A ginástica brasileira vive momentos turbulentos, em virtude de uma guerra entre as modalidades olímpicas que integram o esporte. No último dia 27 de janeiro, o juiz da 10.ª Vara Cível de Curitiba, Rogério de Assis, atendeu a pedido de tutela antecipada feito pela Associação da Universidade do Norte do Paraná (Unopar) e decretou o afastamento preventivo da presidente da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), Vicélia Florenzano.
O juiz determinou ainda que, até o julgamento final da ação, a CBG deve ser dirigida pela vice-presidente da entidade, Maria Luciene Cacho Resende.
A Ação Civil Pública n.º 97/2006, movida pela Associação Unopar e Liga Nacional de Ginástica Rítmica, argumenta que Vicélia não está exercendo o cargo de forma condizente. Assis lembra, em seu despacho, que uma auditoria independente nas contas da CBG constatou a existência de duas contas bancárias não contabilizadas, havendo dúvidas quanto à origem das receitas e o destino dos gastos. Valores recebidos do Ministério do Esporte também não teriam sido contabilizados pela CBG.
O juiz atesta a ação, ?na medida em que verifica-se presente o risco de dano ao interesse coletivo, consistente no risco de que eventuais irregularidades cometidas pela administração da CBG venham a prejudicar o interesse de centenas de crianças que participam das atividades esportivas/sociais junto à entidade, bem como, o interesse de dezenas de atletas que necessitam da boa administração da confederação para manterem seus treinos e representarem nosso País?. Assis lembra também que a própria Advocacia Geral da União admitiu que haveria convênios entre o Ministério do Esporte e a CBG que ainda constavam como inadimplentes.
A assessoria de imprensa da confederação informou que, até o fim da tarde de ontem, não havia recebido o despacho. A presidente, segundo a direção da entidade, estaria em viagem ao exterior, e não foi encontrada para comentar a decisão da Justiça. Maria Luciene Resende, que assumiria a presidência, também não foi encontrada para comentar a situação.
Falta de apoio à GR foi o que gerou a ação civil pública
A associação entrou com representação contra a direção de Vicélia, pelo fato de ela ter dissolvido a equipe de ginástica rítmica, dando prioridade à ginástica artística. E isso aconteceu logo após o Brasil ter conquistado o oitavo lugar no torneio de GR das Olimpíadas de Atenas, um trabalho que vinha sendo desenvolvido pela Unopar (que é centro de referência da modalidade no País e na América Latina) há dez anos.
A explicação de Vicélia, à época, era que a CBG estaria alterando a estratégia. Ao invés de manter uma equipe permanente, centralizando os trabalhos na sede da Unopar, em Londrina, no Norte do Paraná, faria uma descentralização do desenvolvimento da GR, criando alternativas em outros centros, como o Nordeste do Brasil, que tem um bom trabalho de base.
A Unopar, no entanto, discordou completamente da estratégia, e exigia eqüidade na distribuição dos recursos da entidade. Para a Associação Unopar, tanto verbas da Lei Agnelo/Piva, quanto os recursos arrecadados com patrocinadores privados, deveriam formar um bolo e serem distribuídos entre todas as modalidades da entidade (além de GR e GA, existe também a ginástica geral, ginástica aeróbica, trampolim e os esportes acrobáticos).
Trabalho de fôlego interrompido
A seleção brasileira de GR de Conjunto treinou em Londrina durante mais de 10 anos e, sob o comando da técnica Bárbara Laffranchi, saiu do 96.º lugar no ranking mundial e chegou ao 8.º lugar, colocação conquistada nas duas últimas Olimpíadas (Sidney e Atenas). Além disso, a seleção ficou em primeiro lugar nos dois últimos Jogos Pan-Americanos (Winnipeg e Santo Domingo).
Pouco depois do término das Olimpíadas de Atenas, em agosto de 2004, a CBG anunciou a dissolução da seleção de GR de Conjunto. ?Foi o que nos motivou a entrar com a ação. Esta decisão acabou com a GR no Brasil?, afirma o presidente da Associação Desportiva Unopar, chanceler Marco Antonio Laffranchi.