Na lanterna do Campeonato Brasileiro, a Chapecoense luta para evitar o seu primeiro rebaixamento na história e o agravamento de sua situação financeira. Desde que subiu para a elite nacional, em 2014, a equipe catarinense nunca passou por tantas dificuldades sob o ponto de vista econômico. Nem mesmo quando houve a tragédia que causou a morte da maior parte do elenco.
Antes da queda do avião em novembro de 2016, a Chapecoense era até citada como exemplo de administração e equilíbrio das contas. Após o acidente e a morte de alguns dirigentes, entre eles o presidente Sandro Pallaoro, as coisas começaram a mudar e a situação se agravou do ano passado para cá, quando os recursos diminuíram e os gastos aumentaram.
De acordo com Paulo Magro, presidente em exercício no clube (ele ocupa o cargo de Plinio David de Nes Filho, que pediu licença por problemas médicos), houve uma sequência de complicações: mudanças na cota de TV, contratações erradas, constantes alterações de técnicos, queda no número de sócio-torcedor e as indenizações para as famílias dos mortos no acidente fizeram com que o time entrasse em parafuso financeiro. Já é sabido que o clube fechará o ano em déficit.
“Em 2017, montamos um bom time e conseguimos a classificação para a Libertadores graças a uma grande ajuda dos outros clubes. Palmeiras, Cruzeiro, Grêmio, Inter, vários nos ajudaram e esses clubes pagavam a maior parte dos salários, o que facilitou para nós. Mas, em 2018, as coisas mudaram”, explicou Magro.
A folha salarial da Chapecoense era de R$ 57 milhões na temporada, mas ela pagou apenas R$ 42 milhões. O restante foi quitado por outros clubes. A Chapecoense encerrou 2017 com saldo positivo de R$ 22 milhões, mas tudo mudou em um ano. Em 2018, contratações mais caras e apostas “furadas” para a Copa Libertadores começaram a mexer no caixa. “Somado a isso, tivemos trocas de treinadores, que renderam gastos extras”, afirmou o dirigente.
Em 2017, foram quatro treinadores: Vagner Mancini, Vinícius Eutrópio, Emerson Cris (interino) e Gilson Kleina, que iniciou 2018 no comando do clube, até ser trocado por Guto Ferreira e, pouco depois, Claudinei Oliveira assumiu o cargo. Neste ano, já foram três técnicos: Emerson Cris assumiu duas vezes, sendo a segunda de forma efetiva, e o time ainda teve Ney Franco e Marquinhos Santos, o atual treinador.
A queda para a Série B pode fazer com que a Chapecoense feche o ano com R$ 36 milhões de déficit. Se conseguir se manter na elite, as coisas ficam um pouco melhor, já que o clube irá receber um valor pelos direitos de transmissão que varia de acordo com a posição. Se ficar em 16.º, por exemplo, receberá R$ 11 milhões e o rombo nos cofres vai cair para “apenas” R$ 25 milhões.
Parte da dívida se refere aos acordos trabalhistas feitos com os familiares das vítimas do acidente de 2016. Magro diz que o valor representa cerca de 10% das dívidas e 80% dos acordos já foram fechados. “Temos duas folhas de pagamento: dos jogadores e funcionários e a dos familiares e vítimas do acidente”, comentou.
O número de sócios-torcedores também impactou nas finanças. O clube chegou a ter 12 mil sócios, número alcançado pouco depois do acidente aéreo, mas foi caindo e hoje são 8.500 associados. Por isso, o clube tem feito uma campanha para recuperar seus sócios. Até as cotas de TV, algo que salva as finanças dos clubes, têm sido um problema em Chapecó (SC).
A previsão no início da temporada era a entrada de R$ 10 milhões referentes aos direitos de transmissão dos jogos do Brasileirão para o exterior. Era o valor que a CBF projetava enviar aos clubes, mas as negociações não saíram como o esperado e a Chapecoense recebeu apenas R$ 1,8 milhão.
Tudo isso fez com que a diretoria chamasse os atletas para uma reunião e negociasse a forma de pagamento dos direitos de imagem que estavam em atraso. Os salários estão em dia, mas não se sabe até quando. O clube que já viveu a maior tragédia do futebol brasileiro e se reergueu precisa mais uma vez mostrar a sua força.