Depois dos humilhantes 7 a 1 que a Alemanha impôs ao Brasil em seus domínios, fica estranho dizer isso, mas a verdade é que Joachim Löw tem sido duramente criticado em seu país mesmo tendo feito a seleção jogar um futebol vistoso na Copa de 2010 e, em menor medida, repetir a dose no Mundial do Brasil. Se Löw for campeão do mundo neste domingo, será um triunfo da paciência de alguém que se acostumou a apanhar calado.
Na Alemanha, dizem que Löw é um cabeça-dura, que ele não ouve ninguém e toma suas decisões seguindo apenas seus instintos. Exemplo: pouquíssimas pessoas no país aprovaram a escalação de Philipp Lahm como volante na seleção, mas o técnico insistiu na ideia e começou a Copa do Mundo com o capitão no meio de campo, não na lateral direita, sua posição original. Até que Löw deu uma prova de que não é tão teimoso quanto dizem.
Antes do jogo contra a França, pelas quartas de final, Löw decidiu que era melhor dar um passo atrás. No caso de Lahm, um passo para o lado – o lado direito, mais precisamente. O treinador explicou que fez isso porque a França tem um ótimo meio de campo e porque seria mais fácil atacá-la pelas pontas. Mas é claro que não era só isso. Löw havia percebido que Lahm não estava rendendo muito bem no meio de campo e que era melhor voltar ao básico. Ele só não quis dar o braço a torcer.
Uma coisa nem os críticos mais ferrenhos de Löw – e há muitos deles na Alemanha – podem negar: o treinador sempre lidou com os comentários negativos a seu respeito com muita elegância. Nas entrevistas que concede, não perde a calma nem mesmo nas perguntas mais ácidas. No contato com os torcedores, sempre procura se mostrar simpático. E, de acordo com quem o conhece de perto, o treinador da seleção não é um sujeito teimoso.
“Dizem que ele não ouve a opinião pública, mas eu acredito que essa é uma das forças dele. Ele tem uma filosofia de trabalho e não abre mão dela”, comentou o ex-atacante Oliver Bierhoff, que é diretor técnico da seleção. “Ele não é um cabeça-dura, pois gosta de bater papo com todos os que o cercam. Ele conversa sempre com os outros integrantes da comissão técnica e ouve os jogadores.”
GOLEADOR – Joachim Löw, ou Jogi, como o chamam os mais íntimos, foi um atacante de bom nível nos anos 80. Ele tem a honra de ser o maior artilheiro da história do Freiburg, com 81 gols em 252 jogos, mas sua passagem por clubes de maior expressão, como Stuttgart e Eintracht Frankfurt, não foi muito boa e ele nunca sentiu o gostinho de jogar pela seleção alemã. O melhor que conseguiu foi disputar quatro partidas pela equipe sub-21 do país.
Ao encerrar a carreira, já nos anos 90, Löw tentou a sorte como técnico. E se deu bem no Stuttgart, no qual foi campeão da Copa da Alemanha e vice-campeão da Recopa europeia, mas sua nova carreira teimava em não decolar. Em 2004, após duas passagens pela Turquia, onde trabalhou no Fenerbahçe e no Adanaspor, ele dirigia o Áustria Viena. Foi quando surgiu a grande chance de sua vida.
Depois da Eurocopa, em que a Alemanha foi pateticamente eliminada na primeira fase, Jürgen Klinsmann assumiu o comando do time. E o ex-goleador, campeão do mundo em 1990, lembrou-se de convidar um amigo para ser seu auxiliar: Joachim Löw. Que aceitou o convite na hora, evidentemente. Após dois anos de trabalho com o parceiro, que culminaram em um honroso terceiro lugar na Copa de 2006, Klinsmann decidiu ir atrás de novas aventuras e deixou o comando da seleção nas mãos de Löw.
Parecia uma má ideia dar a um técnico com currículo tão modesto as rédeas de uma das mais vitoriosas equipes do futebol, mas a realidade mostrou o contrário. Löw se sentiu muito à vontade como treinador da seleção e logo conquistou a confiança dos jogadores. “A coisa mais legal no nosso treinador é que ele nunca mudou. Quando ele era o número dois da seleção, conversava com todos os jogadores e manteve isso ao assumir o comando. Ele é um ser humano fantástico e tem uma grande empatia com o grupo”, testemunhou Miroslav Klose, homem de confiança de Löw desde que ele se tornou técnico da Alemanha.
O maior mérito de Löw no comando da seleção foi transformar para melhor o estilo de jogo do time e, ao mesmo tempo, mantê-lo sempre entre os primeiros colocados dos torneios que disputa. Só há um senão: ainda lhe falta um título. Vice-campeão europeu em 2008 e semifinalista da Copa de 2010 e da Eurocopa de 2012, o treinador sabe que precisa de uma taça de primeira linha para, finalmente, se consagrar. E dificilmente ele terá uma chance melhor do que a deste domingo. Se não triunfar no Maracanã, Löw passará alguns anos mais sendo chamado de teimoso. E de perdedor.