O gesto truculento de um policial militar pode causar danos irreversíveis à jovem torcedora do Paraná Clube baleada à saída no clássico de domingo. A estudante Narayana Cardozo, 15 anos, terá que passar por cirurgia no olho esquerdo – atingido por munição de borracha – e corre risco de perder a visão.
Narayana foi ao clássico com um tio, que é médico, com um primo, estudante de Jornalismo, e o namorado Jefferson Roberto Padilha, 20 anos, estudante de Educação Física da PUC. Depois do clássico, todos saíam calmamente da Arena quando a confusão começou, na Rua Madre Maria dos Anjos.
A família acusa a Polícia Militar de ter agido com violência excessiva e desnecessária. "Ninguém viu briga. Se aconteceu, foi lá dentro. De repente, meu irmão encontrou uma bala de borracha no chão e quando virou-se para trás viu minha filha caída", conta Nídia Cardozo, mãe da adolescente.
O mesmo PM que atirou em Narayana teria acertado outro tiro de borracha pouco acima do lábio de Jefferson. Tio e sobrinha foram atendidos no Hospital Cajuru e liberados ainda no domingo.
Ontem, Narayana soube que terá que passar por uma cirurgia no olho, que ainda não conseguia abrir. "O tiro rasgou a pálpebra e estragou o cristalino. O especialista disse que só depois da cirurgia saberá se houve danos permanentes à visão", disse a mãe da estudante.
Ironicamente, o tio da adolescente só aceitou levar os jovens à Arena se nenhum deles usasse uniforme do Paraná Clube – um meio de evitar qualquer confusão com torcedores do Atlético. "Nem era preciso atirar, mas se fosse, que mirassem na perna. Agora minha filha pode perder a visão por causa de um jogo de futebol e do despreparo de um policial", lamentou a mãe.
O major Sérgio Cordeiro de Souza, comandante do policiamento no clássico, falou que os tiros foram disparados para conter uma confusão provocada pela torcida Fúria Independente. "Havia risco de tumulto generalizado. Mas não quero dizer que o policial não errou, pois nossa orientação é direcionar os disparos às pernas", falou o oficial.
Ontem, a Secretaria Estadual de Segurança Pública emitiu nota informando o afastamento do cabo Cristiano Araújo Pedro, acusado de disparar as balas que atingiram o casal. O CPC determinou a instauração de um inquérito policial militar para apurar o caso em âmbito criminal e disciplinar. Se condenado, o cabo pode até ser expulso da corporação.
