas quartas de final. “O que aconteceu entre Suárez e Chiellini foi uma mútua provocação, algo que acontece mil vezes num jogo. Sem contato físico não seria futebol, seria vôlei. O problema é que Suárez é craque e mete medo nos adversários. Vocês sabem que ele pode levar o Uruguai nas costas e, por isso, estão fazendo isso”.
Em sua opinião, a Fifa só abriu expediente contra a estrela do Uruguai por ter sido pressionada “pela imprensa mundial”. “E o fato de o Uruguai ser um país pequeno e não ter peso político só piora as coisas”.
Pela manhã, durante o treino no campo do ABC ao qual a imprensa teve acesso por apenas 15 minutos, o assessor de imprensa da Associação Uruguaia de Futebol (AUF), Matias Faral, já havia dito que nenhum dirigente falaria sobre o caso de Suárez “porque não estamos aqui para participar desse circo que foi armado”. E na coletiva de Lugano, um uruguaio trocou a pergunta ao capitão por um sermão nos brasileiros. Enumerou lances em que na sua opinião o Brasil foi beneficiado e bradou para que fosse dita “a verdade” sobre Suárez, dizendo que ele foi vítima de uma cotovelada de Chiellini.
