A Itália terá um triplo desafio hoje, às 16h (de Brasília) contra a Ucrânia, em Hamburgo, pelas quartas-de-final da Copa do Mundo da Alemanha. Além da própria equipe adversária, que fez história e alcançou uma fase decisiva do torneio em sua estréia na história da competição, os italianos precisarão superar o amplo favoritismo e os problemas que teimam em rondar a Azzurra.
Se não bastasse o escândalo de resultados manipulados no Campeonato Italiano que atormenta o grupo desde a fase de treinos pré-Copa, os jogadores ficaram chocados com a notícia de que o ex-lateral e hoje supervisor da Juventus, Gianluca Pessotto, tentou se suicidar na terça-feira, se jogando do terraço da sede do clube. Muitos atletas do time atuaram com Pessotto no alvinegro e na seleção e no dia do fato dois deles, Del Piero e Zambrotta, chegaram a viajar para Turim, fazendo uma visita ao hospital em que o companheiro está internado em estado gravíssimo.
Pênaltis
Se há um jogador italiano que não nem ouvir falar em disputa de pênaltis é justamente o que mais pode transmitir confiança à torcida se a partida de hoje chegar a esse momento dramático: o goleiro Buffon.
E um dos responsáveis por esse trauma é Shevchenko, a estrela da Ucrânia.
?Desde aquela derrota para o Milan na final da Copa dos Campeões em Manchester que não gosto nem de ver pênalti. Quando meu time vai bater, viro de costas e fico vendo a reação da torcida para saber se foi gol.? Foi o que ele fez segunda-feira, quando Totti se preparava para fazer a cobrança que tirou a Azzurra do sufoco contra a Austrália.
A final a que ele se refere ocorreu em 2003 e o Milan venceu por 3 a 2 nos pênaltis. A cobrança decisiva, que garantiu o título para a equipe de Milão, foi de Shevchenko. No final do treino de ontem, o técnico Marcello Lippi colocou alguns jogadores para treinar pênaltis. Buffon revezou-se com Amelia – Peruzzi, o segundo goleiro, não treinou por causa de dores lombares – e mostrou que está mesmo em ótima forma: em 14 chutes, defendeu cinco. Amelia pegou dois em 14 e um foi na trave. Alguns titulares não chegaram nem perto da cal para treinar. Foi o caso de Cannavaro, Zambrotta, Gattuso e Perrotta. E o melhor desempenho foi de um reserva: Del Piero, que converteu suas três cobranças sempre mandando a bola para o lado oposto do goleiro. Grosso também teve 100% de aproveitamento, mas bateu só dois e em ambos os goleiros chegaram a tocar na bola.
Shevchenko esquece amizade
Hamburgo – O atacante Andriy Shevchenko afirmou que vai esquecer toda a amizade que tem com os jogadores italianos assim que pisar no gramado da AOL Arena, em Hamburgo, para o duelo com a Itália, hoje. ?Passei sete anos maravilhosos e devo muito a aquele país, mas agora serão meus inimigos na partida mais importante da história da Ucrânia?, afirmou o atacante, que acaba de se transferir do Milan para o Chelsea.
Cinco dos jogadores da seleção italiana foram seus companheiros em Milão: os meias Gattuso e Pirlo, que serão titulares hoje, os atacantes Gilardinho e Inzaghi, que devem ficar no banco, e o zagueiro Nesta, que está contundido. ?É uma equipe forte, com jogadores cheios de caráter, que jogam firme na defesa?, explicou o atacante.
Para Shevchenko, a chave da equipe na partida será atuar com coragem. ?Isso vai compensar qualquer deficiência técnica. Afinal de contas, é a Itália e vale uma vaga nas semifinais?, disse o jogador, consciente de que a Ucrânia ainda não mostrou um futebol convincente na Copa.
A seleção foi goleada por 4 a 0 pela Espanha na estréia, venceu a Arábia Saudita pelo mesmo placar e a Tunísia por um magro 1 a 0, e se classificou nas oitavas ao derrotar a Suíça nos pênaltis após um modorrento 0 a 0. Campanha bem diferente da que encantou nas Eliminatórias, quando foi a primeira seleção européia a se classificar, num grupo que tinha forças como a Grécia, atual campeã européia, e a Turquia, terceira colocada na última Copa.
?Chamam nosso futebol de modesto e prático, mas eu gosto do que estamos apresentando. Estamos nas quartas-de-final?, defende-se o técnico Oleg Blokhin, que praticamente definiu a entrada do jovem atacante Milevskiy na equipe, no lugar de Voronin, que sofreu uma lesão muscular na coxa e não joga mais na Copa.
A equipe pode ter um torcedor especial na partida: o presidente da Ucrânia, Victor Yuschenko, que foi convidado em carta assinada por Blokhin e Shevchenko, que é o capitão do time. O chefe de Estado admitiu a possibilidade de viajar, em conversa por telefone com o treinador, mas não confirmou a viagem.