Desta vez Kaká está tendo férias caseiras. Como sua filha Isabella, que nasceu no dia 23 de abril (o filho Luca faz três anos nesta sexta-feira), ainda está na fase de tomar vacinas e não pode viajar, ele vai descansar em São Paulo antes de se reapresentar ao Real Madrid no dia 12 de julho, em Los Angeles, onde o clube irá realizar pré-temporada.
Em entrevista à Agência Estado, o jogador deixou claro que não quer sair do Real antes de jogar o que pode no time espanhol, disse que voltar ao nível que mostrava no Milan é seu grande desafio e, com sinceridade, reconheceu: “Gostaria de jogar a Copa de 2014, mas não sei em que condição vou estar daqui a três anos.”
Kaká admitiu que a última temporada foi muito dura para ele. “Em nível pessoal foi a mais difícil da minha carreira. Coletivamente posso dizer que foi boa. Ganhamos a Copa do Rei em cima do Barcelona, chegamos à semifinal da Liga dos Campeões e ficamos em segundo no Campeonato Espanhol. Não é o suficiente para um clube do tamanho do Real Madrid, mas foi boa. Pessoalmente foi muito difícil. Tive a lesão, voltei em janeiro, em março parei de novo, joguei os dois últimos meses? Foi complicado”, lembrou.
Lutando para voltar a jogar em seu melhor nível, Kaká afirmou que não pretendia ser submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo, operado pouco depois de o meio-campista se apresentar ao Real Madrid, após o período de férias que teve posteriormente à disputa da Copa do Mundo de 2010. Por causa disso, ele optou por não operar mais cedo, já no início do período de descanso depois do Mundial.
“A verdade é que não queria ser operado de novo. Depois da Copa fiz uns exames em São Paulo e os médicos me disseram que seria preciso operar. Quando cheguei aos Estados Unidos, mostrei os exames para os médicos do Real Madrid e fui levado para uma consulta com um especialista lá em Los Angeles, e ele também disse que teria de operar. Resolvi ir para a Bélgica me consultar com o médico que tinha operado o joelho do meu irmão. Ele também defendeu a necessidade da cirurgia, e aí fui operado lá. Hoje, vendo que não tinha como não fazer a operação, podem discutir se atrasei ou não a decisão. Mas isso aconteceu porque eu não queria ser operado pela segunda vez”, revelou, para depois lamentar o fato de não ter conseguido escapar do procedimento cirúrgico.
“A dor era constante. Alguns dias doía mais, em outros doía menos. E por isso eu pensava que podia me livrar do problema com descanso, com tratamento sem jogar. Mas, infelizmente, não deu.”
Kaká ainda reconheceu que está em dívida com a torcida do Real Madrid, mas aposta que poderá voltar a ser o grande jogador que foi no passado caso consiga recuperar a condição física de outros tempos. “Sei que ainda não correspondi às expectativas, não só da imprensa e dos torcedores, mas minhas também. Quero e acredito que muita coisa boa ainda vai acontecer comigo no Real Madrid. Tudo é confiança. A partir do momento em que eu conquistar a confiança do treinador (José Mourinho), tenho certeza de que ele vai me colocar para jogar nas partidas decisivas. O que aconteceu nesses dois anos de Real Madrid é que não consegui atingir meu auge físico, técnico e psicológico. Mas essa parte é minha. E, diferentemente do que falam, o Mourinho tem me ajudado muito”, enfatizou.
EM PAZ COM MOURINHO – O craque ainda aproveitou para esclarecer que não tem nenhum problema de relacionamento com Mourinho. “Dizem que ele não me quer no Real Madrid. Nada disso é verdade. Ele tem sido muito honesto comigo, coerente em suas decisões não só comigo mas com o time de forma geral. Só tenho a agradecer a ele”, ressaltou, para depois garantir que o Real assegurou a sua permanência no clube na próxima temporada.
“Antes de eu vir para o Brasil o Mourinho e os dirigentes me disseram para passar as férias tranquilo, porque me esperam na pré-temporada e contam comigo. Eles sabiam que ia haver muita especulação, porque desde que cheguei lá já houve rumores sobre uns dez times? Mas minha vontade é ficar e vou ficar”, prometeu.
Já ao ser questionado sobre o fato de que muita gente não acredita mais que ele poderá voltar a ser o Kaká dos tempos de Milan, quando foi eleito o melhor jogador do mundo, o atleta disse que isso serve de motivação para a próxima temporada. “As pessoas falam isso como uma aposta. Para mim, é um grande desafio. Não tenho de provar nada para ninguém, o meu desafio é provar para mim mesmo que posso voltar a jogar no alto nível que jogava. Sem nenhuma pretensão ou arrogância, ganhei tudo o que podia ganhar na minha carreira – individualmente e coletivamente. Tenho uma grande motivação para voltar ao alto nível”, garantiu.
SELEÇÃO – Fora da seleção brasileira que irá disputar a Copa América no próximo mês, na Argentina, Kaká disse que conversou com o técnico com Mano Menezes e os dois acordaram por antecipação a exclusão do jogador da competição, tendo em vista as suas atuais condições físicas.
“Tive duas conversas muito boas com ele, uma em outubro, em Madri, e outra por telefone, em maio. Nessa última chegamos à conclusão de que seria melhor não ir para a Copa América e aproveitar o tempo para me restabelecer fisicamente. Quero voltar para a seleção, mas primeiro tenho de jogar bem no Real”, afirmou Kaká, para em seguida admitir que precisava abrir espaço para jogadores que atravessam melhor fase.
“Tanto eu quanto o Mano e o pessoal do Real achamos que o melhor era descansar o corpo e a cabeça, porque passei por muita coisa na temporada. E a verdade é que há jogadores que estão à minha frente para jogar na seleção.”
Depois de jogar os Mundiais de 2002, 2006 e 2010, Kaká disse que sonha estar na Copa de 2014, mas reconheceu que a sua condição física incerta é um fator que preocupa a longo prazo, mas não deixa de sonhar com a possibilidade. “Futebol é esporte coletivo, ninguém ganha Copa sozinho. Mas seria muito bom poder ganhar outra, ainda mais em casa”, projetou.