Berlim – inale, ô, ô?… Talvez nunca na história a torcida alemã tenha vibrado tanto com uma vitória. Mesmo sendo nos pênaltis, depois do empate em 1 a 1 com a poderosa Argentina no tempo normal e na prorrogação, a anfitriã do Mundial deu motivos de sobra para os torcedores fazerem vibrar o Olympiastadion, em Berlim, e o país inteiro.
A seleção leva seu fanático público agora para Dortmund, onde enfrenta terça-feira a Itália, pela semifinal do Mundial. Seria uma catástrofe a eliminação, havia dito o técnico Jürgen Klinsmann.
Há 16 anos a Alemanha não vencia em Copas uma seleção campeã do mundo e ontem, apesar de não ter mostrado o futebol apresentado nas quatro primeiras partidas do torneio, mostrou raça e equilíbrio emocional. ?Pela dificuldade do confronto, foi nossa melhor apresentação?, disse o atacante Neuville. A Alemanha quebrou um tabu, mas manteve outro. Nas quatro vezes que precisou decidir uma partida nos pênaltis em Mundiais, ganhou todas.
Um jogo tenso, nervoso, com divididas demais e pouca qualidade técnica. Pela primeira vez na competição, a Alemanha errou muitos passes e não conseguiu desenvolver a velocidade que vinha mostrando.
Compensou tal dificuldade com raça, tendo Frings como símbolo da determinação da equipe em campo. Michael Ballack também jogou bem. Pela valentia e boa visão de jogo, foi escolhido pela Fifa o melhor do confronto.
A Argentina, por sua vez, era mais rápida e perigosa no ataque. Tevez, que deixou Saviola no banco, foi o melhor em campo pelo time sul-americano. O treinador Pekerman, no entanto, jogou contra ao tirar Riquelme quando estava 1 a 0 – gol de Ayala, de cabeça, no início da segunda etapa, após escanteio da direita – e colocar o volante Cambiasso.
Os argentinos se encolheram e permitiram o crescimento alemão. O empate se deu também de cabeça, aos 35? do segundo tempo, com Klose novamente.
O jogador chegou ao seu quinto gol na Copa, artilheiro isolado.
Depois de uma prorrogação fria, em que os rivais tentaram vários chutões em busca dos atacantes, vieram as penalidades, quando brilhou a estrela de Jens Lehmann.
O goleiro da Alemanha defendeu os pênaltis de Ayala e Cambiasso e a dona da casa fez 4 a 2 nas cobranças.
Terminou mal o duelo das quartas-de-final. Burowski, autor do último gol alemão nas penalidades, provocou os argentinos, que tentaram agredi-lo após o fim do jogo. Sobrou até para o assessor de imprensa da Federação Alemã, Harald Stenger, empurrado por Heinze.
Comandante alemão otimista: só falta o título
Berlim – ?Essa equipe provou hoje (ontem) que pode ser campeã do mundo?, disse o aliviado técnico Jürgen Klinsmann após a classificação da Alemanha para as semifinais do Mundial. Para o treinador, o empate no tempo normal em 1 a 1 com a Argentina só foi possível porque ?em momento algum os jogadores (alemães) desistiram de brigar, de correr? e, mesmo com o 1 a 0 contrário, ?acreditaram que poderiam virar?.
Nos pênaltis, o treinador analisa que a preparação emocional fez a diferença. ?Sempre tivemos fé que passaríamos. Mostramos uma grande resistência física e mental. Esse time acredita em si mesmo e isso é a marca de um grupo vencedor?, afirmou Klinsmann.
O treinador, que conseguiu dobrar a enorme resistência ao seu trabalho que existia na Alemanha, ganhou mais pontos ainda nas quartas-de-final. Pela desclassificação da Argentina, por quebrar um tabu de 16 anos sem vitórias em Copas sobre uma seleção campeã do mundo e por ver como herói do confronto o goleiro Lehmann, autor de duas defesas decisivas nas cobranças das penalidades. Meses antes do torneio, Klinsmann o colocou no lugar de Oliver Kahn, considerado até então titular absoluto.
Passada a euforia, o comandante alemão volta ao discurso de que é preciso pensar nos próximos adversários. ?Estamos entre os quatro melhores do Mundial, mas queremos ir adiante. Ainda nos faltam duas difíceis partidas pela frente, e queremos ganhá-las.?
Pekerman pede o boné
Berlim – A Argentina já pode procurar novo treinador. Após a eliminação nas quartas-de-final da Copa do Mundo nos pênaltis diante da Alemanha, Jose Pekerman entregou o cargo. ?É o fim de um ciclo, não vejo mais motivo para continuar?, afirmou.?Foi cumprido um objetivo de qualquer forma, esses garotos da seleção sempre jogaram o máximo possível, mas não foi possível avançarmos.?
Pekerman disse que a Argentina esteve perto da classificação para as semifinais e culpou a má sorte pela volta mais cedo para casa. ?Tive a todo momento a sensação de que estávamos melhores que os alemães, mas isso não ganha jogo?, analisou o treinador, que também fez questão de elogiar a equipe. ?Essa seleção tem um grande futuro, vai sempre disputar todas as competições. Os torcedores ficam tristes, mas ainda vão ter muitas alegrias?.
Tragédia em dobro
Rosario, Argentina – Furioso após a derrota da Argentina para a Alemanha pela Copa do Mundo, um jovem argentino provocou na tarde de ontem um incêndio em sua casa, ao atirar na parede o televisor no qual tinha acabado de ver a partida, disputada no Estádio Olímpico de Berlim.
A reação do adolescente causou a explosão do aparelho e em poucos minutos o fogo se espalhou por toda a casa, situada na cidade de Rosário, informaram fontes policiais.
O episódio ocorreu após a Argentina ser desclassificada do Mundial ao perder para a Alemanha na cobrança de pênaltis por 4 a 2.
Os vizinhos da localidade avisaram imediatamente os bombeiros, que tiveram que quebrar as grades das janelas da casa para resgatar os moradores, duas mulheres e três menores de idade que sofreram princípio de asfixia.