Jogando para o vazio

Pouquíssimos puderam ver, mas foi um dos episódios mais curiosos da história do futebol paranaense. Quando Atlético e Figueirense pisaram o gramado do Couto Pereira, sábado à tarde, o cenário era tão inusitado que chegava a assustar. Em campo, um dos clubes mais populares do Estado, dono de uma das mais vibrantes torcidas do País. O estádio, o maior do Paraná. Mas quem dominava a cena era o silêncio.

Completamente desertas, as arquibancadas, que em 1983 receberam mais de 65 mil pessoas, para ver o mesmo Atlético enfrentar o Flamengo, faziam lembrar um templo abandonado, em memória de uma divindade há séculos esquecida. Nada que lembrasse uma ensolarada tarde esportiva de sábado, no país do futebol.

Os adversários, coincidentemente, eram os mesmos que, em junho de 1978, haviam jogado, naquele mesmo estádio, para apenas 74 pagantes, o menor público da história do Couto Pereira até então. Mas nem naquele dia o cenário poderia ter sido tão melancólico.

Os gritos dos jogadores, as instruções dos técnicos, até o barulho da bola sendo chutada. Além disso, os narradores das emissoras de rádios, e o cantador de bingo da festa junina que o Coritiba organizava no estacionamento. Tudo podia ser ouvido.

O mais tradicional lazer do povo brasileiro estava reservado para quem estava ali trabalhando. Imprensa, polícia, dirigentes, árbitros, técnicos e atletas. Mais ninguém tinha o direito de assistir, ao vivo, ao duelo entre os dois últimos colocados do campeonato brasileiro. Mas alguns torcedores conseguiram burlar a imposição. De cima dos prédios que ficam ao lado do estádio, três ou quatro ?sortudos? assistiram a um dos piores jogos do Brasileirão.

Os jogadores sentiram o baque. O Atlético era o oposto daquele que venceu o Santos em sua última apresentação na Baixada. Mesmo completo durante toda a partida, parecia desfalcado, como um time que perde a referência após a expulsão de um craque. ?É difícil jogar sem torcida. Hoje, a nossa equipe precisava muito do torcedor incentivando?, afirmou Lima, o artilheiro do Furacão na temporada.

O placar final de 0 a 0 foi a única coisa que não pareceu estranha. Um gol ali, sem ninguém para comemorar além dos jogadores, era o mais bizarro que poderia acontecer. O Atlético tenta agora convencer o STJD a rever a decisão que o obrigou a jogar sem a presença de seu torcedor. Se falhar, terá o mesmo cenário em sua próxima partida em Curitiba, contra o Fortaleza, dia 26, um domingo, às 16h.

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