O meia Kléberson pode estar morando na Inglaterra, mas ainda não assimilou a pontualidade britânica. Ele se atrasou quase duas horas para a entrevista exclusiva concedida ao Paraná-Online, anteontem. Brincadeiras à parte, o jogador está cheio de compromissos em Curitiba, onde ficará até a apresentação para a Copa América, que acontece em julho, no Peru. Neste sábado, Kléberson comemora seu aniversário com um mega-show do sambista Jorge Aragão, no Malagueta, bar do qual é sócio. Em poucos dias, a cunhada do craque se casa e logo depois ele terá que se apresentar ao técnico Carlos Alberto Parreira.
Entretanto, mesmo na correria, Kléberson separou um tempo para conceder a entrevista, na qual fala de suas perspectivas no Manchester United e na seleção brasileira, onde será o único pentacampeão na disputa da Copa América.
Paraná-Online –
Você estreou no Manchester cheio de moral, mas acabou a temporada fora até mesmo do banco de reservas. O que o prejudicou?Kléberson – Período de adaptação e contusões, que influenciam muito. Cheguei tranqüilio e bem disposto. Mas logo de cara machuquei o ombro e fiquei dois meses e meio fora do time. Voltei, joguei alguns jogos e voltei a me machucar, desta vez o joelho, que me tirou mais dois meses. Isso foi muito complicado, porque esperava ir me adaptando também dentro de campo. Mas passou. Estou bem fisicamente e apostando tudo na próxima temporada.
Paraná-Online –
Tribuna – Você citou questão de adaptação. O futebol inglês é mesmo tão diferente do brasileiro?Kléberson – É um futebol bastante diferente mesmo e percebi isso jogando. Eles prezam contato e lances que aqui seriam faltas, lá não são. É muita força e pegada e a compensação é a velocidade, a rapidez. Isso um pouco em função do campo molhado, que pede que a bola role mais rapidamente, sem muita firula. Aqui no Brasil, estava acostumado a usar travas baixas, de borracha. Lá se não uso altas, não páro em pé. Mas as diferenças páram por aí. Dizem que os ingleses são frios, mas quando o assunto é futebol, a paixão é tão grande quanto aqui no Brasil.
Paraná-Online –
Tribuna – Como é o seu relacionamento com o treinador e os colegas de time?Kléberson – Eu tenho um bom relacionamento com o treinador (Alex Ferguson) e com os companheiros de time. O treinador é sempre muito sincero e transparente, talvez por isso esteja tão confiante no meu desempenho na próxima temporada. Terminei a última fora até mesmo do banco, mas ele me garantiu que nessa temporada será diferente e eu terei novas oportunidades. Sinto muita sinceridade em todas as relações, por isso estou tranqüilo.
Paraná-Online –
Tribuna – No Brasil chegou a informação de que você seria emprestado ao Werder Bremen. Até que ponto isso seria possível?Kléberson – Esses comentários sobre empréstimos não passam de boatos. Talvez pelo fato de eu não ter dado uma seqüência no trabalho no Manchester, surjam essas especulações. Mas ainda tenho muito a fazer no Manchester e ainda estou no começo do meu projeto no clube. Tenho a confiança do técnico e quero ficar, mesmo porque não deixaria um clube com uma estrutura tão completa.
Paraná-Online –
Tribuna- O desempenho pífio com a camisa do Mancester influenciou sua vida na seleção brasileira?Kléberson – É natural que o fato de eu não estar jogando direto no Manchester influenciou minha presença na seleção, bem como as contusões. Fui cortado duas vezes por conta delas e acabei dando espaço para outros jogadores mostrarem o próprio valor. Mas não encaro a Copa América necessariamente como uma oportunidade de recuperar a posição. Quero sentir novamente o gostinho de disputar uma competição oficial pela seleção, lutar por um título com a amarelinha. Ser titular nas eliminatórias é consequência de um trabalho. Mais que isso, vou poder recuperar ritmo de jogo, que ficou comprometido esse ano.
Paraná-Online –
Tribuna – Do que mais você sente falta do seu passado?Kléberson – Não há como não sentir falta dos amigos aqui de Curitiba, mas principalmente do Atlético Paranaense e tudo o que cerca o clube. Os companheiros de time, a torcida, a Arena. Vivi momentos maravilhosos com a camisa do Atlético e acalento o sonho de voltar a vesti-la, jogando na Arena lotada. Mas isso será bem mais para frente. Agora tenho que traçar meu caminho no Manchester e tentar deixar a saudade de lado.
Paraná-Online –
Tribuna – Quais as maiores dificuldades que você enfrentou ao ir para a InglaterraKléberson – A primeira barreira certamente foi a língua. Ainda estou estudando inglês e mal passei do primeiro estágio (risos). Mas a Inglaterra é um país de cultura muito diferente. Sinto falta das rodas de pagodes nos momentos de folga e dos ritmos brasileiros. A comida foi um caso à parte. Logo que cheguei lá, fiquei hospedado por um mês em um hotel, comendo uma comida superinglesa. Aos poucos, conhecendo um pouco da língua, fomos descobrindo lugares, restaurantes que vendiam comidas mais próximas ao nosso paladar. Hoje, em nossa casa, temos um amigo que faz arroz, feijão e essas coisas. Isso virou banquete. (risos)