A proximidade da aposentadoria de Rogério Ceni, marcada para dezembro, pelo menos até segunda ordem, acirra a disputa pelo gol do São Paulo desde já. Os dois reservas imediatos – Denis e Renan Ribeiro – já se preparam para a espinhosa missão de substituir um dos maiores ídolos da história do clube.

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Denis está há mais tempo na estrada. No São Paulo desde 2009, ele é o goleiro que mais substituiu Rogério Ceni. Foram 88 jogos, cinco em 2014 e um neste ano. Seu ano mais marcante foi exatamente o da estreia. Foi titular da na maior parte da Copa Libertadores, com 11 jogos seguidos.

Em fevereiro, Denis foi submetido a uma cirurgia no ombro direito. O período mais difícil do processo que já dura quase seis meses foi o início, quando decidiu a operação. A decisão foi tomada em fevereiro, em uma reunião com a presença até do presidente do São Paulo. Naquele momento, o cenário era a aposentadoria de Rogério Ceni no mês de agosto. Com isso, Denis seria operado e voltaria a tempo de assumir a camisa 1, no começo do segundo semestre.

O cenário mudou: Rogério Ceni renovou o contrato e continua até dezembro. O próprio Denis reconhece que a renovação do titular deu mais tempo para que se recuperasse com tranquilidade. Ele já voltou a treinar com bola e deve ser totalmente liberado ainda na primeira quinzena de setembro. “Se o Rogério parasse em agosto, eu seria muito mais pressionado”, disse. “Estou 100%, sem dores e me sinto melhor que antes fisicamente. Espero ter uma chance de jogar ainda este ano”.

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Embora tenha dado tempo para a recuperação, a renovação de contrato de Rogério Ceni curiosamente abriu espaço para novos competidores. Em um momento raro de sua carreira, Ceni sofreu uma lesão muscular e ficou fora de três partidas (Goiás, Ceará e Flamengo). Como Denis ainda não estava pronto, Renan Ribeiro assumiu o posto. Revelado na base do Atlético Mineiro, foi o dono do gol entre 2010 e 2012 com 90 partidas. Em 2013, o arqueiro de 25 anos chegou ao São Paulo. “Quando entrei por aquela portaria, eu disse que estava começando a escrever uma nova história na minha carreira”, disse Renan, no CT do São Paulo.

No São Paulo, sua vez chegou exatamente neste ano. Já atuou seis vezes e, por isso, suas atuações como substituto de Ceni estão mais frescas na memória do torcedor. “Ele segurou bem esse momento”, disse o preparador de goleiros Haroldo Lamounier.

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A decisão final ainda é prematura, coisa para janeiro. O próprio Denis afirma que não é possível cravar que Rogério Ceni vai se aposentar mesmo. “Faz três anos que eu ouço que o Rogério vai se aposentar”, brincou o reserva.

Pessoas ligadas à comissão técnica afirmam que há uma preferência por Denis por causa de sua trajetória. “Ele está há mais tempo na fila”, diz um membro da comissão técnica. “É uma disputa acirrada. Os dois terão as mesmas oportunidades de mostrar o potencial de cada um”, disse Lamounier.

O preparador afirma que é pouco provável que o rodízio de atletas, um dos pilares da filosofia do técnico colombiano Juan Carlos Osorio, seja adotado com os goleiros. “O Osorio tem uma base e não mexe muito nela. Ela é constante. Acredito que o goleiro vá fazer parte dessa base”.

A aposentadoria de um grande goleiro é um momento delicado para qualquer clube. O Corinthians teve problemas quando Ronaldo saiu em 1998 depois de 10 anos. O mesmo aconteceu quando o Palmeiras perdeu Marcos em 2012. E esses traumas não são coisas do futebol de hoje. Waldir Joaquim de Moraes sofreu quando substituiu a lenda Oberdan Cattani, no Palmeiras de 1958. “A gente não substitui um grande ídolo. A gente só tenta escrever outra história”, contou Waldir. “O segredo é jogar bem”, simplificou o veterano de 83 anos.

ZETTI – O ex-goleiro Zetti conhece bem a situação vivida pelos reservas Denis e Renan Ribeiro. Sua perspectiva, no entanto, é outra. Antes de Rogério Ceni assumir o gol do São Paulo em 1996, Zetti era o titular. Foram seis anos até que o veterano se transferisse para o Santos e Rogério assumisse o posto de titular.

O ex-goleiro afirma que existe uma diferença fundamental entre a trajetória de Rogério Ceni e o momento atual dos herdeiros: o Expressinho do São Paulo. Esse era o nome do time B do São Paulo que disputou e conquistou vários títulos, entre eles, o título da Conmebol em 1994. “O Rogério foi sendo lapidado em vários momentos importantes”, disse Zetti.

O problema da sucessão também esteve presente em outros momentos da história do São Paulo. O ex-goleiro Waldir Peres explica que o São Paulo teve dificuldades para encontrar um substituto quando ele próprio parou em 1984. Depois de várias tentativas, só Gilmar Rinaldi, hoje coordenador de seleções da CBF, conseguiu se firmar.

Ao comentar a transição atual, Zetti afirma que o titular não pode se preocupar em ser melhor que o Rogério. Para ele, querer bater faltas ou cobrar pênaltis, na tentativa de imitar Rogério Ceni, que tem 131 gols na carreira, pode ser um erro. As comparações não fazem bem, em sua opinião. O ex-goleiro também acredita que o desempenho de qualquer goleiro está ligado ao do time. “Um goleiro depende da equipe. Se o time está bem, o goleiro tem mais chances de obter sucesso”, disse o bicampeão mundial de clubes (1992 e 1993) e campeão mundial (1994).

Outro segredo para superar um grande nome são as conquistas. “Um ídolo é feito de títulos”, avaliou. “Tivemos o Waldir, Gilmar, eu e o Rogério, cada um com suas características, mas com algo em comum: os títulos conquistados”, disse o ex-goleiro, hoje com 50 anos.