São Paulo – Júnior suportou apenas uma semana a pressão de ser técnico do Corinthians. Exatos sete dias após iniciar seu trabalho no comando do time, o treinador surpreendeu os dirigentes no início da noite de ontem com pedido irrevogável de demissão. “Em função da necessidade de vitórias e da pequena margem de melhoria até agora, não me via com meios de dar um retorno positivo à diretoria e à torcida. Por isso, resolvi apresentar meu pedido de demissão”, afirmou Júnior, em nota oficial. No mesmo documento, o auxiliar-técnico Jairo Leal foi confirmado como interino.
No Parque São Jorge, porém, a história que circula é outra. De acordo com a versão extra-oficial, Júnior teria discutido asperamente com o diretor-técnico Roberto Rivellino, durante reunião habitual que acontece nos dias seguintes às partidas para discussão do planejamento. O tom do dirigente e as cobranças teriam irritado o treinador, que decidiu abandonar o clube por incompatibilidade de estilo.
Assim, o vice-presidente de futebol Antônio Roque Citadini volta à rotina que marcou boa parte de seus dias no início do mês. Sairá à caça, novamente, de um comandante para o combalido time. O nome mais provável é o de Juninho Fonseca, que dirige os juniores do Corinthians. Oswaldo de Oliveira, que no domingo foi demitido pelo Flamengo após anunciar sua intenção de deixar o clube mesmo se vencesse o Vasco, como de fato ocorreu, também está na lista de pretendidos.
Desastre
Provavelmente, Júnior jamais volte a pisar em território corintiano. Sua atitude ontem soou para os dirigentes como absoluta falta de responsabilidade, espírito de equipe e maturidade. Pior, jogou para o espaço o tão badalado plano de “Profissionalização Total” da diretoria do Corinthians e, conseqüentemente, boa parte da credibilidade da cúpula do clube.
A frase de Júnior após a derrota para o São Paulo por 3 a 0, domingo, no Morumbi, já indicava o desfecho. “Sabia que iríamos ter dificuldades. Só não pensei que fosse tanto”, admitiu. E não era apenas o treinador que estava negativamente surpreso com a atual situação da equipe. Rivellino, antes mesmo de assumir, já avisou que se não gostasse da função ou se a realidade do clube fosse muito diferente daquela que imaginava, pegaria o boné.
Como atenuante, a diretoria garantia que o foco principal do trabalho da dupla, que chegou badalada ao Parque São Jorge, era a próxima temporada. Embora não admitam publicamente, tanto dirigentes como os integrantes da comissão técnica trabalham sem nenhum objetivo dentro do brasileiro. Para eles, as últimas dez rodadas servirão apenas para observar os jogadores e cumprir tabela, já que a chance de a equipe ser rebaixada é tão grande ou pequena quanto a de chegar ao título ou à vaga na Copa Libertadores da América.
Contra
Mas o clima no Parque São Jorge não era tão paciente como se esperava. Apesar de Júnior ter dirigido o time somente duas vezes (duas derrotas por 3 a 0), alguns comportamentos dele e de Rivellino desagradaram parte dos conselheiros. A ressalva feita ao treinador foi o desconhecimento da realidade corintiana, evidenciado em suas declarações após a derrota para o São Paulo. “Em dois jogos o Júnior já parece assustado. Todo meio futebolístico acompanhou o martírio do Geninho aqui dentro e sabia quais eram os problemas do clube”, afirmou pessoa próxima à diretoria horas antes de sacramentado o pedido de demissão.
Já com relação ao diretor-técnico, ainda paira desconfiança pela falta de experiência e temperamento explosivo. O aparente radicalismo das primeiras declarações “Se não gostar, eu saio” acentuaram dúvidas quanto a seu perfil para o cargo. “Uma pessoa que passa a ocupar uma função central, que ele mesmo denomina de pára-raio, tem de ter jogo de cintura.” Talvez tivesse faltado isso para manter Júnior.
Até entre o grupo de jogadores o desânimo impera. O entusiasmo com a troca de comando durou só uma partida e o discurso da maioria já revela descrença no futuro. Apesar de o time ter mostrado pequena evolução em relação ao jogo contra o São Caetano, o fato de ter sofrido três gols do São Paulo em 15 minutos não foi assimilado. “O time não tem tranqüilidade para jogar”, afirmou o meia Renato.
Chegamos ao fundo do poço
São Paulo –
Boa parte dos jogadores do Corinthians passou a folga de ontem sem sair de casa, curtindo a ressaca de mais uma derrota, 3 a 0 para o São Paulo a 13.ª no brasileiro, superando o número de vitórias (12) e igualando o de empates (13). A situação está incomodando principalmente os remanescentes da campanha vitoriosa de 2002, quando o time conquistou a Copa do Brasil e o Paulistão.Todos rezam para o final do ano chegar depressa. “O nosso sofrimento é igual ao da torcida”, diz o capitão Fabinho. “É o pior momento desde que cheguei ao Corinthians (2001). Com essa derrota chegamos ao fundo do poço. Não há mais como piorar.” O jogador não sente vontade de sair de casa com o time nessa situação. Segundo ele, não se trata de vergonha pela pífia campanha do Corinthians.
“A preocupação é tão grande que não dá vontade de sair. Mas não é por vergonha. Não temos motivos para vergonha. Esse time já foi campeão paulista este ano. O duro é saber que o problema parece não ter solução. Sei lá o que acontece. Sem centroavante, as coisas estão cada vez mais difíceis.”
Fabinho é só um exemplo entre os corintianos que não sonham mais com um final de ano feliz. Mesmo tendo ainda 10 jogos a disputar, ninguém mais acredita que o time possa se classificar para a Libertadores. A diferença para o quinto colocado (Atlético-MG, 60 pontos ganhos) é de 11 pontos.
Alguns jogadores não agüentam mais ficar dando desculpas. Ontem, o goleiro Rubinho reagiu assim: “Quem não está machucado com essa situação? Todo corintiano está. É um momento de profunda tristeza para todos clube, torcida e jogadores. Só não podemos nos acostumar com essa situação.”