A importância de Franca para o basquete está personificada nos títulos que são exibidos com orgulho em painéis no teto do ginásio Pedrocão. A rica história da equipe está intrinsecamente ligada à família Garcia. Hélio Rubens, 76 anos, só não esteve em uma dessas conquistas, seja como jogador ou técnico. O filho, Helinho, de 41, foi campeão quatro vezes em quadra e, nesta temporada, assumiu o posto que o pai ocupou por 24 anos. Em seu primeiro ano, o ex-armador levou um time desacreditado, e de folha salarial de R$ 95 mil mensais – valor que o Flamengo paga de salário somente a Marquinhos -, ao terceiro lugar no Paulista e a brigar pelo título no NBB.
O segredo? A tradição do estilo de jogo de defesa forte empurrado por um ginásio pulsante que Helinho aprendeu com o pai. “Foi um legado que eu recebi ao longo dos anos ao seu lado. É uma lição que compartilhei com os jogadores. Independentemente de ganhar ou perder a partida, temos de jogar com a cara de Franca. Temos de fazer o torcedor voltar aqui no jogo seguinte”, afirmou Helinho. “O que me dá motivação é manter esta tradição do Franca. Os títulos podem não vir, mas não podemos abrir mão deste legado.”
Ao lado do filho, Hélio Rubens busca histórias no passado, mesmo que a memória o traia algumas vezes e ele conte fatos repetidos sem perceber, para se dizer orgulhoso. “Helinho é inteligente, aprendeu bem. Está preparado”, ressalta.
A preparação começou muito antes de se aposentar em 2015. “Nos últimos anos de carreira como jogador, estava me estruturando psicologicamente, taticamente até, olhando detalhes que o atleta que quer ser técnico tem de olhar em quadra.”
Em um primeiro momento, Helinho se tornou dirigente de Franca. Nesta função, o ex-armador viajou aos Estados Unidos para 20 dias de estágio no Golden State Warriors. “Acompanhei dia e noite o melhor time do momento. Aquilo serviu para me dar confiança, ver como deveria ser feito, trocar ideias com pessoas que estão no mais alto nível do basquete.”
O passo seguinte foi dado pelo presidente do Franca, Luis Prior. Ele antecipou o desejo de Helinho e também o do então técnico Lula Ferreira, que queria migrar para o cargo de dirigente em dois anos. “Helinho é carismático, um profundo estudioso, conhecedor, intenso no trabalho.”
Apesar de ouvir os conselhos do pai e tê-lo no ginásio nos jogos, Helinho demonstrou personalidade ao seguir sozinho, segundo Prior. “Não ficou qualquer dúvida de quem era o treinador. Foi um casamento perfeito”, pontua.
A tradição da família Garcia pesou na decisão. Após viver um momento difícil em 2015, quando quase encerrou as atividades por falta de dinheiro, Franca tinha de recuperar sua identidade. Em mais de meio século de existência, o clube teve cinco treinadores – Helinho é o sexto -, sendo que apenas Lula Ferreira era de fora da cidade.
Helinho era o cara certo, na hora certa. “Franca é um lugar místico em relação ao basquete. É uma coisa passada de geração para geração. A nossa família se orgulha de fazer parte desta história, juntamente com tantas pessoas que deram sua contribuição. Tudo isso faz de Franca uma referência.”
Hélio Rubens lembra com carinho da história que começou com o avô de Helinho. “Aprendi com o meu pai, com os colegas dele, pude ter oportunidade de participar diretamente e repassar isso para os outros, particularmente ao Helinho. A tradição é mantida e não há similar no mundo inteiro.”
COMPETITIVO – Além do jogo baseado na defesa, Helinho embutiu no grupo o desejo por vitórias. “É um time extremamente jovem, mas comprometido, disciplinado e focado.” A equipe ocupa o quinto lugar do NBB com 15 vitórias e nove derrotas, restando quatro jogos para o fim da fase inicial. Dos times que brigam no alto da tabela, Franca bateu Flamengo, Brasília, Bauru e Vitória. “O caminho é longo, mas estamos indo para o lugar certo. Seguindo com o nosso comprometimento, conceitos e disciplina, vamos alcançar nossos objetivos.”