Joaquim Carvalho Cruz nunca recusou desafios – prova disso foi a decisão de se mudar para os Estados Unidos, há quase 30 anos, que o ajudou a conquistar o ouro olímpico nos 800 metros em Los Angeles/1984. Já como técnico, o brasiliense envolveu-se com o esporte paraolímpico americano, com o qual também foi campeão. E, desde o início do ano, trabalha para captar talentos em meio à dor daqueles que vieram feridos de batalhas no Afeganistão e no Iraque.
Joaquim vive em San Diego, na Califórnia, com a mulher e os filhos. Convive com os vários níveis de dedicação ao atletismo – desde a iniciação até o alto rendimento. Em 2005, ganhou nova função no Centro Olímpico de Chula Vista, localizado próximo da cidade em que vive e onde já trabalhava. “Naquele momento, começaram os programas para o esporte paraolímpico e me colocaram como treinador chefe do atletismo”.
O objetivo era formar uma equipe para a Olimpíada de Pequim, no ano passado. E o campeão olímpico brasileiro formou quatro campeões paraolímpicos norte-americanos no atletismo. “Fui para a China como técnico da equipe olímpica e paraolímpica. Passei cinco semanas lá”, lembrou. Antes disso, também participou do Parapan do Rio de Janeiro, em 2007.
Diante do sucesso obtido nos Jogos de Pequim, o brasileiro foi realocado: descobrir potenciais atletas paraolímpicos entre ex-combatentes. Trabalho árduo, admitiu. “Os militares ofereciam alguns campings (treinos conjuntos), mas apenas três vezes ao ano. De lá, queriam tirar atletas. Eu achava – e foi a opinião que dei – que era um salto grande demais”, lembrou. “É como pegar uma pessoa sã, mas sedentária, e falar em disputar Olimpíada. Alguns atletas chegavam aos treinos de muletas, não havia condição”.
Por isso, Joaquim passou a desempenhar o que chama de “ponte”. “As pessoas precisavam ter atividade física todos os dias. E eu montei uma ponte: comecei a ir ao hospital (o Centro Médico da Marinha), ficar junto do trabalho de reabilitação, da fisioterapia, já atento a possíveis atletas”.
Em quase um ano de trabalho, os resultados não deram muitos frutos, disse Joaquim, conformado. “Até agora, de 20 pessoas, tirei um só atleta. Mesmo assim, acho que não vai vingar”. Tal qual no esporte olímpico, é necessário o desenvolvimento de uma cultura do esporte de alto rendimento para os atletas paraolímpicos, explicou. “Para chegar ao nível de Paraolimpíada, o atleta deveria estar envolvido com o esporte antes de sofrer o acidente. E esse não é o caso de 90% dos norte-americanos”.
De qualquer maneira, Joaquim já tem um objetivo pela frente: formar uma equipe de competição já para 2010. “Vou trabalhar com os feridos físicos, mas também com os que tiveram traumas neurológicos”. No trabalho feito especialmente para quem nunca esmoreceu diante das adversidades, Joaquim afirma que é preciso ter muita persistência. “A cobrança não é enorme. Até porque, infelizmente, a demanda é muito grande”.
Com a decisão do presidente Barack Obama de aumentar o contingente no Afeganistão – cerca de 30 mil americanos devem combater para pôr fim à ocupação até 2011 -, o brasileiro sabe que novos feridos passarão por suas mãos.