São Paulo
– Rubens Barrichello se reencontrou com seu público. E Interlagos, onde ele nasceu para o automobilismo, se reencontrou com o velho Rubinho ontem. O piloto da Ferrari conseguiu a pole-position para o GP do Brasil, terceira etapa do Mundial de Fórmula 1. É a primeira pole de um brasileiro em casa desde 1994, com Ayrton Senna.Enxovalhado pelos torcedores nos últimos anos quando corria em Interlagos, Barrichello lavou a alma na tarde ensolarada de ontem. Com o tempo de 1min13s807, deixou todo mundo para trás e, para seu alívio e sorte, viu o companheiro Michael Schumacher fazer seu treino mais apagado desde 1998, conseguindo apenas a sétima posição no grid. É a maior distância entre o brasileiro e o alemão num grid desde o GP da Inglaterra de 2000, quando Rubens largou na pole e Michael, em quinto.
“Estou tão contente, tão contente, que nem sei o que dizer”, falou o brasileiro. “É fantástico. Desde criança, tudo que eu sonhava era ter um carro competitivo aqui para poder comemorar uma pole com a torcida. Foi lindo ver a alegria do público quando fiz meu tempo.”
Rubens foi o penúltimo piloto a ir para a pista no treino de voltas lançadas. E não se pode dizer que tenha conseguido a pole sem algum suspense. O surpreendente Mark Weber, da Jaguar, primeiro colocado na sexta-feira, abriu sua volta com duas parciais melhores que as de Barrichello, mas acabou sucumbindo no último trecho do circuito. Mesmo assim, ficou em terceiro no grid, 0s044 atrás do brasileiro e 0s033 atrás de David Coulthard, o segundo no grid.
Barrichello contou que quando foi para a pista pediu à equipe para tirar do seu painel eletrônico no cockpit as informações sobre as parciais do circuito. Na cronometragem, cada pista é dividida em três trechos que balizam o tempo de volta total. “Queria me concentrar apenas na minha volta. Me preocupei em não cometer erros e em não passar do limite. Foi muito legal, Interlagos é especial. E acho que às vezes a F-1 é como o futebol, você joga melhor quando joga em casa.”
Rubens, embora garanta que adora correr em São Paulo, convive há muito tempo com o que se chama de “maldição de Interlagos”. Em dez participações, conseguiu chegar ao final de apenas uma, em 1994, quarto lugar com a Jordan. Nas demais, quebrou ou bateu. “Não penso nisso. Agora, me preocupo apenas em fazer uma boa corrida. A pole é importante, mas o que conta mesmo é a corrida.”
Todos na Ferrari festejaram muito o resultado de Barrichello, deixando de lado o mau desempenho de Schumacher. “É muito bonito o que aconteceu aqui, diante de um público fantástico”, disse o diretor Jean Todt. A torcida também comemorou bastante. Assim que ele desceu do carro, já sabendo que Webber não o tinha superado, nas arquibancadas explodiram os gritos de “Rubinho! Rubinho!”.
Mesmo aos 30 anos de idade e em sua 11.ª temporada na F-1, Rubens continua sendo o “Rubinho”, no diminutivo, para a imensa maioria dos torcedores brasileiros. Foi assim que ele ficou conhecido, no início dos anos 80, quando começou a encantar os fanáticos abnegados que frequentavam o kartódromo de Interlagos. “Rubinho” porque o pai, velho morador do bairro, tem o mesmo nome, e é chamado de “Rubão”.
Os seguidos fracassos em casa macularam o relacionamento de Barrichello com uma torcida acostumada a vitórias desde que o Brasil entrou para o mapa da F-1. Mas, ontem, o público achou de novo alguém para torcer. Aquele Rubinho do kart, hoje na F-1, no melhor time do mundo, que tem a maior chance de sua vida de realizar o sonho de vencer no autódromo que durante tantos anos foi quase o quintal de sua casa. O GP do Brasil começa às 14h e terá 71 voltas.
Sétima na carreira
Flavio Gomes
Barrichello conseguiu ontem a sétima pole da carreira, quinta com a Ferrari. A primeira vez que o brasileiro largou na frente em um grid foi no GP da Bélgica de 1994, em Spa-Francorchamps. Rubens corria pela Jordan e conseguiu o resultado num treino com pista molhada, aproveitando que ela secava no final. Dedicou o resultado a Ayrton Senna, que havia morrido três meses antes em Imola.
A pole seguinte veio quase cinco anos depois, no GP da França de 1999, em Magny-Cours, em situação semelhante de pista molhada. Na ocasião, Barrichello defendia a Stewart. Na Ferrari, o brasileiro foi pole nos GPs da Inglaterra de 2000 e da Austrália, Áustria e Hungria no ano passado.
Três GPs, três poles diferentes
Flavio Gomes
O novo regulamento, além de oferecer surpresas ao público, vem imprimindo a marca da alternância. Nos três GPs desta temporada, foram três poles diferentes: Schumacher em Melbourne, Alonso em Sepang e Barrichello em Interlagos. Não chega a ser algo inédito, e ano passado também foi assim.
Schumacher fez seu pior treino no Brasil desde que estreou na F-1. Em 1992, quando disputou seu primeiro GP no país, ele largou em quinto com a Benetton.
