O que seria uma simples coletiva após o frustrante empate frente ao Juventude (2×2) transformou-se num verdadeiro bombardeio do técnico Lori Sandri. Visivelmente abatido, o treinador deixou o jogo de lado e usou os microfones para externar toda a sua frustração com alguns boatos que ganharam proporções durante a última semana. Só que o destempero fez com que acusações viessem à tona, não só a integrantes e órgãos de imprensa como até a ex-treinadores do Paraná Clube.
Lori iniciou a coletiva sem precisar de pergunta alguma. Foi mais um pronunciamento do treinador, que afirmou nunca ter tido participação na venda de jogadores e não ser empresário de futebol, muito menos ?teleguiado?. ?O que faço dentro de campo se resume a escalar os melhores jogadores, na minha concepção. No meu trabalho, ninguém interfere, seja dirigente, empresário ou cronista?, disparou Lori Sandri. Para o treinador, o estopim do desabafo foi a coluna de Luiz Augusto Xavier, publicada na edição de sábado da Tribuna do Paraná.
?Fiquei magoado, pois sempre o considerei meu amigo. Mas, as insinuações feitas são inverídicas?, disse. Xavier afirmou, logo após o fato, que apenas retratou o ambiente que cercava o Paraná para este jogo. ?Deixei claro, pois a fonte é fidedigna, que diretores do clube não gostaram das escolhas de Lori para esse jogo.? Lori Sandri citou, nominalmente, apenas Xavier, mas disparou ainda contra a Rádio Transamérica e o SBT, em seu programa Tribuna no Esporte. ?Tentaram criar um clima. Tanto que muitos torcedores vaiaram o André Dias em lances banais.?
Este foi, aliás, o ponto zero de toda a discussão. No coletivo de quinta-feira, Lori Sandri surpreendeu ao escalar André Dias ao lado de Renaldo, relegando Borges, um dos melhores jogadores em campo frente ao São Paulo, ao banco de reservas. Por Lori ter indicado André Dias (e manter laços de amizade com a diretoria do Mirassol, clube de origem do atacante), os questionamentos ganharam proporções, e alguns integrantes da imprensa chegaram a questionar sobre a possibilidade da escolha de Lori não ter sido apenas técnica.
?O André foi meu melhor atacante no Morumbi?, justificou Lori, antes mesmo do jogo. Para o treinador, a característica do atacante com maior porte físico do que Borges seria decisiva frente ao Juventude. E enquanto a ?metralhadora giratória? operava, Lori fez uma perigosa denúncia. ?Não sou como ex-treinadores do Paraná, que tinham comissão no caso de venda de jogadores. E isso, como cláusula contratual.? Indagado sobre quem seria esse treinador, Lori calou-se. A diretoria, não.
O presidente José Carlos de Miranda admitiu que ao técnico Paulo Campos, quando de sua volta ao clube, foi oferecida uma gratificação no caso de transações envolvendo jogadores do clube. ?Só que foi uma suposição do Lori, pois nada consta de contrato. Nunca, ninguém pediu ao Paulo a escalação desse ou daquele jogador. A única coisa é que como forma de compensação salarial, o técnico teria uma gratificação futura. Assim como o Lori tem uma premiação por objetivos alcançados?, afirmou o dirigente.
Miranda preferiu contemporizar o desabafo de Lori Sandri e deixou claro que não cederá a pressões externas de diretores ou empresários.
?Só há uma verdade em tudo isso: quem contrata e dispensa o técnico, sou eu?.
Empate frustrante em casa
Um esquema tático cauteloso, com jogadores mal posicionados. Apesar de ter sérios problemas estruturais, o Paraná Clube parecia que iria conseguir a primeira vitória no Campeonato Brasileiro, sábado. Mas o Juventude, que optou por jogar pelo empate, aproveitou duas falhas defensivas dos donos da casa e conseguiu o 2×2 no Pinheirão.
No primeiro tempo, o jogo começou animado e terminou sonolento. O Paraná, empolgado pelo bom resultado em São Paulo, iniciou a partida com a mesma estrutura tática da semana passada – Edinho na armação e André Dias na frente, ao lado de Renaldo. Só que a empolgação definhou após a incrível chance desperdiçada por Edinho, que apareceu na cara do goleiro Douglas e chutou por cima.
Na volta do intervalo, Lori abdicou de sua experiência tática e colocou Thiago Neves, retomando o 3-5-2 com um armador no meio-campo. Mas foi preciso tomar um gol, para o treinador colocar o jogador que foi decisivo para a recuperação tricolor. Borges entrou, mas no lugar de Renaldo, levando a torcida ao desespero. ?Vamos ganhar?, disse um irritado Renaldo, ao sair de campo. Poucas palavras. O grande ídolo recente do Paraná deixou o Pinheirão possesso.
Mas Borges e Thiago Neves agitaram a partida, e fizeram com que seus companheiros reaparecessem – o maior beneficiado foi André Dias. E em quatro minutos o Paraná empatou o jogo, com Beto. E sete minutos depois Borges, logo ele, marcou o gol da virada, após a boa jogada de Vicente.
Mas, em outra falha da defesa, Bruno Lança, ex-Atlético, teve tempo para tentar duas vezes e conseguir o empate, ducha fria nas esperanças do Paraná. A semana promete ser agitada na Vila Capanema.