Cargo relegado a segundo plano no mundo político, a presidência da Federação Paranaense de Futebol ganha peso na eleição de 18 de abril. Após o fim do reinado de Onaireves Moura, solto na sexta-feira após quase cinco meses preso, acusado de corrupção em sua gestão, o posto virou estratégico com a disputa pelas sub-sedes da Copa do Mundo de 2014.
Maior prova é o lançamento de um candidato ligado diretamente ao governo do Paraná. Ex-presidente do Tribunal de Contas e secretário-chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro aceitou a missão de concorrer ao cargo e intermediar com a CBF a indicação de Curitiba para o Mundial. Ao mesmo tempo, promete dar ?credibilidade? à entidade, envolvida em inúmeros escândalos e problemas nas últimas duas décadas. Mas, na primeira medida polêmica, confirma que não pretende largar o governo e quer conciliar as duas atividades.
O lançamento oficial da chapa acontece hoje à noite, num restaurante em Curitiba. Mas o secretário, que já foi cronista esportivo, antecipou alguns dos planos para o comando FPF em entrevista à Tribuna.
Tribuna: Pretende conciliar a FPF com a Casa Civil?
Iatauro: Sim. Faço expediente até às 17h30 na Casa Civil. Posso me dedicar à Federação depois desse horário e em tempo integral nos finais de semana. Mas se no frigir dos ovos eu sentir que uma coisa atrapalha a outra, a prioridade será para a FPF.
Tribuna: A Copa de 2014 em Curitiba será sua grande meta?
Iatauro: Sim, do ponto de vista econômico. Vamos sentar com Ricardo Teixeira, com quem tive contato recente (durante visita de comitiva paranaense ao Rio de Janeiro, em fevereiro), para que possamos trazer não só jogos da Copa, mas também das Eliminatórias.
Tribuna: A FPF é administrável?
Iatauro: É preciso recuperar sua credibilidade. As dívidas passam dos R$ 50 milhões, mas os credores principais são poucos: a Prefeitura de Curitiba, o Atlético Paranaense e o INSS. Não acredito em dívida impagável. Vamos negociar com todos.
Tribuna: O que fazer com o Pinheirão?
Iatauro: A primeira coisa é saber em que pé está o imbróglio. Mas é certo que não cabem lá competições profissionais. Já temos três estádios grandes em Curitiba, ele se tornou desnecessário. Mas pode ser utilizado de outro modo em favor dos associados. A idéia é vender parte da área para quitar as dívidas e com o que sobrar ajudar os clubes amadores e profissionais. Federação não é para dar lucro.
Tribuna: Por que um secretário de Estado se dispõe a presidir uma entidade desacreditada e atolada em dívidas?
Iatauro: Assumir o cargo é um desafio. Me formei na vida através do futebol, como locutor. O futebol paranaense precisa resgatar sua credibilidade.
Tribuna: Por que defende o voto aberto nas eleições?
Iatauro: Nunca falei isso. Até porque ganho a eleição com voto aberto ou fechado. Ocorre que o estatuto permite à Assembléia decidir o modo da votação.
Tribuna: O presidente Hélio Cury o acusou de usar a máquina do governo para pedir votos. Como responde?
Iatauro: Não quero bater boca nem denegrir a imagem de ninguém. Mas não posso ser acusado se só sou candidato a partir de segunda-feira (hoje). Fiz uma interpelação judicial para que ele (Cury) confirme ou não essa acusação. Mas não acredito que tenha dito isso.
Tribuna: Os três grandes da capital serão representados em sua chapa?
Iatauro: Pode ser colocado algum (representante), mas isso não é planejado. Todos têm o mesmo potencial e o mesmo direito. Torço pelo Atlético, mas como dirigente represento todos. Assim como quero Federação apolítica, não haverá distinção entre este ou aquele clube.
Tribuna: Pensa em desinchar o Campeonato Paranaense?
Iatauro: Vamos sentar e analisar com os clubes. Eles é que sofrem as conseqüências de um campeonato com muitos times ou poucos times.
Tribuna: Considera justo o sistema de votação, que equipara as liga amadoras de pequenas cidades aos grandes clubes?
Iatauro: Sempre foi assim, desde a época do Marinoni, Generis Calvo, José Milani, Mota Ribeiro (ex-presidentes da FPF). E se eu for eleito, não acho honesto trair esse mesmo colégio eleitoral. Aliás, as ligas não precisam se preocupar se esse ou aquele candidato pensa em mudar o sistema. Só a assembléia tem esse poder, e as ligas têm a maioria na assembléia.
Tribuna: Sua chapa é composta por vários ex-dirigentes da FPF. Haverá algum resquício da era Moura?
Iatauro: Nos últimos 22 anos, quem lidou com o futebol, treinando, dirigindo ou na crônica esportiva, passou direta ou indiretamente pelo Moura. O próprio presidente atual foi duas vezes vice do Moura, e isso não é defeito, mas fruto de uma época. Reunimos na chapa gente de bem, sem distinguir se é ou não do Moura, deste ou daquele partido, cor ou religião.