Lucas: um grande horizonte |
Um fim de semana de até mais, que serviu para rever os amigos, agradecer a oportunidade dada pelo dono da equipe e se despedir de todas as pessoas com as quais ele fez o que chamou de preparação final, para concretizar o sonho de ser um jogador de basquete profissional. Assim foram os três últimos dias do pivô Lucas Tischer, de 22 anos, que disputou a última temporada do basquete brasileiro pelo São José dos Pinhais/Keltek.
Ele desembarcou de volta de sua passagem pelo "estágio probatório" no basquete norte-americano sábado, em São José, e hoje pela manhã deve ir para Marechal Cândido Rondon, onde nasceu. Será sua última visita aos pais, onde também vai aproveitar para rever amigos de infância e se despedir das pessoas da pequena cidade onde começou a jogar.
Ao longo do fim de semana, reviu os ex-companheiros, agradeceu Manuel Cevallos, dono do Keltek, Renato Santana, supervisor e responsável por sua transferência para o time de São José, e aproveitou ontem para fazer um apelo: "Esta cidade é fantástica e seu público aprendeu a gostar do basquete. Foi por causa do público, que nos incentivou tanto, que fomos tão longe no nacional. Não deixem o basquete sair de São José", apelava, ontem, em meio à última entrevista que concedia à imprensa do Paraná.
Vaga na NBA
Lucas é o único brasileiro com chances de ser escolhido para defender uma equipe da NBA na temporada que se inicia em outubro. Ele não foi escolhido no Draft. Mas, convidado pelo Phoenix Suns para participar da Liga de Verão da Califórnia, foi aprovado pelo técnico da equipe e deve ser companheiro de Leandro Barbosa, o Leandrinho, na próxima temporada do mais profissional basquete do mundo, o norte-americano.
Lucas participou de seis partidas pela Liga. Embora não tenha sido escolhido no Draft, é quase certa sua contratação. "Mas meus procuradores ainda estão esperando uma proposta de uma equipe da França", revela o atleta. Sua participação na Liga, no entanto, servir para uma análise de comportamento. "Eles estavam satisfeitos com meu desempenho. O que queriam era apenas acompanhar meu comportamento fora de quadra. Além é claro de ver se eu era obediente taticamente", explicou Lucas.
Por questões burocráticas, ele não foi contratado ainda, pois o período de assinatura de contratos da NBA só reabre na quinta-feira. O que emperra as negoriações é a falta de acordo entre a NBA e o Sindicato do Jogadores.
Caso assine, no entanto, sai de uma realidade onde os jogadores recebem, mensalmente, algo em torno de R$ 60 mil por temporada, para um acordo, na pior das hipóteses, de US$ 400 mil (R$ 1.060.000) por dez meses. O acordo pode ser ainda melhor, mas isso depende do tipo de negociação que os procuradores de Tischer farão com os dirigentes do Phoenix Suns.
Um exemplo para atletas da base
Lucas Tischer é, para Amarildo Rosa, secretário municipal de esportes de São José dos Pinhais e presidente da Federação Paranaense de Basketball (FPB) o exemplo a ser seguido. "Ele nasceu para o esporte jogando pela escola onde estudava."
"Iniciou sua participação no colégio Martin Luter, de Marechal Cândido Rondon, e foi convocado para a seleção paranaense infanto-juvenil", pondera o dirigente, que insiste em incentivar a formação de jogadores a partir das categorias de base e dá em sua administração na entidade estadual incentivo à categoria basquete mini, para que o Estado volte a ser um celeiro de atletas.
A história de Lucas é emblemática neste sentido. Ele saiu de Marechal Cândido Rondon para defender a seleção paranaense num campeonato brasileiro de base. Um olheiro do Monte Líbano viu potencial naquele garoto, de 14 anos, que já media 1,90m e em 1998, Lucas foi para a equipe paulista. De lá, foi contratado pelo Clube Atlético Paulistano, onde passou as temporadas 1999 e 2000. "Nesta época, eu ganhava bolsa de estudos, local para morar e uma ajuda de custo", explica Lucas.
O bom desempenho do pivô no campeonato paulista chamou a atenção dos olheiros do Franca, que o levaram, já como profissional, para a equipe da cidade dos calçados. Em 2003, nova transferência, desta vez para o COC/Ribeirão Preto.
Depois, Lucas acreditou no projeto de Manoel Cevallos, e se transferiu para o São José/Keltek, onde fez a preparação final para ser um dos escolhidos do Draft deste ano. "Mas foi melhor para mim não ser escolhido no Draft. Se fosse, dependeria de outros acordos para me transferir de equipe ou esperar o fim do contrato", conta Lucas, que se mostra pronto para enfrentar as principais estrelas da NBA, a mais rica liga de basquete do mundo.
Avesso a badalações, Lucas diz não ter por costume idolatrar jogadores. Mas, se tivesse que escolher alguém para admirar, este seria o veterano canadense Steve Nash. Coincidência ou não, se o acordo for assinado a partir de quinta, ele terá em Nash e no brasileiro Leandrinho – que foi uma espécie de padrinho de Lucas em seu mês de perambulações nos EUA -, seus companheiros de equipe.
O acordo está tão próximo de se concretizar, que Lucas embarca no próximo sábado para Las Vegas, onde participa, a partir de segunda-feira, de uma clínica para laterais. Embora seja pivô, ele foi escolhido para ir se aclimatando à liga.
"Esta clínica é bem concorrida, e só vou participar pela influência do técnico do Phoenix", finalizou Lucas, dando pistas que seu futuro já está definido.