Klinsmann supera barreira de um país

AP
Jürgen Klinsmann vibra à beira do campo, contaminando a torcida.

Berlim (AE) – Não é preciso esperar o resultado das próximas partidas do torneio para se saber que a Copa do Mundo de 2006 já tem um vencedor: Jürgen Klinsmann. Apesar da importância de superar um rival de peso como a Argentina nas quartas-de-final, o técnico da Alemanha teve adversários bem mais difíceis em seu caminho. E derrubou todos eles, começando pela frieza e desconfiança da população de seu país.

Meses antes do mundial, a equipe anfitriã se preparava para ser coadjuvante na festa em sua casa. De acordo com pesquisas feitas em março e abril, variava entre 5 e 7% a quantidade de alemães que acreditava no título. São as mesmas pessoas que hoje, algumas histéricas, todas eufóricas, saem às ruas para comemorar o bom momento da seleção.

A auto-estima do futebol alemão estava em baixa, afinal a última grande campanha começava a se perder na memória, realizada na Copa da Itália, de 1990 – quando venceu na final a Argentina por 1×0 . Com um treinador, então, que jamais havia comandado uma equipe de divisões inferiores, as preocupações da população pareciam ter fundamento. E a imprensa do país também pensou assim.

Após sua contratação, em 2004, os cronistas disseram que, como Klinsmann era morador da Califórnia-EUA, seria temerário contratá-lo, por seu distanciamento do futebol alemão. Além de se associar a Joachim Low, seu assistente e braço direito com 12 anos de experiência como técnico, o ex-atacante, campeão mundial em 1990, trouxe consigo um grupo de preparadores físicos norte-americanos.

Ouviu ainda mais críticas por isso, mas mostrou, em 24 dias de torneio, que sua seleção tem talvez o melhor condicionamento entre todas as equipes. "A gente faz exercícios que nunca tínhamos visto antes, mas que dão resultado. Estamos 100% fisicamente", afirmou o zagueiro Metzelder.

Metzelder disse ainda que sempre achou Klinsmann "um estágio à frente do grupo", confiante demais, ao contrário dos jogadores. "Assim que ele chegou, falava da nossa qualidade, da nossa força. Coisas que eram difíceis entrar na nossa cabeça. Ele sempre achou que chegaríamos longe", admitiu o defensor, que, como o lateral-esquerdo Philipp Lahm ou o atacante Odonkor, só foi convocado por obra da teimosia do técnico.

O zagueiro, após sucessivas contusões desde 2002, não conseguia sequer se firmar no Borússia Dortmund. O lateral, do Bayern de Munique, operou o cotovelo a menos de um mês do torneio. Não poderiam estar na lista de 23 atletas, opinaram os jornalistas. "E o atacante Odonkor então, como pôde ser chamado, não sabe o treinador que ele não tem experiência pela seleção?", acrescentaram.

Os dois primeiros são hoje titulares, sendo que Lahm é um dos destaques da Copa. "Ele sempre me incentivou, dizia que sabia do meu talento e confiava na minha recuperação", lembrou o lateral. Odonkor tem entrado durante as partidas. Foi o autor do passe para Neuville, na vitória por 1×0 sobre a Polônia, e, diante da Argentina, infernizou Sorín e conteve seus avanços.

Klinsmann sequer se manifestou sobre o "absurdo" apontado pelos repórteres de ter uma dupla de ataque de origem polonesa. Klose já marcou cinco gols e é o artilheiro do mundial. Podolski, seu companheiro, foi criticado por ter passado as duas primeiras partidas da competição em branco. O técnico saiu em sua defesa na ocasião. "Eu confio nele, sei que é um grande atacante e logo vai voltar a marcar." Depois desse incentivo, o jovem de 21 anos fez 3.

Volta por cima

O comandante alemão estava sem moral após a humilhante goleada por 4×1 para a Itália, no dia 1.º de março, na fase de preparação. De cabeça erguida, no entanto, ouviu tudo e deu a volta por cima. "Todas nossas derrotas foram importantes, aprendemos muito e evoluímos com elas", ensinou.

Criticado pela imprensa, mas também pelo capitão da Alemanha, Michael Ballack. Disse que o time era defensivo demais após o empate com o Japão, por 2×2, depois declarou que o grupo era imaturo para uma Copa do Mundo, "com muitos jogadores sem experiência internacional". O treinador comentou apenas que achava "saudável que todos se manifestassem". Esperou o tempo para dar uma resposta melhor.

O time passou a jogar bem, ganhou quatro jogos, sobre Costa Rica (4×2), Polônia (1×0), Equador (3×0), Suécia (2×0), e eliminou a poderosa Argentina com duas defesas de pênaltis de Jens Lehmann.

Passar terça-feira pela Itália e depois ganhar o título não são os únicos objetivos do ex-artilheiro. Ele sonha deixar um legado para as próximas gerações. "Essa equipe tem uma nova identidade. Mostra que podemos ser ofensivos, velozes e jogar bonito. Espero que esse exemplo chegue às seleções de base e tenha influência também sobre os times do país."

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