Uma propriedade em nome do francês Jérôme Valcke, ex-secretário-geral da Fifa, foi alvo de uma operação por parte da polícia em Barcelona, no final de novembro do ano passado. A ação, mantida em sigilo de Justiça, faz parte das investigações conduzidas por procuradores de diferentes países sobre a eventual participação do dirigente na venda de direitos da Copa do Mundo para empresários do Catar.
Em 2017, Jérôme Valcke passou a ser investigado na Suíça por conta de sua relação com a Bein Media Group, por suposta corrupção na escolha de contratos de TV para a Copa do Mundo. No centro da polêmica está Nasser Al-Khelaïfi, o homem que bancou a transferência recorde de Neymar do Barcelona ao Paris Saint-Germain por 222 milhões de euros e hoje dono do time de Paris.
Mas, acima de tudo, trata-se do emissário do Catar para o futebol no Ocidente. Ele é suspeito de ter pago milhões em propinas para garantir os contratos com a Fifa, justamente nos anos em que Jérôme Valcke era o secretário-geral da entidade.
Uma megaoperação das polícias da Suíça, Itália, Espanha e França ocorreu em outubro com o confisco de materiais em diferentes locais, residências e escritórios. As investigações começaram em março e apontam para suspeitas de corrupção privada, fraude e gestão desleal. Semanas depois, o endereço onde Jérôme Valcke mantinha negócios em Barcelona foi alvo de uma operação. O local, porém, estava em nome de sua esposa.
Jérôme Valcke, que negou em outubro qualquer irregularidade, tinha relação íntima com Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF que é investigado por suspeitas de ter recebido recursos do Catar em uma conta em Mônaco. Ele também nega irregularidades e afirma que a sua conta no Principado sempre foi declarada.
“Jérôme Valcke é suspeito de ter aceito vantagens indevidas em relação a acordos de mídia em certos países por parte de um executivo do setor dos direitos esportivos no que se refere às Copas do Mundo de 2018, 2022, 2026 e 2030 e da parte de Nasser Al-Khelaïfi no que se refere às Copas de 2026 e 2030”, disse comunicado do Ministério Público suíço.
O Estado não conseguiu localizar nesta semana o dirigente francês. Mas procuradores fora da Suíça admitiram que a investigação e a operação permitem a abertura de uma brecha inédita para que mergulhem na relação entre o Catar, o futebol europeu e a Fifa.