Repor a bola, cuidar para que duas delas não sejam jogadas em campo, auxiliar os jogadores para a reposição. O trabalho de um gandula parece simples, mas o primeiro treino em campo dos jovens que exercerão a função na Copa do Mundo mostrou que não vai ser fácil fazer parte desse seleto grupo que estará presente em todas as partidas da competição.
Entre meninos e meninas, 51 atletas foram reunidos para o treinamento no Centro de Práticas Esportivas da USP, em São Paulo. As equipes Grêmio Botafogo (masculino), de Guaianases, e Seleção Valinhos (feminino), da cidade do interior paulista, ficaram com o primeiro lugar na Copa Coca-Cola em 2013, e como prêmio, receberam a chance de participar do grande evento como gandulas. No início de 2014, a Fifa e a empresa de refrigerantes anunciaram que o Centro Olímpico e o Benfica, segundos colocados, também fariam parte do projeto.
Na manhã desse domingo, os 28 meninos e as 23 meninas receberam as instruções práticas do professor Vitor Hugo Teixeira, árbitro da Federação Nacional de Futsal. Rígido, ele comandou também a parte teórica do treinamento, no sábado. “O trabalho técnico é de reconhecimento de campo, reposição de bola e agilidade. Na parte teórica, o que mais cobramos é a imparcialidade e o compromisso. Isso é fundamental”, disse.
De fato, a imparcialidade é o fator mais cobrado pelos organizadores. René Barreto Neto, que apita pela Federação Paulista de Futebol e foi eleito pela Fifa para acompanha a seletiva, endossa o discurso do professor Vitor Hugo. “Não pode ter deslumbre. Trabalhamos a imparcialidade, postura. Temos que seguir um protocolo imposto pela Fifa para que eles não de dispersem ou distraiam, comprometendo o evento.”
O contato com os ídolos também é trabalhado, para que não interfira no desempenho dos jovens. “Alguns jogam em grandes clubes, estão acostumados com atletas famosos. Eles tem que jogar a bola para o Messi como se ele fosse qualquer jogador”, completou.
No treinamento teórico, os jovens gandulas aprenderam o que podem e não podem fazer durante os jogos no Itaquerão, o estádio do Corinthians. Alifer Lourenço Goes, do Benfica, tem apenas 14 anos, e sente os efeitos da ansiedade. “A gente sofre pressão da gente mesmo, que fazer certo, mas no fim acaba ficando tudo bem. Ontem na hora da prova tinha gente que tremia! Nossa função é muito importante, vamos estar no Mundial”, contou, empolgado.
As meninas de Valinhos chegaram “leves” a São Paulo. Sob a supervisão da treinadora Ana Lúcia Gonçalves, enfrentaram a desconfiança de alguns na cidade, venceram a competição no ano passado e se credenciaram para a seleção. “Nossos pais ficaram surpresos, mas felizes. É legal mostrar que as meninas também estarão presentes”, contou Bruna Barbosa dos Santos, de apenas 13 anos.
Ana Lúcia ressalta a dificuldade de trabalhar com a faixa etária, mas se diz realizada. “Somos muito disciplinadoras, e estar aqui foi uma grata surpresa”, contou E de comprometimento a equipe de Valinhos entende: uma das jogadoras do elenco, a zagueira Aline Cristina da Silva, de 14 anos, fez uma acompanhamento médico e fisiológico para perder 25kg antes da competição e ficar bem para exercer atividades físicas.
Após o encerramento dos trabalhos do fim de semana, os professores se reunirão para preparar um ranking. Com os resultados em mãos, divulgarão a lista dos aprovados. A expectativa é de que todos os atletas que participaram da seleção sejam confirmados no evento.
NA JUSTIÇA – Após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizar a participação das crianças no evento, o Ministério Público tenta reverter a decisão, com base no artigo da Constituição Federal que proíbe o exercício de qualquer função por crianças menores de 14 anos. Por meio de sua assessoria, a Coca-Cola Brasil, organizadora do concurso, defendeu a decisão do CNJ.
“Eles ganharam a participação como prêmio. Esse trabalho não pode nem ser caracterizado como voluntariado, porque não tem frequência. Unimos o vigor físico dos adolescentes como atletas com a vontade de participar de um grande evento como a Copa do Mundo”. Para comparecer aos jogos, os jovens, que tem de 14 a 16 anos, precisam de autorizações como direitos de imagem, viagem e transporte assinadas pelos pais.
