#ForçaChape

Hora de seguir a vida. Mas não de esquecer a semana mais triste do futebol brasileiro

A missa de corpo presente para Caio Júnior, realizada no domingo (4). Ele é o exemplo de pessoa a ser seguida.

“A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar”. Quando Vinícius de Morais escreveu estes versos, não imaginou que eles serviriam para definir momentos dolorosos de nossas vidas. Principalmente o verso mais forte da canção “A Felicidade”, composta em parceria com Tom Jobim – “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. É como nos sentimos ao iniciar esta segunda-feira. A tristeza ainda não passou, e sei lá quando vai passar.

A cada conversa da semana passada, a cada imagem da TV, a cada novo fato que surgia, o gosto amargo vinha na boca. Era a dor de ter vivido a agonia que tomou o Brasil como um vendaval. Não houve quem não ficasse abalado com o trágico acidente aéreo com a delegação da Chapecoense. Morreram 71 pessoas, partiram 19 jogadores, toda uma comissão técnica, quase toda a cúpula do clube, e ainda vinte jornalistas. O maior desastre já ocorrido com uma equipe de futebol. A maior tragédia já vivida pela imprensa brasileira.

Por isso o choro de profissionais experimentados como vimos nos últimos dias. Por isso a tristeza latente mesmo em quem não gosta de futebol e talvez nem soubesse que havia um time em Chapecó, que o treinador do time era radicado em Curitiba e que existia a Copa Sul-Americana. Foi uma semana dura, em que todos carregaram um peso maior que nossos corpos, o peso da dor que machucou um país inteiro.

O sofrimento de cada família nos atingiu em cheio. Como não se comover com a esposa de Thiaguinho, que acabou de saber que estava grávida? Ou com a noiva de Dener Assunção, que tinha casamento marcado para a última sexta-feira? Ou o narrador Gerson Galeotto, que pediu para viajar a Medellín para ter a oportunidade de fazer uma transmissão histórica? E Deva Pascovicci, um gigante da comunicação, que venceu o câncer duas vezes?

Mas dessa dor surgiram também pessoas que nos ensinaram que é possível ser grande em qualquer momento. Matheus, o filho de Caio Júnior que não pôde embarcar pois estava sem passaporte, mas que tomou as rédeas da família com um desassombro impressionante. Ou o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, outro que perdeu o voo, mas que mesmo a ponto de desabar a qualquer momento reuniu forças para gerir um gabinete de crise.

E dona Ilaídes Padilha, a mãe do Brasil. Ela perdeu Danilo, seu filho de ouro. Teve ainda que passar por um dia de cão por conta das informações desencontradas sobre o goleiro. Mesmo assim, mostrou-se uma fortaleza de amor e de solidariedade. As lágrimas dela eram nossas. E quando nós chorávamos, ela também tinha uma palavra de carinho. Ela consolava e era consolada. No auge da dor, dona Ilaídes esqueceu a própria para dar colo ao repórter Guido Nunes, do SporTV. Os dois choraram. O Brasil chorou.

Que desta tragédia que ainda não saiu da nossa cabeça surja um esporte melhor. Que sejamos mais o Atlético Nacional homenageando a Chape, mais Puyol e Tite, que largaram um Real Madrid x Barcelona para estarem no velório coletivo, mais San Lorenzo, Saint-Etienne, Cavani, Alex Sandro, Marcelo, San Antonio Spurs. Que sejamos mais respeito. Que sejamos mais esporte.

Que sejamos mais Caio Júnior. Que em homenagem a ele sejamos mais tolerantes, mais corretos, mais éticos, mais pacíficos. Que valorizemos mais o que temos de bom, que saibamos aplaudir quem merece. A tragédia deixou lendas, deixou heróis, deixou exemplos. Nosso dever é honrar as lendas, lembrar os heróis, seguir os exemplos. Mesmo que a tristeza não tenha fim, e a felicidade sim.

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