Itamar esteve em dois grandes clubes brasileiros dos anos 70. O primeiro foi o São Paulo, onde estreou no dia 15 de julho de 1973, justamente num clássico contra o Palmeiras, entrando no lugar de um dos melhores centroavantes da história do tricolor do Morumbi, Toninho Guerreiro. Ele não emplacou como titular no tricolor do Morumbi por um motivo simples: “Eu cheguei e o titular era o Toninho Guerreiro. Não tinha como competir com ele.
Ele fazia gol de tudo que era jeito e um atrás do outro. Estava numa fase espetacular. Era um grande artilheiro e uma excelente pessoa. Ele não tinha fôlego, não corria muito, mas dentro da área não perdida nada. Aquele era o espaço dele. Ele fazia gols aos montes. Não tinha como competir com ele”. Para se ter uma ideia, Guerreiro foi artilheiro do Paulista três vezes (1966, 1970 e 1972). Só Pelé naqueles anos entre 1950 e 1975 foi mais vezes artilheiro – 11 vezes. Era o São Paulo de Pedro Rocha e outros craques. A temporada no São Paulo, no entanto, serviu para colocá-lo diante daquele que considera o técnico mais completo que encontrou na carreira: “Telê Santana sabia trabalhar em campo, sabia mexer no time e sabia trabalhar com os atletas. Foi o técnico mais completo que eu conheci e com quem convivi”, diz Itamar.
Se ele entendeu porque não emplacou a primeira chance num grande clube, não entendeu porque não emplacou a segunda que teve no Palmeiras, onde fez 45 jogos e marcou onze gols. “Eu ia bem, mas o Dudu que era o técnico invocou. Não me deixava jogar, me deixava no banco, mesmo quando eu entrava e decidia”, diz Itamar. No dia 14 de outubro de 1976, por exemplo, o Palmeiras enfrentou o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro no Maracanã. De um lado, Zico, Júnior e Cantarele dirigidos por Cláudio Coutinho. De outro, o Palmeiras de Leão, Ademir da Guia e Jorge Mendonça, que marcou o primeiro gol da partida aos dez minutos do segundo tempo. Perto do final da partida, Dudu tira Toninho e coloca Itamar. Aos 44 minutos do segundo tempo, Edu Bala corre até a linha de fundo e não cruza. “Ele não cruzava. Ele meteu um chute forte na minha direção. Eu estava fora da grande área. A bola bateu na minha cabeça e foi que nem um canhão para o gol. O Cantarele nem se mexeu”, diz Itamar. “Eu acho que este foi o gol mais bonito que eu marquei na vida”, completa.
Mas performances como esta não garantiam titularidade. Em outra ocasião, antes desta partida, em 1975, Itamar estava no banco de reservas, final de jogo, placar empatado, Dudu manda Itamar entrar, ele entra e faz o gol da vitória. “Pensa que foi levado em conta? Nada. Aí, quando venceu meu contrato no final de 1976, eu disse: aqui não fico mais. E fui embora. Era para ir para o Santos. Mas acabei voltando para o Marília, de onde eu tinha saído depois de ser vice-artilheiro do Paulista, só atrás do Serginho Chulapa. O que me prejudicou foi que eu tive um afundamento do malar e fiquei um mês parado e o Serginho aproveitou para disparar”.
Mas, mesmo assim, Itamar está na foto do Palmeiras, campeão paulista de 1976. O último título do time do time de Parque Antártica que entrou num jejum de dezessete anos. No entanto, a melhor recordação de Itamar em Parque Antártica foram os torneios como o Ramon de Carranza, na Espanha. “Na final nós derrotamos o Real Madrid por 3×1. O nosso técnico era o Dino Sani. E fomos campeões do torneio”, conta Itamar, que jogou a partida como titular. O locutor Osmar Santos narrou: “As bandeiras do Palmeiras tremulam na Espanha”. Edu marcou o primeiro aos 9 minutos do segundo tempo, Leivinha marcou o segundo aos 15 minutos do segundo tempo e quatro minutos depois o mesmo Leivinha cruzou para Itamar marcar o terceiro gol. Aos 42 do segundo tempo, Breitner diminuiu o placar, sem influenciar no resultado final.
Descoberto aos 15 anos por ex-craque
“Eu tinha catorze para quinze anos e jogava futebol de salão num time chamado Paulistinha de São Carlos. Aí chegou um treinador doido na cidade e quando disseram para ele que eu jogava bem ele foi lá me viu e me, levou para jogar no São Carlos Clube. O nome do treinador era Zezé Procópio”, conta Itamar. Zezé foi meio-campista que jogou no Palmeiras e foi ídolo no São Paulo. Ele disputou a Copa de 1938 na França, participando de quatro jogos. Em 1967 e 1968 ele treinou o São Carlos Clube. Foi nesta época que ele descobriu Itamar que trabalhava num frigorífico da cidade e para treinar precisou ser liberado um período.
“No meu primeiro jogo como profissional eu marquei o meu primeiro gol como profissional. Foi pelo São Carlos contra o Uberaba, lá em Uberaba. Ganhamos por 1×0. Eu tinha quinze anos. Mas não pude me profissionalizar, o que foi acontecer quando eu completei 18 anos”, diz Itamar, que já começou como centroavante. “Depois eu deixei o São Carlos e fui para o Botafogo de Ribeirão Preto. Eu estava começando”, conta ele. Em 1969 o presidente do Apucarana, Jesus Vicentini, o levou para jogar pela primeira vez no Norte do Paraná. “Fiquei sete meses e cheguei a passar fome em Apucarana. Quando acabou o Paranaense eu fui para a Platinense em 1970, disputar o acesso. O time subiu”, conta ele. Em 1971, Itamar estava no Garça, que disputava a segunda divisão e onde o atacante virou ídolo.
Rodando
Como os campeonatos das várias divisões não eram disputados simultaneamente, no mesmo ano o atacante estava em Araraquara defendendo a Ferroviária na primeira divisão. No ano seguinte, defendeu o Marília pela primeira. Em 1973, o Marília o emprestou para o São Paulo onde ficou por sete meses e fez algumas partidas. “Em 1975, eu voltei para o Marília e este foi o ano em que me destaquei porque eu disputei a artilharia do Paulista com o Serginho Chulapa. Estava marcando muitos gols, mas sofri um afundamento do malar. Hoje faz uma cirurgia e o cara joga no dia seguinte. Mas naquele tempo tive que usar uma proteção e fiquei trinta dias sem jogar e sem treinar. E aí o Serginho disparou na artilharia”, conta Itamar. Foi por conta dos gols que marcou nesta temporada que ele chamou atenção do Palmeiras e foi para o Parque Antártica no ano seguinte. (EP)